sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Porque desisti de ser evangélico


Desisti de ser evangélico porque o discurso da referida religião é calcado antes no NÃO do que no SIM, cerceando a liberdade humana até nada mais restar senão uma vida não marcada, mas infectada por uma religiosidade doentia e alienante.

Desisti de ser evangélico porque as massas crentes se movimentam para “marchar para Jesus”, quando, na verdade, os tais movimentos com este nome tem somente o objetivo demagogo de favorecer lideranças corruptas e angariar votos para políticos incapazes que não governam para o povo, mas para suas placas denominacionais, para seus interesses regionais escusos.

Desisti de ser evangélico porque a mentalidade evangélica é restrita, seu raciocínio é defeituoso, sua moral é ultraconservadora e míope, favorecendo criminosos, não se escandalizando com os exagerados apelos financeiros, mas excluindo e condenando aqueles que tropeçam nos caminhos da vida pela simples razão de serem humanos.

Desisti de ser evangélico porque a fé é descrita em termos intelectuais e antiintelctuais de uma só vez. A cultura, como um todo, é condenada e descrita como profana, mas os conteúdos daquilo que os crentes entendem como sendo o “conhecimento salvador” baseiam-se não num encontro com Cristo, mas no absorver e aceitar passivamente elementos contraditórios, sob o risco de, ao questionar ou raciocinar, ser condenado ao inferno.

Desisti de ser evangélico porque, de uma só vez, os crentes declaram ser Deus o Criador do Mundo e, num outro momento; afirmam ser o diabo seu atual regente. E, ao fazerem isso, fazem da suposta rebelião no céu do lendário anjo perfeito, vitoriosa na Terra.

Desisti de ser evangélico porque é justamente este movimento que tem sacralizado o dinheiro, afirmando que podemos possuir quanto quisermos do vil metal sem incorrer em pecado. É este movimento que julga pessoas por seus triunfos financeiros, atribuindo as riquezas a Deus, fazendo do Criador um banqueiro ou até mesmo um agiota, colocando na boca do Cristo as palavras do diabo “tudo isso (poder, glória e dinheiro) se, prostrado, me adorares”. Dessa forma, criam um outro evangelho, negando o que é natural pelo que é artificial.

Desisti de ser evangélico porque, como disse acima, o amor que o dinheiro gera em nós, as prioridades que ele cria em sua ausência ou presença, é raiz de toda dor e maldade. A igreja, ícone máximo do capitalismo selvagem, massacra o mundo e se alia ao sistema que crucificou o Cristo, incorrendo assim no mesmo pecado dos líderes judeus e romanos, tornando-se participantes no mesmo crime e ainda pior, pois usurpam o Nome Daquele que deveria ser seu Amigo Maior.

Desisti de ser evangélico porque a ditadura, essa praga que tantos destruiu e matou no Brasil e no mundo, continua viva no seio das igrejas evangélicas. Os pastores e líderes em geral, cercam-se do título de “ungidos” para evitar questionamentos. Atribuindo a si mesmos um poder sobrenatural, postam-se como interpretes máximos das Escrituras, impondo suas visões sobre os homens e atribuindo aqueles que não aceitam aposentar seus cérebros os títulos de “hereges”, de “falsos profetas”; retornando assim aos tempos sombrios que antecederam a Reforma.

Desisti de ser evangélico porque ela se tornou reduto de artistas sem talento, fracassados, que, sem público, encontram nas fileiras de crentes pelo Brasil um público ávido pelo consumo e completamente desprovido de senso crítico.

Desisti de ser evangélico porque o exclusivismo evangélico é radicalmente diferente do exclusivismo de Jesus Cristo. Enquanto o autor do Quarto Evangelho afirma que o Logos é a “luz verdadeira que ilumina todo homem que vem ao mundo” e, outra vez, diz “Nele estava à vida e a vida era a luz dos homens”. Toda vida, é vida de Deus.Toda Verdade, é verdade de Cristo, seja ela qual for, abranja ou se manifeste ela onde for.Os arraiais evangélicos engaiolaram a verdade e, ao fazer assim, ficaram sem ela.

Desisti de ser evangélico porque há muito tempo, os pastores deixaram de alimentar ovelhas para entreter bodes, como disse Charles Spurgeon, o príncipe dos pregadores.

Desisti de ser evangélico porque, embora se afirmem cristãos, Jesus Cristo é a figura menos pregada e lembrada em seus cultos e programas. Eu desafio os questionadores: ligue o rádio, vá a um culto em qualquer igreja neste domingo. Os nomes e campanhas giram todos em torno dos nomes de Davi, Gideão,Salomão; homens cujas vitórias podem inspirar ou encorajar aqueles que, enganados pela doutrina da prosperidade, esperam apenas os triunfos deste mundo. Os evangélicos têm vergonha e envergonham o Nome de Cristo.

Desisti de ser evangélico porque eles não estão interessados nos textos bíblicos, em suas verdades ou em sua sabedoria, ainda que a rotulem de “Palavra de Deus”. Este título tem, na verdade, o intuito de fazer dela regra inflexível mas distorcida ao bel prazer de seus líderes. Incapazes de torná-la atraente, já que ela não é nem ao menos para eles, mercadejam a palavra, encapando-a e materiais de luxo, torcendo-a para fazê-la ajustar aos seus temas, sejam eles os mais absurdos. Temos Bíblias para mulheres, para adolescentes, com dicas de saúde, sobre batalha espiritual e vitória financeira, etc. O conteúdo não importa. Importa vender.

