domingo, 15 de agosto de 2010

A Mente e o Crescimento Espiritual – K. R. Samples



O filósofo e educador Mortimer J. Adler observou que somente uma pequena minoria dos americanos tem o que poderia ser chamado uma saudável “vida intelectual”. De acordo com Adler, a maioria de nós exercita nossas mentes vigorosamente somente quando forçados a fazê-lo – pelo medo de fracasso ou perda – e mesmo então alguns resistem. Pessoas em todo lugar gastam uma larga proporção de seu tempo livre em entretenimentos extremamente entediantes para a mente. [1] Quantas pessoas (ou quão poucas) você e eu conhecemos que ativamente cultivam uma crescente “vida da mente” – uma busca de conhecimento, entendimento e sabedoria – como uma prioridade diária?

Se esta prioridade é evidenciada em algum lugar, a Escritura sugere que seja entre os seguidores de Cristo, ou aqueles que estão a caminho de se tornar, mas é isto o que as nossas observações confirmam?

Eu vejo um clima de não-intelectualismo, ou até mesmo anti-intelectualismo, em muitos cantos da comunidade evangélica hoje. Um segmento de crentes parece simplesmente ignorar ou desvalorizar as buscas intelectuais, reconhecendo nenhuma conexão entre o desenvolvimento intelectual e a espiritualidade cristã. Estes cristãos reconhecem a importância de amar a Deus com os seus corações e almas, mas estão inseguros (ou desinteressados) sobre como a mente fatora este amor. Eles podem pensar, ou dizer, “O Cristianismo é uma relacionamento baseado na fé, e não no intelecto. Por que gastar meu tempo em ginásticas mentais?”

Outro grupo, algumas vezes uma comunidade ou denominação inteira, abertamente se opõe às buscas intelectuais. Eles reivindicam que esforços para desenvolver a mente não são espirituais e podem até frustrar o crescimento espiritual. A experiência subjetiva toma precedência ao conhecimento e ao pensamento cuidadoso, em sua visão. Para apoio bíblico eles citam o Apóstolo Paulo: “A ciência incha, mas o amor edifica” (1 Coríntios 8:1); “Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo?” (1 Coríntios 1:20). [2] Alguns dentro deste campo argumentam que uma educação formal num colégio ou seminário é destrutiva para a espiritualidade. E eles podem usualmente citar exemplos de pessoas cujo Cristianismo foi naufragado pelos bancos de areias rochosos da academia.

Contudo, a Bíblia não apóia esta dicotomia entre razão e relacionamento; entre vitalidade intelectual e espiritual. De fato, somos ordenados pelo próprio Senhor a amar a Deus com todo o nosso ser, incluindo nossa mente (Mateus 22:37). Cristianismo é muito mais do que uma experiência da alma; nosso pensamento e entendimento estão crucialmente envolvidos. O cristianismo abrange uma cosmovisão e um conjunto coerente de convicções. A própria Bíblia é uma revelação “proposicional”, o que significa que Deus revelou Sua existência, Seus atributos, Seu poder e Seus planos e propósitos para a humanidade em palavras que a mente humana pode compreender. De fato, Ele nos considera responsáveis pela nossa resposta ao que entendemos de Sua revelação. Além do mais, a Bíblia nos instruí a avaliar nossa experiência e nosso pensamento à luz da revelação bíblica (1 Tessalonicenses 5:21).

Por toda a Escritura aprendemos que a mente tem uma parte integral em nossa devoção a Deus. Uma exortação central da literatura de sabedoria do Antigo Testamento é que nós “adquirimos sabedoria, conhecimento e entendimento” de tudo o que está fundamentado “no temor do Senhor” (Jó 28:28; Salmo 111:10; Provérbios 1:7). No Novo Testamento, vemos o altamente educado Apóstolo Paulo usando toda a sua destreza intelectual na tarefa de fazer Cristo conhecido entre as nações. Seu conhecimento não o inchou com orgulho; ele lhe deu ferramentas com as quais ele pôde, no poder do Espírito de Deus, comunicar a verdade e expor o pensamento tolo. Suas habilidades de raciocínio e de retórica lhe conquistaram uma audiência entre religiosos e lideres intelectuais onde quer que ele chegasse, mesmo no pináculo cerebral de Atenas, Grécia (Atos 17:16-32).

Obviamente, somente o intelecto, desprovido de paixão e comprometimento espiritual, não nos aproxima de Cristo nem nos faz mais valiosos à Sua vista. Nem eu estou promovendo o “intelectualismo”, mas sim uma apreciação saudável de pensadores e inquiridores entre nós. Necessitamos convidá-los e recebê-los em nossa comunidade, e não repeli-los. Eu me pergunto como a igreja hoje receberia indivíduos como Agostinho, João Calvino, Blaise Pascal, John Wesley e Jonathan Edwards. Estes homens abalaram o mundo com a sua genialidade e devoção a Deus.

A Imago Dei (imagem de Deus) é o que distingue a humanidade dos animais, e é esta mesma imagem que faz a vida da mente tão importante. Como Adler convincentemente declara: “É a glória do homem ser o único animal intelectual sobre a terra. O que impõe sobre os seres humanos a obrigação de levarem vidas intelectuais”.  Declarando de uma forma simples: a busca cristã de conhecimento e luta contra a preguiça mental é simplesmente uma parte do ser que Deus nos fez para sermos. A busca de uma mente bem desenvolvida é, num sentido, uma busca do Deus que nos deu uma mente.

O teólogo e historiador Mark A. Noll sugeriu uma solução para o problema da igreja de não- ou anti-intelectualismo. A solução é que os cristãos evangélicos “ofereçam suas mentes como um sacrifício de louvor para a glória de Deus”.  De todas as pessoas, o cristão que entende (ou pelo menos começa a captar) o significado da “Imago Dei”, pode cultivar uma florescente vida intelectual.

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