sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A Falta de Avivamento Pessoal - Richard Baxter


Eu não sei o que os outros pensam, mas da minha parte, me envergonho de minha ignorância, e me admiro de mim mesmo, porque não tenho tratado as almas dos outros e da minha como almas que esperam o grande dia do Senhor; e porque tenho espaço para quase qualquer outros pensamentos e palavras; e porque tais assuntos assombrosos não tomam completamente minha mente. Admiro-me de como posso pregar sobre isto desapaixonadamente e descuidadamente; e como posso deixar os homens sozinhos em seus pecados; e como não vou atrás deles, rogando-lhes, pelo amor do Senhor, que se arrependam, não importa a forma que recebam a mensagem, e qual seja a pena e dor que custem a mim.

Muito poucas vezes saio do púlpito sem que minha consciência me golpeie por não ter sido mais fervoroso e sério. Ela não me acusa tanto pela falta de ornamentos e elegância, nem por deixar passar uma palavra errada; mas me pergunta “Como você pode falar de vida e da morte com um coração assim? Como pode pregar sobre o céu e o inferno de uma forma tão relaxada e descuidada? Crê no que disse? Leva a sério ou embroma? Como pode dizer às pessoas que o pecado é algo assim, e que tanta miséria está sobre elas e diante delas, e não ser mais afetado com isto? Você não deveria chorar sobre pessoas assim, e não deveriam tuas lágrimas interromper suas palavras? Você não deveria clamar em alta voz, e mostrar a eles suas transgressões, e implorar a eles e rogá-los como uma questão de vida e morte?

E, por mim mesmo, como estou envergonhado do meu coração descuidado e torpe, e do meu modo de vida inútil e lento, assim como, o Senhor sabe, estou envergonhado de cada sermão que tenho pregado; quando penso sobre o que estou falando, e quem me enviou, e que a condenação e salvação dos homens é completamente relacionada nEle, estou preste a tremer por temor de que Deus me julgará como um mau administrador de Suas verdades e das almas dos homens, e imagino que no meu melhor sermão eu seja culpado pelo sangue deles. Penso que não devemos falar qualquer palavra aos homens, em assuntos de tamanhas conseqüências, sem lágrimas ou com a maior seriedade que possamos alcançar; já que somos tão culpados do pecado que reprovamos, deveria ser dessa forma.

Verdadeiramente, este é o tinir da consciência que soa em meus ouvidos, e apesar disso, minha alma sonolenta não quer ser despertada. Oh! Que coisa é um coração endurecido e insensível. Oh, Senhor, salva-nos da praga da infidelidade e da dureza de coração de nós mesmos! Como poderíamos ser instrumentos aptos para salvar os outros do erro? Oh, faz em nossas almas aquilo que Tu nos usaria para fazer nas almas dos outros.

Duas Espécies de Justiça – Martinho Lutero


“Sermo de duplici iustitia, 1519”


O sermão sobre as duas espécies de justiça é uma amostra das tentativas de Lutero no sentido de comunicar ao povo as verdades redescobertas nas obras do apóstolo Paulo e Santo Agostinho. Não se sabe ao certo quando Lutero proferiu o sermão. O texto da Epístola aos Filipenses 2.5-8 sugere o Domingo de Ramos de 1518 ou 1519. Publicado pela primeira vez em 1519, na casa editora de Johann Grünenberg.

Irmãos, “tenham em vocês o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele subsistindo em forma de Deus não julgou como usurpação o ser igual a Deus”. (Filipenses 2.5s)

A justiça dos cristãos é de duas espécies, como é de duas espécies o pecado dos homens.

A primeira espécie provém de outra pessoa e é concedida de fora. É a justiça mediante a qual Cristo é justo e justifica pela fé, como diz 1 Coríntios 1.30. "...o qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção". Ele próprio afirma, em João 11.25: "Eu sou a ressurreição e a vida: quem crê em mim, não morrerá eternamente." E novamente, João 14,6: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" Esta justiça, portanto, é concedida aos homens no batismo, e, em toda época de verdadeira penitência, resulta que o ser humano pode gloriar se, com toda confiança, gloriar-se em Cristo e dizer.: É meu tudo o que e de Cristo: sua vitória seus feitos, o que disse e sofreu, sua morte - corno se eu próprio tivesse vencido, feito, dito, sofrido tais coisas e tivesse sido morto. Pertence ao noivo tudo o que a noiva possui, e à noiva pertence tudo o que o noivo possui (pois todas as coisas lhes são comuns visto serem em comum, uma vez que são uma só carne). Assim também Cristo e a igreja constituem um só espírito. Foi assim que o bendito Deus e Pai das misericórdias, conforme São Pedro nos concedeu coisas excelsas e preciosas em Cristo. Da mesma forma, na Segunda Epístola aos Coríntios: “Bendito seja o Deus e Pai do Nosso Senhor Jesus Cristo pai das misericórdias e Deus de toda consolação” (1.3) “que tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo”. (Efésios 1.3)

Esta bênção indizível foi prometida outrora a Abraão em Gênesis 12.3: "Na tua semente (isto é, em Cristo) serão abençoadas todas as tribos da terra." Em Isaías 9.6: "Um menino nos nasceu, um filho se nos deu." "A nós" diz ele, porque é a nós que pertence todo ele, com todos os seus bens, se nele cremos, como diz aos Romanos no capítulo 8.32: "Não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou; porventura, não nos dará com ele todas as coisas?" São nossas, portanto, todas as coisas que Cristo tem, concedidas que foram gratuitamente a nós homens indignos, por pura misericórdia, quando, na verdade, teríamos merecido ira e condenação, bem como o inferno, Por essa razão também o próprio Cristo, que afirmou ter vindo para cumprir essa vontade santíssima do Pai, tornou-se obediente a ele, e fez em nosso benefício e quis que fosse nosso tudo o que fez, pois declarava: “Eu estou no meio de vocês como alguém que serve” (Lucas 22.27), e novamente: “Este é meu corpo, que é dado por vós” (Lucas 22. 19); e Isaías diz no capítulo 43.24: “Fizeste-me servir em teus pecados, e me deste trabalho em tuas iniqüidades”.

Pela fé em Cristo, portanto, a justiça de Cristo se torna nossa justiça, e, com ela, é nosso tudo que é de Cristo, sim, ele próprio torna-se nosso, Por essa razão, o apóstolo a chama "justiça de Deus", na Epístola aos Romanos 1.17: "A justiça de Deus é revelada no evangelho, como está escrito: o justo vive da fé!" E mais: Refere-se à fé como sendo tal Justiça. Finalmente semelhante fé também é chamada de justiça de Deus, no capítulo terceiro da mesma carta: "Concluímos que o homem é justificado pela fé." (Romanos 3.28). Esta é a justiça infinita e que absorve todos os pecados num instante, pois é impossível que haja pecado em Cristo; antes, quem crê em Cristo, está apegado a ele, e é uma coisa só com Cristo, compartilhando com ele a mesma justiça. Por isso é impossível que nele continue havendo pecado. E essa justiça é a primeira, é o fundamento, causa, origem de toda justiça própria ou de conduta. Porque de fato a mesma é concedida em lugar da justiça original, perdida em Adão, e realiza aquilo, sim, muito mais do que aquela justiça original teria conseguido realizar.

Assim se compreende aquilo no Salmo 31.1: "Em ti, Senhor, me refugio; não seja eu jamais envergonhado: livra-me por tua justiça"; ele não diz “por minha”, mas “por tua”, isto é, pela justiça de Cristo, meu Deus, que foi feita nossa pela fé, pela graça, pela misericórdia de Deus. E isso é chamado, em muitos lugares no saltério, de obra do Senhor, confissão, força de Deus, misericórdia, verdade, justiça. Tudo isso são designações para a fé em Cristo, sim, para a justiça que está em Cristo. Por essa razão o apóstolo ousa dizer em Gálatas 2.20: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”, e em Efésios 3.17: “Que ele vos conceda que Cristo habite pela fé em vossos corações”.

Essa justiça alheia, portanto, infundida em nós sem atos nossos, somente pela graça, ou seja, quando o Pai nos leva interiormente a Cristo, essa justiça alheia é oposta ao pecado original, o qual, de forma semelhante, contraímos de fora por nascença e através de nossa concepção, sem atos nossos. E assim Cristo expulsa o velho Adão dia a dia, mais e mais, e nessa medida crescem aquela fé e conhecimento de Cristo; pois ela não é infundida toda de uma vez, mas começa e progride e é levada finalmente à perfeição com a morte.

A segunda justiça é nossa e própria; não porque nós a operamos sozinhos, mas porque cooperamos com aquela primeira e alheia. Esta é agora aquela boa vivência de boas obras: em primeiro lugar na mortificação da carne e na crucificação da concupiscência em si mesmo, conforme Gálatas 5.24: "Mas os que são de Cristo, crucificaram sua carne, com as paixões e concupiscências." Em segundo lugar também no amor ao próximo; em terceiro, também na humildade e no temor a Deus, do que está repleto o apóstolo e toda a Escritura. Mas ele resume tudo em Tito 2.12 dizendo: “Sobriamente” (isto é, em relação a si mesmo, pela crucificação da carne), “justamente” (ou seja, em relação ao próximo) “e piedosamente” (em relação a Deus) “vivamos neste século”.

Essa segunda justiça é obra da justiça anterior, fruto e conseqüência da mesma, conforme Gálatas 5.22: "Mas o fruto do Espírito (isto é, do homem espiritual, que ele se torna através da fé em Cristo) é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade", etc. Pois o homem espiritual é chamado de "espírito", nessa passagem, porque é evidente que aqueles frutos são obras dos homens. E João 3.6: "0 que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido do Espírito, é espírito." Essa justiça leva à perfeição a primeira, porque sempre atua no sentido de arruinar o velho Adão e destruir o corpo do pecado: por isso ela se odeia a si mesma e ama o próximo, não procura o que é seu, mas o que é do outro, e nisto consiste toda a sua atuação. Pois ao odiar a si mesma e não procurar o que é seu, ela efetua em si a crucificação da carne; porém, ao procurar o que é do outro, ela opera a caridade; e, assim, com ambas as coisas ela faz a vontade de Deus, vivendo "sobriamente" em relação a si mesma, "justamente" em relação ao próximo, e "piedosamente" em relação a Deus.