Desisti de ser evangélico porque, embora se afirmem irmãs, as igrejas amontoam-se nas rádios e ruas, às vezes parede a parede, dizendo-se todas pregadoras do evangelho. Já faz muito tempo que o evangelho é “anunciado” de crente para crente. Lembro-me de participar certa feita de um batismo em certa igreja onde dez pessoas desceram as águas, enquanto mais de cem novos membros eram recebidos:todos de outras igrejas. Não obstante, a ética apostólica era outra, esforçando-se em anunciar Cristo onde Seu Nome não fosse ainda anunciado, afim de não edificar sobre fundamento alheio. Romanos 15:20-21.

Desisti de ser evangélico porque a igreja evangélica é irrelevante em termos sociais. Não vemos movimentos evangélicos por reformas, por justiça. No entanto, os líderes e crentes gostam de afirmarem-se trabalhadores incansáveis nas cadeias, nos asilos, incapazes de fazer uma avaliação crítica de seu trabalho, não contando cabeças como gado, mas verificando quantos tem, de fato, absorvido os valores do Reino. Embora a igreja devesse ser o “sal da terra”, tem crescido juntamente com o aumento da criminalidade e da violência. E da impunidade.

Desisti de ser evangélico porque o amor é tema raro nos cultos e na prática. Quando deixei o ministério Renascer, os amigos todos que tinha deixaram-me de lado, ignorando completamente as razões de minha saída, os sofrimentos pelos quais passava. Importa aos grupos evangélicos garantir seu poderio, por isso os hereges são acusados de satanismo, manipulação, imoralidade. Fui vítima, sei como é. O amor de um evangélico é determinado por aqueles que ditam as regras de sua norma salvadora. Os que estão fora de seu “círculo santo” são imundos.

Desisti de ser evangélico porque os primeiros cristãos morreram em nome de Cristo, mas hoje, néscios têm estado prontos para morrer em nome de organizações, de líderes corruptos, como se, por acaso, Jesus esperasse isso deles.

JESUS NÃO EDIFICOU UMA ORGANIZAÇÃO COM NORMAS E “VISÕES”. MAS UMA ORGANIZAÇÃO, SUPOSTAMENTE FUNDADA PELOS DEUSES FOI RESPONSÁVEL POR SUA MORTE.

Desisti de ser evangélico porque toda arte produzida por não crentes é tratada como demoníaca, negando a própria doutrina evangélica que diz ser o homem Imagem de Deus. Isso por que a arte, toda arte, estimula a mente, irriga o coração, fortalece o senso crítico. Mas, na verdade, essa não á a razão maior ainda. Ao convencer pessoas de que a “música do mundo” é demoníaca, sobra espaço (e dinheiro) para os medíocres artistas evangélicos lançarem suas produções baratas todo ano. O mesmo se diz dos livros, todos de péssima qualidade.

Desisti de ser evangélico porque Deus louvou sua criação a cada momento, deliciando-se no que produzia, afirmando ser bom, mas as mentes cauterizadas dos crentes dividem o mundo entre “de Deus” e “do diabo”, negando que “do Senhor é a Terra e toda Sua plenitude”. Salmo 24:1.

Desisti de ser evangélico porque os crentes são assexuados. “O sexo é uma benção”, dizem alguns, para depois emendar: “dentro do casamento”. Sendo assim, negam a primeira afirmativa, fazendo do prazer, da libido, concessão e não dom. Os crentes temem o poder do sexo, por isso militam contra a natureza, inventando doutrinas e atando fardos sobre os ombros dos homens que nem eles nem seus pais foram capazes de carregar. Fazem do sexo uma desgraça e uma vergonha, deixando de lado textos como Gênesis 24:67 que, longe de atribuir normas ao prazer, o recebe e celebra não só como prazer mas como consolo. A fobia sexual dos crentes faz com que os “pecados sexuais” tenha maior peso do que todos os outros.

Jovens são, em pleno século vinte um, envergonhados e excluídos de suas igrejas e afazeres por conta de uma interpretação duvidosa do que seria a palavra “fornicação”. Um exemplo prático:o pregador Caio Fábio era incensado pelos crentes do país inteiro, até cometer adultério. Ainda hoje, Caio é tratado como “caído”, enquanto o Bispo Macedo, que foi preso e filmado em situações constrangedoras e comprometedoras é celebrado como santo e homem de Deus, e sua empresa é chamada de igreja, até pelos oponentes.

Desisti de ser evangélico para garantir a salvação de minha alma, não de um inferno eterno e sem esperança, invenção de homens fraudulentos, mas de uma vida indigna dAquele que aceitou a morte de cruz por mim e por cada homem.

Alex Rodrigues Ferreira

Fonte: http://www.emeurgencia.com/

Um comentário:

_adsoN disse...

Rapaz, parabéns.
Muito bom o texto, continue assim, com sua voz, publicado o repúdio que lhe vem a garganta, desprezo por um sistema pseudo-cristão, capitalista, selvagem, impiedoso e inescrupuloso.
Deus esteja contigo todos os dias da tua vida.