E nisso ela segue o exemplo de Cristo e se identifica com a sua imagem. Pois isto mesmo também Cristo exige: Assim como ele próprio tudo fez em nosso favor, não procurando o que é seu, mas apenas o que é nosso, também nisso obedientíssimo a Deus Pai, assim ele quer que também nós mostremos este exemplo frente aos nossos semelhantes.

Essa justiça é contraposta ao nosso próprio pecado real, conforme Romanos 6.19: "Assim como ofereceram seus membros para a escravidão da impureza, e da maldade para a maldade, assim ofereçam agora seus membros para servirem a justiça para a santificação." (Romanos 6.19). Portanto se levanta pela primeira justiça a voz do noivo que diz à alma: "Eu sou seu", e pela segunda, a voz da noiva, que diz: "Eu sou sua"; está feito então o matrimônio firme, perfeito e consumado, como consta no Cântico dos Cânticos: Meu amado é para mim, e eu para ele, o que quer dizer, "meu amado é meu, e eu sou dele". (Cantares 2.16). Então a alma não procura mais ser justa perante si mesma, mas tem como sua justiça a Cristo; daí ela procura apenas o bem dos outros. Por isso o senhor da sinagoga ameaça através do profeta tirar dela a voz da alegria, a voz do no noivo e a voz da esposa Jeremias 7.34).

Isto é o que diz o tema anteposto: “Tenham em vocês o mesmo sentimento etc” (Filipenses 2.5); isto é, que tenham a mesma atitude e sentimento um para com o outro como vêem que Cristo os teve em relação a vocês. Como isto? "Ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, etc." A forma de Deus não é chamada aqui de essência de Deus, porque desta Cristo nunca se despojou; de igual modo também a "forma de servo" não pode ser chamada de essência humana; e sim, "forma de Deus" é sabedoria, poder, justiça, bondade, e ainda liberdade, assim como Cristo foi um homem livre, forte, sábio, sujeito a ninguém, nem ao vício nem ao pecado, como são todos os seres humanos (pois ele era superior naquelas formas que cabem principalmente a Deus). Mesmo assim ele não se ensoberbeceu desta qualidade, não agradou a si mesmo, tampouco se enfastiou com os outros nem desdenhou os que eram servos e estavam sujeitos a diversos males, como aquele fariseu que disse: "Graças te dou, que não sou como as outras pessoas" (Lucas 18.11), que se alegrava com o fato de os outros serem miseráveis, não querendo de forma alguma que eles fossem semelhantes a ele. Essa é a usurpação que a pessoa se arroga, sim, com a qual ela guarda o que tem e não o atribui exclusivamente a Deus (a quem pertencem esta coisas), nem serve aos outros com as mesmas, para fazer-se igual aos outros. Assim querem ser como Deus, suficientes em si mesmos, autocomplacentes, gloriando-se a si mesmos, sem dever nada a ninguém, etc. Cristo, porém, não teve esta atitude, não é assim que ele foi "sábio", e sim, aquela forma divina ele a atribuiu ao Pai, e se esvaziou a si mesmo, não querendo utilizar aqueles títulos frente a nós, não querendo ser diferente de nós; sim, antes ele se tornou para nós como um de nós e aceitou a forma de servo (isto é, sujeitou-se a todos os males). Mesmo sendo livre, como também diz o apóstolo (1 Coríntios 9.19), se fez servo de todos, não agindo de outra forma senão como se fossem seus todos esses males que eram nossos. Por isso ele tomou sobre si nossos pecados e castigos e agiu de forma tal que os vencesse como que para si mesmo, sendo que na realidade ele os venceu para nós. Com respeito a nós, ele poderia ser nosso Deus e Senhor. Ainda assim não o quis, mas preferiu tornar-se nosso servo, como diz Romanos 15.11,3: "Não devemos agradar a nós mesmos", pois também Cristo não se agradou a si mesmo. Mas, como está escrito, "as injúrias dos que te ultrajam caem sobre mim" (Salmo 69.9), que expressa o mesmo que a sentença acima.

Daí sucede que essa autoridade que muitos entendem como afirmação, deve ser compreendida de forma negativa, ou seja: Cristo não se julgou igual a Deus, isso é, não quis ser igual, como acontece com aqueles que o tomam para si, que dizem a Deus: "Se não deres (como diz Bernardo) a mim a tua glória, eu mesmo dela me apossarei" A frase "não julgou como usurpação o ser igual a Deus" não deve ser entendida como afirmativa no sentido de que ele não julgou ser igual a Deus; isto é: não teria julgado usurpação ser igual a Deus: porque esta sentença não faz sentido adequado, pois fala de Cristo como pessoa humana. O que o apóstolo quer é que cada cristão se torne servo do outro, a exemplo de Cristo. E se alguém possui alguma sabedoria ou justiça ou poder, através do que ele poderia superar os outros e gloriar-se como se fosse deiforme, esse não deve tomar isto como seu, mas atribuí-lo a Deus. De modo geral, deve despir-se dessas qualidades e comportar-se como um daqueles que não as têm, para que cada um, esquecido de si mesmo e despojado dos dons de Deus, aja com seu próximo como se fosse sua própria a fraqueza, o pecado e a ignorância do próximo; não se glorie, nem se ufane, nem desdenhe, nem triunfe contra aquele, como se fosse seu Deus e igual a Deus; uma vez que se deve deixar isso somente para Deus, semelhante soberba leva à "usurpação". Assim, portanto, é compreendida a "forma de servo" e se cumpre aquilo que o apóstolo escreve em Gálatas 5.13: "Sejam servos uns dos outros, pelo amor." E em Romanos 12.4s e 1 Coríntios 12.12ss ele ensina, pela semelhança dos membros do corpo, como os membros fortes, honestos e sãos não se ensoberbecem frente aos fracos, desonestos e doentes, como se dominassem e fossem seus deuses. Ao contrário, eles antes servem àqueles, esquecendo-se de sua honestidade, saúde e força. Pois nenhum membro do corpo se serve a si mesmo nem procura o que é seu, mas o que é do outro, e isso tanto mais, quanto mais fraco, doente e desonesto for aquele. E para falar com as suas palavras, são "solícitos os membros entre si, para que não haja divisão no corpo". Com isso se torna claro agora como se deve agir com o próximo em todas as coisas.

Porque, se não quisermos nos despir voluntariamente dessas "formas de Deus" e vestir as "formas de servo", seremos forçados e despidos contra a vontade. Quanto a isso observe em Lucas 7.36ss a história em que Simão, o leproso, assentado em "forma de Deus" e em justiça (própria,) julgava arrogantemente e olhava com desprezo para Maria Madalena, na qual ele via a "forma de servo". Mas veja: Cristo logo o despiu da forma da justiça e lhe pôs a forma do pecado, dizendo: "Você não me deu o beijo, não ungiu minha cabeça." Repare quão grande eram os pecados que ele não enxergava! Tampouco se julgava ele deformado por uma forma repugnante. Não há qualquer lembrança de boas obras suas. Cristo ignora a "forma de Deus" na qual aquele se agradava a si mesmo e se ensoberbecia, nada menciona de que tivesse sido por ele convidado, recebido à mesa ou honrado: Simão, o leproso, nada mais é do que um pecador, que tão justo se parecia a si mesmo. Tirou-se-lhe a glória da "forma de Deus", deixando-o envergonhado na forma de servo, querendo ou não. Em contraposição, a Maria ele honra com a "forma de Deus", sobrepõe-lhe a sua e a eleva acima de Simão, dizendo: Esta ungiu meus pés, beijou-os, regou-os com lágrimas e os enxugou com os cabelos. Veja quanto mérito, que nem ela mesma nem Simão enxergavam! Não há qualquer lembrança dos seus deméritos, Cristo ignora a "forma de servidão" nela, a qual ele engrandeceu com a forma de senhorio, e Maria nada menos é do que justa, exaltada na glória da forma de Deus, etc.

Assim ele fará com todos nós, sempre que nos inflarmos por causa da (nossa) justiça, sabedoria ou força, e nos irritarmos contra injustos, tolos e os mais fracos que nos: pois então (esta é a maior perversão) a justiça opera contra a justiça, a sabedoria contra a sabedoria, a força contra a força. Porque você é forte não para fazer os fracos ainda mais fracos, pela opressão, mas para que os torne fortes, exaltando e defendendo-os. E é sábio não para rir dos tolos e assim fazê-los ainda mais tolos, mas para aceitar, como quer que aconteça em relação a você mesmo, e para os ensinar. Assim você é justo, para que justifique e desculpe o injusto, não para condená-lo apenas, falar mal dele, julgar e castigá-lo. Pois este é o exemplo de Cristo para nós, conforme ele diz: “O Filho do homem não veio para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo através dele” (João 3.17); e novamente em Lucas 9.55ss: “Não sabem de que espírito são? O Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las”. Mas a natureza resiste violentamente, porque ela muito se deleita com a vingança e a glória de sua justiça e com a vergonha da injustiça do seu próximo. Por isso promove apenas sua própria causa e se alegra de estar ela melhor que a do próximo, acossando, porém, a causa do próximo e desejando que ela vá mal. Essa perversão é toda a injustiça, contrária ao amor que não procura o que é seu, mas o que é do outro. Portanto deve-se lamentar que a causa do próximo não esteja melhor que a própria, e desejar que ela vá melhor que a própria, sem que a alegria seja menor que sobre a própria causa: pois essa é a lei e os profetas.

Vocês dizem: “Acaso não é permitido castigar os maus? Não convém punir os pecados? Quem não tem a obrigação de defender a justiça? Pois isso seria dar oportunidade à transgressão”.

Respondo eu: “Aqui não se pode dar uma resposta simples: é preciso fazer uma distinção entre as pessoas: ou são homens públicos ou pessoas particulares”.

Aos homens públicos, isto é, os que estão a serviço de Deus ou ocupam posição de direção, não se referem essas coisas que foram ditas: pois a esses Cabe punir e julgar os maus ex officio e por necessidade, vingar e defender os oprimidos. Por que não são eles mesmos, mas quem o faz é Deus, cujos servos eles são nisto, como o apóstolo expõe largamente em Romanos 13.4, dizendo: "Não é sem motivo que (a autoridade) traz a espada", etc. Isto, entretanto, deve ser entendido com referência aos assuntos dos outros, e não dos próprios. Pois ninguém está encarregado por Deus por causa de si mesmo ou de seu próprio interesse, mas por causa dos outros. Se, porém, alguém tem uma causa própria, deve requerer outro representante de Deus que não ele mesmo; porque ele já não é mais juiz, mas litigante. Mas sobre esses fatos uns dizem uma coisa, outros outra; o assunto é amplo demais para ser discutido agora.

Pessoas privadas e em causa própria há três tipos: os primeiros são os que querem vingança e procuram julgamento junto aos representantes de Deus, e desses há agora um grande número. Isto o apóstolo o tolera, mas não aprova, conforme 1 Coríntios 6.12: "Tudo me é permitido, mas nem tudo convém;" sim, ele até diz ali mesmo: "Em princípio já é uma falha entre vocês o fato de terem demandas," (1 Coríntios 6.7). Mas ainda assim, por causa do mal maior, é tolerado este mal menor, para que não se vinguem a si mesmos e um não use da violência contra o outro, retribuindo o mal com o mal ou reclamando seus bens. Contudo esses não entrarão no reino dos céus, a não ser que mudem para melhor e deixem do que é permitido para seguir o que convém. Porque precisa ser extinta essa atitude de procurar a vantagem própria.

Os outros são aqueles que não procuram vingança, os que estão dispostos inclusive (segundo o evangelho) a dar ao que lhes tira o manto, também a túnica, sem resistir a maldade alguma. Estes são filhos de Deus, irmãos de Cristo, herdeiros dos bens futuros. Por isso eles são chamados nas Escrituras de órfãos, pupilos, viúvas e pobres, de quem Deus quer ser chamado de Pai e Juiz (Salmo 68.5); porque não se vingam a si mesmos. Sim, se os regentes querem vingar em seu favor, eles ou não o desejam e procuram, ou apenas o permitem; ou, se forem de grande perfeição, o proíbem e impedem, dispostos antes a perder também outras coisas por causa disso.

Se você disser: "Esses são pouquíssimos, e quem pode ficar neste mundo, agindo assim?", respondo: Não é nenhuma novidade hoje que poucos são salvos, e que é estreita a porta que leva para a vida, e que poucos a encontram. E se ninguém o fizer, como ficará a Escritura que declara serem os pobres, órfãos e pupilos e povo de Cristo? Por isso esses se afligem mais do pecado dos que os ofendem do que por causa do próprio dano e ofensa. E preferem agir de modo a chamar aqueles de volta do pecado a vingar as injúrias. Por essa razão despem-se das formas de sua justiça e vestem as formas daqueles, orando pelos que os perseguem, falando bem dos que falam mal, fazendo o bem aos que lhes fazem injustiça, estando prontos a sofrer e satisfazer os castigos em favor dos seus próprios inimigos, (Mateus 5.44) para que sejam salvos. Esse é o evangelho e exemplo de Cristo.

Os terceiros são aqueles que, na atitude, são corno os segundos, já mencionados, mas no efeito são diferentes, São os que não reclamam de volta o que é seu nem desejam punição por procurarem o que é seu; eles, isto sim, através dessa punição e restituição do que é seu procuram a melhora daquele que roubou ou ofendeu e que, segundo vêem, não pode ser consertado sem punição. Esses são chamados de zelosos e recebem louvor nas Escrituras. Mas isso não deve tentar senão quem é perfeito e muitíssimo exercitado no segundo grau já falado, para que ele não tome a fúria por zelo e não venha a ser convencido de que aquilo que ele crê fazer por amor à justiça, ele o tenha feito antes por indignação e impaciência. Porque a ira muito se assemelha ao zelo, e a impaciência ao amor da justiça, de sorte que não podem ser satisfatoriamente distinguidos, senão por pessoas muitíssimo espirituais. Ato desta espécie fez Cristo (conforme está dito em Jo 2.14ss), quando, tendo feito açoites, expulsou vendedores e compradores do templo, bem como Paulo, quando disse: "Com a vara irei até vocês", etc. (1 Coríntios 4.21).

Não permita que seu coração o engane! – John Owen


- Guarde-se contra o engano do seu coração -

A Palavra de Deus nos diz claramente: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas" (Jer. 17:9) e muitas experiências amargas confirmam isso. Com esta nona regra estamos pensando numa forma particular de auto-decepção. Estamos pensando em como uma falsa paz pode nos enganar. A regra para impedir essa falsa paz pode ser expressa da seguinte maneira:

Cuide-se para que não diga paz para você mesmo antes que Deus o faça Sua consciência é a voz de Deus: ouça o que ela diz. Quando você peca, ou quando se conscientiza do poder de algum desejo pecaminoso, sua consciência o perturba. E desse modo que Deus o adverte do perigo. É Deus perturbando sua paz. E Deus perturbando sua alma, para que você se volte para Ele e Lhe peça que dê Sua paz à sua alma. Quando Deus o perturba dessa maneira, seu maior perigo é dar uma falsa paz à sua alma. Nos dias de Jeremias, os falsos profetas eram culpados de proclamar essa falsa paz. É da seguinte maneira que Deus fala a respeito deles: "Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: paz, paz; quando não há paz" (Jer. 6:14). Seja cuidadoso para que não fale como um falso profeta à sua própria alma, e lhe diga: "Paz, paz" quando Deus não lhe deu essa paz.

Cinco maneiras de se saber a diferença entre a paz que Deus dá, e a falsa paz que você pode dar a você mesmo.

1.Qualquer paz que não traga com ela ódio ao pecado que tem perturbado sua paz é falsa

A paz que Deus fala à alma sempre traz com ela um sentimento de vergonha, e um santo desejo de mortificar seus desejos pecaminosos. Se olhar para Cristo, a Quem seu pecado traspassou (se não fizer isso não haverá nem cura e nem paz) você deve prantear (veja Zac. 12:10). Quando você vai a Cristo buscando cura, sua fé repousa em um Salvador ferido e traspassado. Ora, se fizer isso na força do Espírito Santo, ser-lhe-á dado ódio pelo pecado que tem perturbado sua paz. Quando Deus nos dá a paz a alma se envergonha dos diversos modos como o pecado tem estra¬gado nossa paz com Deus (Ez. 16:59-63).

E possível estarmos perturbados pelas conseqüências do pecado, mesmo sem odiarmos o próprio pecado. Na sua perturbação você pode estar buscando a misericórdia de Deus e ao mesmo tempo se apegando ao pecado que ama. Por exemplo:   sua consciência o convence de estar amando o mundo. Esse modo de buscar misericórdia nunca lhe trará paz verdadeiramente sólida. As palavras de Deus: "Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele" (1 João 2:15) perturbam sua paz. Na sua perturbação, você se volta para Deus para que Ele cure sua alma, porém está mais preocu¬pado com as conseqüências do seu amor pelo mundo do que com o mal desse amor. Esse é um mau sinal! Talvez seja salvo; no entanto a não ser que Deus por Suas ações especiais o faça realmente odiar o pecado, você terá pouca paz nesta vida.

2.Qualquer paz que não seja acompanhada pela ação do Espírito convencendo do "pecado e da justiça e do juízo" é uma falsa paz

A Palavra de Deus nunca fala de paz "somente em palavras", ela vem no poder do Espírito Santo. A paz de Deus de fato cura a ferida. Quando nos damos a nós mesmos uma falsa paz, não passará muito tempo até que o pecado que havia perturbado nossa paz apareça outra vez.

Como regra geral, Deus espera que Seus filhos aguardem até que estejam certos que Ele lhes deu a paz. Como disse o profeta Isaías: "Esperarei no Senhor, que esconde o seu rosto da casa de Jacó, e a ele aguardarei" (Is. 8:17). Deus pode curar a ferida do pecado num instante. Contudo, às vezes, como um médico, Ele gasta tempo limpando a ferida completamente para que ela se cure adequadamente. Aqueles que dão uma falsa paz para si mesmos nunca têm tempo para esperar que Deus faça Sua obra completa. Tais pessoas correm para Deus buscando paz e presumem que ela foi concedida no momento em que a pediram. Não há aquele esperar para que o Espírito de Deus cure a ferida do pecado completamente.

A paz de Deus dulcifica o coração e dá gozo à alma. Quando Deus fala paz, Suas palavras não são apenas verdadeiras, mas elas fazem bem à alma. "Sim, as minhas palavras fazem o bem" (Miq. 2:7). Quando Deus fala paz, ela guia e guarda a alma de modo que não retorne à insensatez (Sal. 85:8). Quando as pessoas falam paz para si mesmas, o coração não é curado do mal e, elas continuam num estado de transvio. Quando Deus fala paz, vem junto uma percepção tal do Seu amor, que a alma se sente obrigada a mortificar os desejos pecaminosos.

3. Toda e qualquer paz que trate do pecado de um modo superficial é uma falsa paz

Como já vimos antes, esta é a queixa que Jeremias fez dos falsos profetas do seu tempo. "Paz, paz" eles dizem, "quando não há paz" (Jer. 6:14). Da mesma maneira, algumas pessoas fazem da cura de suas feridas pecaminosas uma obra fácil. Olham para algumas promessas das Escrituras e pensam que estão curadas. Uma promessa das Escrituras só pode efetuar o bem quando misturada com a fé. (Heb. 4:2). Não se trata de um mero olhar para a palavra de miseri¬córdia e, pronto, isso traz a paz. O olhar precisa estar misturado com a fé até que você a tenha apropriado para si. De outra maneira, qualquer paz que tenha obtido é uma falsa paz. Neste caso não vai demorar muito até que sua ferida se abra novamente e você fique sabendo que ainda não está curado.

4.Qualquer paz que trate do pecado de uma maneira parcial é falsa

O cristão sincero não buscará apenas estar em paz com seus desejos pecaminosos que mais o perturbam. Tentar lidar com o pecado que mais o atormenta, sem lidar também com aqueles pecados que o perturbam menos, realmente seria tratar do pecado com parcialidade. Qualquer paz que pareça vir de se lidar com o pecado dessa maneira é falsa. Só podemos esperar a paz de Deus quando tivermos respeito igual por todos os Seus mandamentos. Deus nos justifica de todos os nossos pecados. Deus nos manda abandonarmos todos os nossos pecados. Ele é um Deus de olhos puros e não pode olhar para a iniqüidade.

5.A paz de Deus é uma paz que nos humilha, como aconteceu no caso de Davi (veja Sal. 51:1)

Pense na profunda humilhação sentida por Davi quando Nata lhe trouxe a palavra perdoadora de Deus (2 Sam. 12:13).

Resumindo

Se quiser ter certeza da paz de Deus sendo dada a você, aprenda a andar intimamente com Seu Salvador. Jesus nos diz: "as minhas ovelhas ouvem a minha voz". Quando apren-dermos a ter comunhão com nosso Salvador, aprenderemos a distinguir entre Sua voz e a voz de um estranho. Quando Ele fala, fala como nenhum outro homem o faz; Ele fala com poder. Quando Jesus fala, de um modo ou de outro, Ele faz seu coração arder dentro de você como fez com os discípulos no caminho de Emaús (Lucas, capítulo 24).

A outra grande evidência de Jesus estar falando paz à alma é o bem que ela faz. Sabemos que o Senhor falou paz quando o resultado é sermos pessoas mais humildes. Sabemos que o Senhor falou paz quando nossos desejos pecaminosos são enfraquecidos. Quando as promessas de paz levam você a amar o Senhor e purificar sua alma, quando humilham seu coração com uma verdadeira tristeza pelo pecado, quando o impulsionam a uma obediência amorosa e libertam sua alma do amor por si mesma, então o Senhor falou paz.

Melhor é o Fim - C. H. Spurgeon


Melhor é o fim das coisas do que o seu princípio - Eclesiastes 7.8

Considere o nosso Senhor e Salvador. Em seu princípio, Ele foi desprezado e rejeitado pelos homens; foi um homem de dores, familiarizado com o sofrimento (ver Isaías 53.3). Você pode observar o fim? Nosso Senhor está assentado à direita de Deus, sabendo que todos os seus inimigos se tornarão o estrado de seus pés (ver Salmos 110.1). "Segundo ele é, também nós somos neste mundo" (1 João 4.17).

Você tem de tomar a cruz, pois, se não o fizer, nunca receberá a coroa. Você tem de passar através da lama, pois, se não o fizer, nunca andará nas ruas de ouro. Anime-se, então, crente abatido. "Melhor é o fim das coisas do que o seu princípio". Quão desprezível é a aparência da larva de um inseto. E o começo de uma vida. Todavia, se você observar posteriormente, aquele inseto com asas deslumbrantes estará brincando aos raios de sol, bebendo das flores, cheio de vida e felicidade. Esse é o fim. Aquele inseto é como você, até que seja envolvido na crisálida da morte. Mas, quando Cristo se manifestar, você será semelhante a Ele, porque O verá como Ele é (ver Salmos 17.15).

O diamante de aparência rústica é colocado na roda do lapidário, que o corta em todos os lados. O diamante perde muito, muito do que parecia ser precioso para ele mesmo. O rei é coroado; o diadema é colocado na cabeça do monarca com o alegre som da trombeta. Um resplandecente raio brilha da pequena coroa, brilho que vem daquele exato diamante que tão recentemente foi em extremo afligido pelo lapidário.

Você pode ousar se comparar a tal diamante, pois é um do povo de Deus; este é o tempo do processo de lapidação. A fé e a perseverança têm sua obra perfeita (ver Tiago 1.3,4), pois no dia em que a coroa for colocada na cabeça do "Rei eterno, imortal, invisível" (1 Timóteo 1.17), um brilho de glória resplandecerá de você. "Eles serão para mim particular tesouro, naquele dia que prepararei, diz o SENHOR dos Exércitos" (Malaquias 3.17). "Melhor é o fim das coisas do que o seu princípio."

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

QUANDO OS PASTORES SE TORNAM ATEUS




Por Caio Fábio


Você ouve o Evangelho de Jesus e se apaixona. Assenta-se para ouvir. Começa a ler. Fascina-se com as promessas de resposta às orações. Vê crescer em você uma imensa expectativa de ouvir a Voz e saber a Vontade Dele. Alegra-se ao ver que Deus fala, que a Palavra é viva, e, também, que orações são de fato respondidas. Mas...Então você começa a desejar crescer em Deus, mas, ao mesmo tempo, como todos os que você admira são pastores, evangelistas, líderes, missionários, cantores, etc. — surge em você a idéia de que crescimento somente acontece nas fronteiras do ministério e no convívio com a liderança. Assim, o eixo da emoção da fé começa a mudar, e, devagar, a pessoa vai ficando cada vez mais desejosa de parecer-se com os que aparecem, e faz isso sem culpa, pois, de fato e sinceramente, a única coisa que a pessoa quer é fazer uma assimilação daquilo que ela, agora, entende como sendo o caminho visível e imitável da piedade. Nesse ponto inicia-se o processo de esquizofrenização do ser devotado a crescer em Deus nos bastidores da suposta organização de Deus entre os homens: a igreja.Então, devagar, você vai vendo que os seus “homens de Deus” são levianos, mentem, são egoístas, avarentos, cobiçosos por sórdida ganância, odiosos, invejosos, hipócritas, alguns são associados à maçonaria e, outros fazem práticas própria dos mafiosos.Ora, gradualmente, depois de ter odiado por um tempo as coisas que veio a saber, você persiste no mesmo convívio; e, então, começa a se sentir melhor do que as outras pessoas do clube da maldade; e, por isso, o próximo passo será que você diga a si mesmo que tem crédito de coerência na vida, a fim de "pedir umas férias a Deus", e, assim, dedicar-se, pelo menos como hobby, a algum pecado ou surto de capricho.Quando você faz isto, sente o que Adão sentiu no Éden, e, assim, vendo-se nu, cobre-se, e, por causa disso, busca cobrir-se com as vestes convencionais, a saber: mentira, hipocrisia, performance, falsa humildade. Entretanto, mais que tudo, a tendência é que você se torne misericordioso com o pecado, embora não necessariamente com o pecador que não seja você. Entretanto, aqui também pode surgir outro filho do povo do engano, que é aquele que, justamente porque já se sabe agora membro do clube dos que ele antes repudiava, decide agora disfarçar-se de hostil e acusador daquilo que ele mesmo, às ocultas, pratica; pois, assim, pela denúncia do tema, ganha um forte e poderoso álibi para os outros; embora ele mesmo cristalize-se na hipocrisia.Ora, como neste ponto Deus está no exílio da vida da gente, o que fica é o poder das networks. E, também, muita dedicação à imagem pública, à comunicação e à autoproteção; enquanto você vai vivendo da máquina que à sua volta foi montada. Então, quanto mais tudo funciona, mais distante de Deus você fica, e sem notar. E mais: você começa a dizer para você mesmo que aquela vida com Deus de antes era coisa de criança, mas que agora, depois de ver como as coisas são, ainda assim você faz a Deus o favor de pregar o evangelho. E como você pensa que é isso que Deus quer (que se pregue o Evangelho, ou qualquer coisa que cite o nome "Jesus"), você julga que o crédito é seu justamente por você fazer o que Deus quer que se faça, mas que sem você Ele não faz ou faria. Desse modo, por razão de seu auto-engano, você começa a tornar-se a medida de todas as coisas para você mesmo, sem perceber que você está monstrificado, e isto enquanto é endeusado pelos pagãos que, de tão cegos, só enxergam as purpurinas das glórias de cultos de fumaça de gelo seco e de levitas angelicalmente erotizados, que se exibem meigamente como ninfos e ninfetas de um culto pagão estranhamente oferecido em nome de Jesus, e, em cujo espetáculo você seduz Deus para que lhe faça mais concessões, pois você prega; e, segundo você aprendeu, Deus tem delirium tremens quando ninguém prega o nome Dele no mundo.Se você não sabia, saiba agora: Foi assim que você chegou até aqui onde agora, gloriosamente, se jacta de estar. E você passa a ser parte de tudo isso, e se justifica dizendo que seria pior sem a sua presença, pois você já não é como era antes, mas, pergunta você: "Quem é?" — e responde: "Eu pelo menos sei o que não é, e, estou aqui apenas para ver se mudo alguma coisa".Então, você prega em meio às piores contradições e sentimentos interiores, e as coisas acontecem, e isso faz com que você diga: "Deus é bom, pois, mesmo assim, cheio das concessões, Ele ainda me abençoa!"Ora, neste dia, o antes singelo e alegre jovem crente entra no Templo dos Lobos vestidos de Ovelhas, e, sem propaganda, adere à maçonaria das ações secretas praticadas pelos membros do clube do sucesso ministerial.Daí em diante ele é ateu e não sabe. Afinal, ele já é tal ateu que o nome de Deus é falado por ele sem que ele sequer perceba. Deus é oco e mais leve que o nada no coração desse um dia crente, mas que hoje é líder de crentes exatamente por já não crer em mais nada.O casamento arruinado pela hipocrisia e a insinceridade. Então, com tanto assédio, esse ser um dia crente diz para si mesmo: "Sofro tanto. Está na hora de ser consolado por alguma irmã". E assim ele vai... Até que tem um harém. O mesmo acontece com o dinheiro. Ele pensa: "Sem mim nada entraria aqui. Então, eu é que dou a eles e não eles a mim. É meu!"Chega a hora em que você se levanta para pregar e o diabo senta para descansar; isto porque o diabo pensa: "Ele é meu orgulho! Representa-me muito bem. Com lobinhos assim eu poderia tirar férias!"Então você prossegue. Vira bispo, apóstolo, primaz, pai-póstolo, Reverendíssimo Augustus, um César da Religião. Cheio de altivez, de empáfia, de arroto. Viram pastores de si mesmos, e, existem para o banquetear-se. Quem não faz a viagem por essa vertente, em geral, ao passar pelos desapontamentos, se havia sido “ungido” e não pode mais voltar atrás, o que daí nasce é muita amargura e ressentimento em razão de que os que apareceram não foram eles, mas sim os “piores”. E ficam com raiva de Deus, e isto apenas por jamais terem tido a visão certa da vocação, que não é para o que é elevado entre os homens enquanto é abominável diante de Deus, mas para o oposto.Esses que não viraram lobos vestidos se ovelhas tornaram-se ovelhinhas vestidas de coelhinhos ou de Barbies. Ou então se tornam poetas e menestréis da perplexidade humana, embora de Deus sintam, quando sentem, apenas saudades.Não faça essa viagem. Ninguém escapa impune por andar nas trilhas desse enganado caminho. O chamado à conversão em tais casos é um só:Arrepende-te! Volta ao teu primeiro amor! Enquanto é tempo!

Se tenho um trono no meu coração, quem está nele?


Luciano Bruno

Isaias 6:1 

“No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de Suas vestes enchiam o templo.”

Um dos grandes problemas que o modelo evangélico enfrenta nos tempos atuais é a questão da idolatria. Se por um lado, repudiamos os cristãos católicos por acenderem velas e ajoelharem diante de imagens de barro, por outro lado, nos esquecemos que o conceito bíblico de idolatria é muito mais amplo. Idolatria pode ser simplesmente traduzida como adorar a criação ao invés do criador. Em um mundo regido por um sistema demoníaco capitalista isso é muito comum, uma vez que os indivíduos cada vez mais buscam em pessoas de fama e aparente sucesso um norte para suas vidas, uma inspiração, ou até mesmo a razão de sua existência.

No fantástico episódio narrado por Isaias no capítulo 6 de seu livro, temos o exemplo de alguém que de fato viu ao Senhor. No entanto, fica evidente que o profeta só teve essa visão porque deu o trono a quem realmente merecia. Podemos inferir que até esse episódio, o profeta, provavelmente tinha no trono do seu coração outra pessoa, objeto, ou qualquer outra coisa que não era o Senhor.

O versículo diz "no ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor". O rei Uzias, foi o décimo rei de Judá, onde reinou por 52 anos. Nos primeiros anos, Uzias foi um rei bem-sucedido, competente administrador, guerreiro, habilidoso, e ótimo delegador de tarefas. Como todo bom governante, ganhou a simpatia das pessoas. Sendo assim, é muito provável que tenha ganhado também a admiração de Isaias. No entanto, depois da morte de Zacarias, Uzias deixou o pecado do orgulho dominar seu coração, e tentou acumular a função de rei e sacerdote, o que era proibido aos hebreus, segundo a lei deixada por Moisés. Obviamente, não foi bem sucedido, pois a benção do Senhor já não estava sobre ele. Anos mais tarde, Uzias morreria com uma forte doença na pele e totalmente isolado.

O ministério de Isaias só teve início com a experiência narrada no capítulo 6, a partir do momento em que ele retirou do trono do seu coração o rei Uzias, e colocou Deus nesse merecido lugar. O mesmo acontece nos nossos dias. Muitas vezes estamos dentro das igrejas, atuando em ministérios, cantando, pregando, no entanto com a triste realidade de nunca ter visto ao Senhor. Isso acontece pelo fato de trazermos para o nosso coração ídolos que não são de barro, mas sim, muitas vezes de carne e osso. Ídolos esses, que se intitulam apóstolos, profetas, conferencistas, e muitas outras "denominações", e são seguidos e idolatrados por milhares de pessoas. Organizam shows, passeatas, marchas, grandes cruzadas, que são abarrotadas por pessoas, que querem ver os ídolos de seu coração, sem ter a consciência que o grande merecedor desse trono está bem perto esperando que mortifiquem esses idolos imerecedores.

Quanto a mim, prefiro a fé genuína dos velhos anciãos ao duvidoso entusiasmo "freak" de nossos jovens, prefiro o evangelho legítimo proclamado por anônimos pregadores às "coceiras" nos ouvidos de algum super-star gospel, enfim, prefiro o trono do meu coração a quem verdadeiramente o merece, a saber, Deus, Senhor dos Exércitos!
"Uma masmorra com Cristo é um trono, e um trono sem Cristo é um inferno". Martinho Lutero


Fonte: http://www.genizahvirtual.com/ 

A Bíblia é a sua vida – John Piper


Moisés disse em Deuteronômio 32.46-47: "Aplicai o coração a todas as palavras que, hoje, testifico entre vós, para que ordeneis a vossos filhos que cuidem de cumprir todas as palavras desta lei. Porque esta palavra não é para vós outros coisa vã; antes, é a vossa vida". A Palavra de Deus não é algo inútil; é uma questão de vida e morte. Se você trata a Bíblia como uma coisa vã, está desperdiçando vida.

Mesmo a nossa vida física depende da Palavra de Deus, porque fomos criados por sua palavra (SI 33.6; Hb 11.3), e "ele sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder" (Hb 1.3). Nossa vida espiritual começa com a palavra de Deus: "Segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade" (Tg 1.18). "Fostes regenerados [...] mediante a palavra de Deus" (lPe 1.23).

Não apenas começamos a viver pela palavra de Deus, mas também continuamos a viver por ela: "Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mt 4.4; Dt 8.3). Nossa vida física é criada e mantida pela palavra de Deus, e nossa vida espiritual é avivada e sustentada pela palavra de Deus.

Quantas histórias poderíamos reunir para dar testemunho do poder da Palavra de Deus para dar vida! Veja a história de "Little Bilney", um dos primeiros reformadores da Inglaterra, nascido em 1495. Ele estudou direito e esforçava-se rigorosamente em atividades religiosas. Mas não havia vida interior. Um dia ele recebeu uma tradução latina do Novo Testamento grego de Erasmo. Eis o que aconteceu:

Deparei com essa frase de Paulo (oh, como essa frase trouxe paz e consolo à minha alma!) em ITimóteo 1: "Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal". Essa frase isolada, pela instrução e atuação interna de Deus, que eu não percebi naquele momento, alegrou tanto o meu coração, que antes estava ferido com a culpa dos meus pecados e quase em desespero, que [...] eu, imediatamente, [...] senti um consolo e uma aquietação maravilhosos, tanto que "meus ossos feridos saltaram de alegria". Depois disso as Escrituras começaram a ser mais agradáveis para mim do que o mel ou o favo.

De fato, a Bíblia "não é para vós outros coisa vã; antes, é a vossa vida!" O alicerce de toda alegria é a vida. Nada é mais fundamental que a própria existência — nossa criação e preservação. Tudo isso se deve ao poder da Palavra de Deus. Pelo mesmo poder ele pronunciou-se nas Escrituras em favor da criação e manutenção da nossa vida espiritual. Por isso a Bíblia não é inútil, ela é a sua vida — o combustível da sua alegria!

Quanto Custa ser um Cristão?


 
“Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se senta primeiro a calcular as despesas, para ver se tem com que a acabar?” (Lucas 14:28)
Este versículo é de grande importância. Poucas são as pessoas que não têm freqüentemente de fazer esta pergunta: “Quanto custa?”. Ao comprar um terreno, ao construir uma casa, ao mobiliar as habitações, ao fazer planos para o futuro, ao decidir a instrução e estudos dos filhos, etc., seria sábio e prudente que nos sentássemos a considerar com calma os gastos que tudo isso implicaria. As pessoas evitariam muitas moléstias e dores se ao menos fizessem a pergunta: “Quanto custa ser um crente verdadeiramente ser santo?” Estas perguntas são decisivas. Por não havê-las formulado desde um bom princípio, muitas pessoas que pareciam iniciar bem a carreira cristã, mais tarde mudaram seu rumo e se perderam para sempre no inferno.

Vivemos em tempos muito estranhos. Os acontecimentos se sucedem com extraordinária rapidez. Nunca sabemos “o que o dia nos trará”, quanto mais o que nos trará o ano! Nos nossos dias vemos muitos fazerem confissões de sua religiosidade. Em muitas partes do país as pessoas expressam vivo desejo de seguir um curso de vida santo e um grau mais alto de espiritualidade. É muito comum ver como as pessoas recebem a Palavra com alegria, porém depois de dois ou três anos se afastam e voltam a seus pecados. Há muitos que não consideram o custo de ser um verdadeiro cristão e um crente santo. Nossos tempos requerem de um modo muito especial que paremos e consideremos o custo e o estado especial de nossas almas. Este tema deve preocupar-nos. Sem dúvida o caminho da vida eterna é um caminho delicioso, porém seria loucura de nossa parte fechar os olhos ao fato de que se trata de um caminho estreito e que a cruz vem antes da coroa.

1) O que custa ser um verdadeiro cristão?

Desejo que não haja mal entendidos sobre este ponto. Não me refiro aqui ao quanto custa salvar a alma do crente. Custou nada menos do que o sangue do Filho de Deus ao redimir o pecador e livrá-lo do inferno. O preço de nossa salvação foi a morte de Cristo na cruz do Calvário. Temos “sido comprados por preço”. Cristo derramou o seu sangue em favor de muitos”(Marcos 14:241 Co.6:20). Porém não é sobre este tema que versa nossa consideração. O assunto que vamos tratar é distinto. Refere-se ao que o homem deve estar disposto a abandonar se deseja ser salvo; ao que deve sacrificar se se propõe a servir a Cristo. É neste sentido que formulo a pergunta: “Quanto custa?”.

Não custa grande coisa ser um cristão de aparência. Só requer que a pessoa assista aos cultos do domingo, duas vezes e durante a semana seja medianamente moralista. Este é o “cristianismo” da grande parte dos evangélicos da nossa época. Se trata, pois, de uma profissão de fé fácil e barata; não implica em abnegação nem sacrifício. Se este é o cristianismo que salva e o qual nos abrirá as portas da glória ao morrermos, então não temos necessidade de alterar a mundana descrição do caminho da vida eterna e dizer: “Larga é a porta e largo é o caminho que conduz ao céu”.

Porém, segundo o ensino Bíblico, custa caro ser cristão. Há inimigos que vencer, batalhas que evitar e sacrifícios que realizar; deve-se abandonar o Egito, cruzar o deserto, carregar o peso da cruz e tomar parte na grande caminhada. A conversão não consiste em uma decisão tomada por uma pessoa, em um confortável sofá, para logo em seguida ser levado suavemente ao céu. A conversão marca o início de um grande conflito, e a vitória vem após muitas feridas e contendas. Custa se obter a vitória. Daí concluirmos a importância de calcularmos este custo.

Tratarei de demonstrar de uma maneira precisa e particular o que custa ser um verdadeiro cristão. Suponhamos que uma pessoa esteja disposta a servir a Cristo e se sente impulsionada e inclinada a segui-lo. Suponhamos que como resultado de alguma aflição, de uma morte repentina, ou de um sermão, a consciência de tal pessoa tem sido avivada e agora se dá conta do valor da alma e sente o desejo de ser um verdadeiro cristão. Sem dúvida alguma, todas as promessas do Evangelho se lhe resultarão alentadoras; seus pecados, por muitos e grandes que sejam, podem ser perdoados; seu coração por frio e duro que seja, agora pode ser mudado; Cristo, o Espírito Santo, a misericórdia, a graça, tudo está à sua disposição. Porém, ainda, tal pessoa deveria calcular o preço. Vejamos uma por uma, as coisas que deverá desejar, ou, em outras palavras, o que lhes custará ser cristão

A) Custará sua Justiça Própria

Deverá abandonar o orgulho e a auto-estima de sua própria bondade; deverá contentar-se com o ir ao céu como um pobre pecador, salvo pela gratuita graça de Deus e pelos méritos e justiça de outro (Jesus). Deverá experimentar que “tem errado e se tem desgarrado como uma ovelha”; que não tem feito as coisas que deveria ter feito e feito coisas que não deveria; deve confessar que não há nada são nele. Deve abandonar a confiança em sua própria moralidade e respeitabilidade, e não deve basear sua salvação no fato de que tem ido à igreja, tem orado, tem lido a Bíblia e participado dos sacramentos do Senhor, mas que deve confiar, única e exclusivamente na pessoa e obra de Cristo Jesus.

Isto parecerá muito duro a algumas pessoas, porém não me surpreende que seja assim. “ Senhor - disse um lavrador, temeroso homem de Deus, a James Hervey - é mais difícil negar o nosso EU orgulhoso, que nosso EU pecador. Porém é absolutamente necessário que o neguemos . Aprendamos, pois, de uma vez por todas, que ser um verdadeiro cristão custará a uma pessoa perder sua justiça própria.

B) Custará seus pecados

Deverá abandonar todo hábito e prática que sejam maus aos olhos de Deus. Deve virar o seu rosto contra o pecado, romper com o pecado, crucificar o pecado, mesmo contra a opinião do mundo. Não pode estabelecer nenhuma trégua especial com nenhum pecado que amava antes da sua conversão. Deve considerar a todos os pecados como inimigos mortais de sua alma e odiar todo caminho de falsidade. Por pequenos ou grandes, ocultos ou manifestos que sejam os pecados, deve renunciar completamente a todos eles. Sem dúvida estes pecados tentarão vencê-lo, porém jamais poderá ceder. Sua luta contra o pecado será continua e não admitirá trégua de nenhum tipo. Está escrito:“Lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes...”. “cessai de fazer o mal” (Ez.18:31; ls.l:16).

Isto também parecerá muito duro para muitas pessoas; e vemos que freqüentemente nossos pecados são mais queridos do que nossos próprios filhos. Amamos o pecado, o abraçamos com todo nosso ser, nos agarramos a ele, nos deleitamos nele. Separar-nos do pecado é tão duro como separar-nos da nossa mão direita, e tão doloroso como se nos arrancassem um olho. Porém devemos separar-nos do pecado; não há outra alternativa possível. “Ainda que o mal lhe seja doce na boca, e ele o esconda debaixo da língua, e o saboreie, e o não deixe, antes o retenha no seu paladar.. “ ,sendo este o caso, devemos apartá-lo de nós si em verdade desejamos ser salvos (Jó 20:12-13). Se desejamos ser amigos de Deus, devemos primeiro romper com o pecado. Cristo está disposto a receber os pecadores, porém não aqueles que se agarram a seus pecados. Anotemos pois, também isto: o ser cristão custará a uma pessoa seus pecados.

C) Custará seu amor à vida fácil.

Para correr com êxito a corrida ao céu se requer esforço e sacrifício. Haverá de velar diariamente e estar alerta, pois se encontrará em território inimigo. Em cada hora e em cada instante deverá vigiar sua conduta, sua companhia e os lugares que freqüenta. Com muito cuidado haverá de dispor de seu tempo e vigiar sua língua, seu temperamento, seus pensamentos, sua imaginação, seus motivos e sua conduta em suas relações diárias. Terá que ser diligente em sua leitura da Bíblia, em sua vida de oração, na maneira como passa o Dia do Senhor e participa dos meios de graça. Certamente que não poderá conseguir perfeição em todas estas coisas, porém mesmo assim, não pode descuidar-se.“O preguiçoso deseja, e nada tem, mas a alma dos diligentes se farta” (Pv.13:4).

Também isto parece duro e difícil. Não há nada que nos desagrade tanto como as dificuldades na nossa confissão religiosa; por natureza evitamos as dificuldades. Secretamente desejaríamos que alguém pudesse cuidar de nossas obrigações religiosas e que desempenhasse por procuração nosso cristianismo. Não está de acordo com o nosso coração tudo aquilo que implique em esforço e trabalho; porém sem dor não há lucro para a alma. Deixemos bem firmado este fato: o ser cristão custará a uma pessoa seu amor pela vida fácil.

D) Custará o favor do mundo.

Se deseja agradar a Deus deve saber que será depreciado pelo mundo. Não deve estranhar se o mundo o engana, lhe ridiculariza, se levanta calúnias contra você e o persegue e o odeia. Não deve se surpreender se as pessoas o depreciam e com desdém condenam suas opiniões e práticas religiosas. Deve resignar-se a que o acusem de tolo, entusiasta e fanático, e inclusive que distorçam suas palavras e representem falsamente suas ações. Não se surpreenda de que o tachem de louco. O Mestre disse: “Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: Não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão vossa” (Jo.15:20).

Também isto parece duro e difícil. Por natureza nos desagrada o proceder injusto e as acusações falsas. Se não nos preocupa a boa opinião dos que nos rodeiam deixaríamos de ser de carne e osso._Sempre resulta desagradável ser o alvo de criticas injustificadas e objeto de mentira e falsas acusações; porém não podemos evitá-lo. Do cálix que bebeu o Mestre também devem beber seus discípulos. Estes devem ser “...desprezado, e o mais rejeitado entre os homens...(Is.53:3). Anotemos, pois, o dito: ser cristão custará a pessoa o favor do mundo .

Esta é, pois, a lista do que custará a uma pessoa ser cristã. Devemos aceitar o fato de que não é uma lista insignificante. Nada podemos riscar dela. Resultaria uma temeridade fatal se defendesse por justiça própria, os pecados, o amor à vida fácil, o amor ao mundo e crer que vivendo assim poder-se-ia salvar-se.

A realidade é esta: custa muito ser um verdadeiro cristão. Porém, que pessoa, no sentido pleno, pode dizer que este preço é demasiado elevado pela salvação da alma? Quando o barco está em perigo de afundar-se, a tripulação não vacila em lançar ao mar a preciosa carga. Quando a gangrena envolve a extremidade de um membro a pessoa se submeterá a qualquer operação, inclusive a amputação deste membro. Com maior motivo, pois, o crente está disposto a abandonar qualquer coisa que se levante entre sua alma e o céu. Uma religião que não custa nada, nada vale. Um cristianismo barato - sem a cruz - cedo ou tarde manifestará sua inutilidade; jamais levará a posse da coroa. Sem cruz não há coroa

II) A Importância de Calcular o Custo.

Facilmente poderíamos resumir o assunto estabelecendo o princípio de que nenhuma das obrigações prescritas por Cristo pode ser descuidada sem grande prejuízo para a alma. São muitos os que fecham os olhos para a realidade da fé salvadora e evitam considerar o quanto custa ser cristão. E para ilustrar o que digo eu os poderia descrever o triste fim daqueles que, ao declinar seus dias, se dão conta desta realidade e fazem esforços espasmódicos para voltar-se para Deus. Porém, com grande surpresa se dão conta de que o arrependimento e a conversão não eram tão fáceis como haviam imaginado e que custa “uma grande soma” ser um cristão. Descobrem, também, que os hábitos do orgulho e a indulgencia pecaminosa, junto com o amor a vida fácil e mundana, não podem abandonar-se tão facilmente como haviam pensado. E assim, depois de uma débil luta, caem em desespero a abandonam este mundo sem esperança, sem graça e sem estar preparados para comparecer diante de Deus. Em suas vidas alimentaram a idéia de que o assunto espiritual poderia ser solucionado prontamente e facilmente. Porém abrem seus olhos quando já é demasiado tarde e descobrem, pela primeira vez na vida, que estão indo para perdição por não haver antes “calculado o custo”.

Porém, há uma classe de pessoas as quais quero dirigir-me ao desenvolver esta parte do tema. E um grupo numeroso e que espiritualmente está em grande perigo. Tratarei de descrever estas pessoas e ao fazê-lo agucemos nossa atenção. Estas pessoas não são, como as anteriores, ignorantes do evangelho; não, ao contrário: pensam muito nele; não ignoram o conteúdo da fé; conhecem bem os esquemas da revelação. 

Porém, o grande defeito das tais pessoas é que não estão “arraigadas nem fundamentadas na fé”. Com muita freqüência o conhecimento religioso destas pessoas é de segunda mão; têm nascido de famílias cristãs, têm-se educado em uma atmosfera cristã, porém nunca têm experimentado em suas vidas as realidades do novo nascimento e a conversão. Precipitadamente e talvez por pressões diversas, ou pelo desejo de ser como os demais, têm feito profissão de fé e se tem unido a membresia de alguma igreja, porem sem haver experimentado uma obra da graça em seus corações. Estas pessoas estão em uma posição perigosíssima e são as que mais necessitam da exortação de calcular o custo de serem verdadeiros cristão

Por não haver calculado o custo um grande número de israelitas pereceu miseravelmente no deserto entre o Egito e Canaã. Cheios de zelo e entusiasmo abandonaram a terra de Faraó e parecia que nada poderia pará-los. Porém, tão logo encontraram perigos e dificuldades no caminho, seu calor não tardou em esfriar-se. Nunca pensaram na possibilidade de que pudessem surgir obstáculos. Pensavam que em questão de dias entrariam na posse da terra prometida. E assim, quando pelos inimigos, privações, sede e fome, foram provados, começaram a murmurar contra Moisés e contra Deus e desejaram voltar ao Egito. Em uma palavra: “não calcularam o custo” e em conseqüência morreram em seus pecados.

Por não haver calculado o custo, muitos dos seguidores de Jesus voltaram suas costas 
“... e já não andavam com ele” (JO.6:66). Quando pela primeira vez viram seus milagres e ouviram sua pregação, pensaram: “O Reino de Deus virá a qualquer momento”. Se uniram ao número dos apóstolos e, sem pensar nas conseqüências, o seguiram. Porém se deram conta de que se tratava de doutrinas duras de crer, e uma obra dura de realizar, e de uma missão dura de se levar a termo, sua fé se desmoronou e nada ficou da mesma. Em uma palavra: não pararam para “calcular o custo”, por isso naufragaram na sua profissão de fé cristã.

Por não haver calculado o custo, o rei Herodes voltou outra vez a seus velhos pecados e destruiu a sua alma. Desfrutava ouvindo a pregação de João Batista. O admirava e considerava um homem justo e santo, e inclusive o ouvia “de boa mente” . Porém, quando se deu conta de que devia abandonar a sua favorita Herodias, sua profissão de fé religiosa se desvaneceu por completo. Não havia pensado nisto; não havia “calculado o custo” (Marcos 6:20)..

Por não haver calculado o custo, Demas abandonou a companhia de Paulo, abandonou o evangelho, deixou a Cristo e perdeu o céu. Por longo período de tempo com o grande apóstolo dos gentios e se converteu em um dos seus companheiros de trabalho. Porém, quando se deu conta de que não podia participar da companhia do mundo e de Deus ao mesmo tempo abandonou o cristianismo e se uniu ao mundo. “Demas, tendo amado o presente século” - nos diz Paulo - “me abandonou... “ (II Tm.4: 10). Não havia calculado o custo.

Por não haver calculado o custo milhares de pessoas que têm sentido uma experiência religiosa sob a evangelização de famosos pregadores naufragam espiritualmente. Se excitam e emocionam e chegam a pensar que experimentaram uma obra genuína de conversão; porém, na realidade não tem sido assim. Receberam a Palavra com alegria tão espetacular que inclusive surpreenderam os crentes experimentados

Com tal entusiasmo falavam da obra de Deus e das coisas espirituais que os crentes mais velhos chegavam a envergonhar-se de si mesmos. Porém, quando a novidade e o frescor de seus sentimentos se dissiparam, uma repentina mudança lhes sobreveio e demonstraram que na realidade não eram mais do que corações de terreno pedregoso em que a Palavra não pôde lançar raízes profundas. “O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo antes de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza” (Mt.13:20-21). Pouco a pouco se derrete o céu de tais pessoas e seu amor se esfria. Por fim chega o dia quando seu assento na igreja está vazio e já nada se sabe deles. Por que? Porque não “calcularam o custo”.

Por não haver contado o custo, milhares de pessoas que professaram ser salvas em reuniões de avivamento, depois de um tempo voltam ao mundo e são motivo de vergonha para o evangelho. Começam com uma noção tristemente equivocada do que seja o verdadeiro cristianismo. Imaginam que a fé cristã não é mais que uma “decisão por Cristo”, uma mera experiência de certos sentimentos de alegria e paz. Logo que se dão conta de que têm de carregar uma pesada cruz no peregrinar até o céu, de que o coração é enganoso e de que o diabo está sempre ativo, se decepcionam e esfriam e retornam a seus velhos pecados. Por que? 

Porque nunca chegaram a saber o que é o cristianismo da Bíblia. Nunca aprenderam a calcular o custo.

Por não haver calculado o custo, freqüentemente os filhos de pais crentes dão um pobre testemunho do que é o cristianismo e são motivo de afronta para o evangelho. Desde a infância se familiarizaram de uma maneira teórica com o conteúdo do evangelho. Têm aprendido de memória longas passagens da escritura e têm assistido com certa regularidade a Escola Dominical, porém na realidade nunca têm pensado seriamente no que têm aprendido. E quando as realidades da vida começam a fazer-se sentirem suas vidas, com grande assombro por parte dos membros da congregação, estes filhos de crentes abandonam toda religião e submergem de cheio no mundo. Por que? Porque nunca chegaram a entender seriamente os sacrifícios e conseqüências que uma profissão de fé séria o cristianismo exige. Nunca se lhes ensinou a calcular o custo.

Estas verdades são tão solenes como dolorosas, porém são verdades e põem em relevo a importância do tema que estamos considerando. São considerações que põem de manifesto a absoluta necessidade que têm todos aqueles que professam um desejo profundo de santidade, de fazer-se a pergunta: Quanto custa?

Melhor iriam as coisas em nossas igrejas se ensinassem a seus membros a calcular o custo que implica a profissão de fé cristã. A maioria dos líderes religiosos dos nossos dias dão mostras de uma impaciente pressa nas coisas do evangelho. Parece que o único grande fim a que se propõem é a conversão instantânea das almas, e em torno disto centralizam seus esforços. Esta maneira tão parcial e vazia de ensinar e apresentar o cristianismo é funesta.

Não interpretem mal o que digo. Eu aprovo inteiramente que se ofereça a salvação de uma maneira imediata, gratuita e completa em Cristo. Aprovo plenamente que se chame com urgência os pecadores a que se convertam imediatamente depois de se ouvir a mensagem de salvação. E a estas coisas não cedo o primeiro lugar. Mas condeno a atitude e o proceder de alguns que apresentam estas verdades por si só, isoladas e sem relação às demais verdades de todo conselho de Deus. Além destas verdades, com toda honestidade devemos advertir os pecadores das obrigações que impõe o serviço a Cristo e o que implica sair do mundo.

Não temos direito de forçá-los a entrar no exército de Cristo, se antes não os temos advertido e prevenido da magnitude da batalha cristã. Em uma palavra: devemos adverti-los do custo de ser um verdadeiro cristão.

Não foi esta a maneira de proceder do nosso Senhor Jesus? O evangelista Lucas nos diz que, em certa ocasião “Ora, ia com ele uma grande multidão; e voltando-se, disse-lhes: Se alguém viera mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo” (Lc. 14:25-27). Francamente, não se pode reconciliar esta passagem bíblica com a maneira de proceder de muitos mestres religiosos da nossa época; no que a mim concerne, a doutrina do mesmo é clara como a luz do meio dia. Esta doutrina ensina que não temos que forçar os pecadores a uma precipitada confissão de fé cristã, sem antes não os termos advertido claramente da necessidade que têm de calcular o custo.

Lutero, Latimer, Baxter, Wesley, Whitefield, Rowland HilI, e outros, procederam segundo a maneira pela qual defende este texto. Todos estavam bem cientes do caráter enganoso do coração humano; e sabiam bem que não é ouro1 tudo que reluz, que a convicção não é conversão, que a emoção não é fé, que o sentimento não é graça, que não é de todo botão que provém fruto. “Não vos enganeis - era o grito constante destes pregadores - pensai bem no que fazeis; não corrais antes de haverdes sido chamados; calculem o custo!”.

Se desejamos fazer o bem, não nos envergonhemos de seguir as pisadas do nosso Senhor Jesus Cristo. Exortem as pessoas a que considerem seus caminhos. Obrigue-os com santa violência a que entrem e participem do banquete a que se entreguem completamente a Deus. Ofereça-os uma salvação gratuita, completa e imediata. Insta-os uma e outra vez a que recebam a Cristo na plenitude de seus benefícios.

Porém, em tudo, diga-lhes a verdade, toda a verdade! Alguns pregadores se utilizam de atos vulgares para recrutar adeptos. Não fale somente do uniforme, do soldo e da glória, fale também dos inimigos da batalha, da armadura, das sentinelas, das marchas, e dos exercícios. Não apresente apenas uma parte do cristianismo. Não esconda a cruz da abnegação, que todo peregrino cristão deve levar, quando falar da cruz sobre a qual Cristo morreu para nossa redenção. Explique com detalhes tudo o que a1, profissão de fé cristã implica. Rogue com insistência várias vezes aos pecadores que se arrependam e corram para Cristo; porém, insista, ao mesmo tempo, a que se sentem e calculem o preço.

III) Sugestões para Ajudar a Calcular Corretamente o Custo.

Mencionarei alguns fatores que sempre influenciam nos nossos cálculos para saber o custo do verdadeiro cristianismo. Considere com calma e equilíbrio o que se tem de deixar e o que se tem de provar para chegar a ser discípulo de Cristo. Não esconda nada, considera tudo. E logo, faça as seguintes somas, tendo o cuidado de repassá-las bem para não haver equivoco, pois o resultado correto dos mesmos é alentador:
  1. Conte e compare os benefícios e as perdas que um discipulado verdadeiramente cristão contém. Muito possivelmente perderás algo deste mundo, porém ganharás a salvação da alma imortal. Está escrito: “Que aproveita ao homem, ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc.8:36).
  2. Conte e compare os elogios e censuras, se é que és um cristão verdadeiro. Muito provavelmente terás de sofrer as reprovações do mundo, porém, terás a aprovação de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. As censuras vêm dos lábios de pessoas equivocadas, cegas e falíveis; a aprovação vem do Rei dos reis o Juiz de toda a terra. Está escrito: “Bem-aventurado sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” (Mt. 5:11-12).
  3. Conte e compare os inimigos e amigos. Por um lado tens a inimizade do diabo e dos maus; por outro, tens o favor e a amizade de Cristo Jesus. Os inimigos, quando muito, podem produzir-te alguns arranhões, pode rugir forte e rodear a terra e o mar para tratar de arruinar a tua alma; porém não pode de modo nenhum destruí-la. Teu Amigo é poderoso para salvar-te eternamente. Está escrito:“Digo-vos, pois, amigos meus: Não temais os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: Temei aquele que depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer” (Lc. 12:4-5).
  4. Conte e compare a vida presente e a por vir . A vida presente não é fácil; implica em vigilância, oração, luta, esforço, fé e labor; porém, só é por poucos anos. A vida vindoura será de descanso e repouso; a influência do pecado já terá terminado e satanás estará acorrentado. E, ah! será um descanso para toda eternidade. Está escrito: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para noS eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentado nós nas cousas que se vêem; porque as cousas que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” (2 Co.4:17-18).
  5. Conte e compare os prazeres do pecado e a felicidade do serviço a Deus. Os prazeres que o homem mundano obtêm são vazios, irreais, não satisfazem. São como a fogueira que fazem os espinhos arder: range e brilha, porém, só por uns minutos, logo se apaga e desaparece. A felicidade que Cristo ou torga a seu povo é sólida, duradoura e substancial; não depende da saúde nem das circunstâncias; nunca abandona o crente, nem mesmo na hora da morte. E uma felicidade que, além disso, se verá galardoada com uma coroa incorruptível. Está escrito: “O júbilo dos perversos é breve” “Pois qual o crepitar dos espinhos debaixo duma panela, tal é a risada do insensato” (Jó 20:5; Ec.7:6). Porém também está escrito: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la a dou com a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (Jo. 14:27).
  6. Conte e compare as tribulações que o cristianismo verdadeiro implica e as tribulações que sobrevirão aos maus após a morte . A leitura da Bíblia, a oração, a luta cristã, uma vida de santidade, etc., implica em dificuldades e exigem abnegação por parte do crente. Porém não é nada em comparação com a “ira que virá” e que se desencadeará sobre os impenitentes e os incrédulos. Um só dia no inferno será muito mais intolerável que toda uma vida de peregrinação levando a cruz. O “bicho que nunca morre e o fogo que nunca se apaga” é algo que vai mais além do que a mente humana pode conceber e descobrir. Está escrito: “Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu em tormentos”(Lc.16:25).
  7. Considere e compare, em último lugar, o número daqueles que se voltam do pecado e do mundo para servir a Cristo, e o número daqueles que deixam a Cristo e voltam ao mundo. Os que se voltam do pecado e do mundo para servir a Cristo são muitos; porém nenhum dos que realmente têm conhecido a Cristo voltam ao inundo. Cada ano multidões abandonam o caminho largo e tomam a senda estreita que conduza vida. Nenhum dos que andam pelo caminho estreito se cansam do mesmo e voltam ao caminho. O caminho largo registra muitas pegadas de pessoas que torceram seu rumo e o abandonaram; porém, as pegadas dos caminhantes do caminho estreito, que conduz ao céu todas seguem a mesma direção. Está escrito “O caminho dos perversos é como a escuridão”. “O caminho dos pérfidos é intransitável” (Pv.4:19; 13:15). Porém, também está escrito: “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv.4: 18).
Estas somas e estas contas freqüentemente não se fazem corretamente; por isso há pessoas que continuamente e não podem dizer se vale a pena ou não servir a Cristo. As perdas e ganhos, as vantagens e desvantagens, as tribulações e os prazeres, as ajudas e os obstáculos, lhes dão um balanço tão igual, que não podem optar por Cristo. É que não têm feito a soma corretamente.
Como se explica o erro de tais pessoas? Se deve a uma carência de fé por sua parte. Para chegar a uma conclusão correta sobre nossas almas, devemos conhecer algo daquele poderoso princípio que Paulo menciona no capítulo 11 de sua Epístola aos Hebreus. Permitam-me demonstrar de que maneira intervém este princípio no grande “negócio” de calcular o custo.

A que se deveu o fato de Noé perseverar até o fim na construção da arca? Estava só em meio a uma geração pecadora, incrédula e havia de sofrer o opróbrio, a zombaria e o ridículo das pessoas. O que lhe deu fortaleza ao seu braço e paciência em seu labor? Foi a fé. Noé cria na ira que havia de vir; cria que só na arca poderia achar o refúgio seguro. Pela fé considerou e teve como pobre o conceito e a opinião do mundo. Pela fé calculou o custo e não duvidou de que a construção da arca significava um ganho.

A que se deveu o fato de Moisés rejeitar os prazeres do Egito e recusar-se ser chamado de filho da filha de Faraó? Como pode escolher ser maltratado com o povo de Deus e dirigir ao povo hebreu á terra da promissão, livrando-o da terra da escravidão? Segundo o testemunho do olho humano dos sentidos iria perder tudo e não ia ganhar nada em troca. O que impulsionou Moisés a agir dessa forma? Foi a fé. Ele cria que acima de Faraó havia UM maior e mais poderoso que o dirigiria e protegeria em sua grande missão. Ele tinha por maiores riquezas o vitupério de Cristo que todos os tesouros dos egípcios. Pela fé calculou o custo e “como vendo o invisível”, se persuadiu de que o abandono do Egito e o peregrinar pelo deserto era, na realidade, ganho.

Que foi que fez o fariseu Saulo de Tarso decidir deixar a religião de seus pais e abraçar o Cristianismo? Os sacrifícios e os custos que a mudança implicava eram em verdade enormes. No entanto, Paulo abandonou todas as brilhantes perspectivas que tinha entre os de sua nação; trouxe sobre si, ao invés do favor dos homens, o ódio do homem, a inimizade do homem, a perseguição do homem até a morte. A que se deveu o fato de Paulo poder fazer frente a tudo isso? Se deveu a sua fé. Ele cria que Jesus, a quem conheceu no caminho de Damasco, poderia dar-lhe cem vezes mais do que o que abandonara, e no mundo vindouro a vida eterna. Pela fé calculou o custo, e viu claramente até que lado se inclinava a balança. Cria firmemente que o tomar a cruz de Cristo sobre si era ganho.

Notemos bem todas estas coisas. A fé que fez Noé, Moisés e Paulo fazerem as coisas que fizeram, é o segredo que nos levará a conclusões corretas com respeito a nossa alma. A mesma fé tem de ser nossa ajudadora e nosso livro de contas quando nos sentamos para calcular o custo do verdadeiro cristianismo. Esta fé, se a pedimos a receberemos. “Ele dá maior graça” (Tiago 4:6). Armados com esta fé apreciaremos as coisas no seu justo valor. Cheios desta fé, nunca aumentaremos a cruz nem diminuiremos a coroa. Nossas conclusões serão todas corretas; nossa soma total não registrará erros.

Conclusão

Em conclusão desejo que consideres seriamente se tua profissão de fé religiosa te custa atualmente algo. Mui possivelmente não te custa nada. Com toda probabilidade tua religião não te custa dificuldades, nem tempo, nem pensamentos, nem cuidados, nem dores, nem leitura alguma, nem oração, nem abnegação, nem conflito, nem trabalho, nem labor de nenhuma classe. Bem, pois não te escuses do que vou te dizer: esta profissão de fé nunca poderá salvar tua alma; nunca te dará paz enquanto estás vivo, nem esperanças na hora da morte. lima religião que não custa nada, não vale nada. Desperta! Desperta! Desperta e crê! Desperta e ora! Não descanses até que possas dar uma resposta satisfatória a minha pergunta: “Que te custa?”

Pensa se é que necessitas de motivos que te estimulem mais e mais para o serviço do Senhor, pensa no muito que custou a salvação de tua alma. Considera que nada menos do que o Filho de Deus teve de abandonar o céu, fazer-se homem, sofrer a cruz, ser sepultado, para logo ressuscitar vitorioso sobre o pecado e a morte, e tudo para obter a redenção de tua alma. Pensa em tudo isso e te convencerás de que não é algo insignificante possuir uma alma mortal. Vale a pena tomar-se o incômodo de pensar sobre a esta alma tão preciosa.

Ó, homem preguiçoso! Ó, mulher preguiçosa! Te conformarás com perder o céu por mero fato de que não queres te preocupar com as coisas espirituais? Tanto te repugna o exercício e o esforço como para permitir que tua alma naufrague para toda a eternidade? Sacode esta atitude covarde e indigna! Lavanta-te e porta-te varonilmente! Que não termine o dia sem que hajas dito a ti mesmo: “Por muito que seja o custo, eu tomo a determinação de esforçar-me para entrar pela porta apertada”. Olha a cruz de Cristo e receberás alento para seguir adiante, e valor para consegui-lo. Sê sincero e realista com tua própria situação espiritual; pensa na morte, no juízo, na eternidade. Poderá custar muito o ser cristão, porém podes estar seguro de que vale a pena.

Se algum leitor realmente sente que tem calculado o custo, e tomado sobre si a cruz, eu o exorto a que persevere e continue em frente. Talvez freqüentemente sintas como se teu coração estivesse a ponto de desfalecer, e que o ímpeto da tentação ameaça naufragá-lo no desespero. Eu te digo: persevera, segue em frente. Não há dúvida de que teus inimigos são muitos, e os pecados que te rodeiam batem com ímpeto; talvez os teus amigos sejam poucos, e o caminho íngreme e estreito. Porém, mesmo assim, nestas circunstâncias, persevera e segue adiante.

O tempo é muito curto. Uns poucos anos de vigilância e oração, uns vão e vêm sobre as ondas do mar deste mundo, umas poucas mortes a mais, umas mudanças a mais, uns poucos verões a mais, e já não haverá necessidade de muita luta.

A presença e companhia de Cristo compensará os sofrimentos deste mundo. Quando nos vemos como somos vistos, e olhamos até a nossa jornada da nossa vida, nos surpreenderemos de nossa debilidade e desmaios de coração. Ficaremos surpresos de que demos tanta importância a nossa cruz, e pensamos tão pouco em nossa coroa. Ficaremos maravilhados de que calculando o custo, chegamos até a duvidar para onde se inclinava a balança. Animemo-nos! Não estamos longe do nosso lugar eterno!

PODE CUSTAR MUITO SER UM VERDADEIRO CRISTÃO 
E UM CRENTE FIEL, PORÉM VALE A PENA!