sábado, 15 de maio de 2010

Coração divino, braços humanos!


O livro de Atos termina com o apóstolo Paulo sentado no banco dos réus. As acusações contra ele são três: ''falar contra o povo de Israel, contra a lei de Moisés e contra o Templo'' (21.28). Em seus discursos de defesa Paulo reivindica que jamais cometeu tais sacrilégios. Pelo contrário, acredita que interpretou corretamente a vocação de Israel, o propósito da Lei de Moisés e a figura do Templo. Afirma que Israel é uma nação mediadora da revelação de Deus, mas não mediadora de salvação, ou fator determinante da relação entre Deus e os homens (Gênesis 12.1-3; Romanos 10.12,13; Gálatas 3.11-18); insiste que jamais a Lei de Moisés pretendeu ser instrumento de justificação, mas recurso de Deus para conduzir Israel e todas as nações ao Messias (Gálatas 3.24,25); e que o Templo era apenas um símbolo da possibilidade da habitação da glória de Deus entre os homens, glória essa que se manifestou cabalmente em Jesus Cristo (João 1.14) e hoje é manifesta pela igreja - o corpo místico de Cristo, verdadeira habitação de Deus, em Espírito (Efésios 2.19-22).
É verdade, portanto, que aos olhos dos judeus de sua época o apóstolo Paulo havia cometido os crimes religiosos citados, pois anunciava em todos os lugares: ''não mais Israel, mas a Igreja'' (Romanos 9.6,7; Gálatas 3.6,7; 1Pedro 2.9,10); ''não mais a Lei de Moisés, mas o evangelho de Jesus Cristo'' (Atos 13.38,39); ''não mais o Templo exclusivo aos judeus, mas a Igreja aberta a todos os povos'' (Atos 13.46; 22.21).
O saldo dessa disputa entre as autoridades religiosas judaicas contra os apóstolos e os primeiros cristãos nos possibilita afirmar três coisas a respeito da fé cristã: sua autonomia, singularidade e universalidade. Autonomia, porque o evangelho de Jesus Cristo tem vida própria em relação ao judaísmo - ninguém precisa primeiro se converter ao judaísmo para que depois se torne cristão. Singularidade, porque o evangelho se fundamenta na graça de Deus, conceito estranho ao judaísmo legalista e às religiões pagãs. E universalidade, pois o evangelho se destina à toda a humanidade e acaba com todas as distinções étnicas e culturais, políticas e ideológicas, econômicas e sociais, e de gênero, pois já ''não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus''(Gálatas 3.28), de modo que na nova vida já ''não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, pois Cristo é tudo e está em todos''(Colossenses 3.11). Assim, o céu é descrito como povoado de gente de toda raça, tribo, língua e nação'' (Apocalipse 5.9), pois finalmente ''o Tabernáculo de Deus estará com os homens com os quais ele viverá; eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus'' (21.3).


Aos que crêem no evangelho de Jesus Cristo cabe apenas o anúncio das boas notícias: ''Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens'', pois Deus nos deu ''o ministério da reconciliação'' e ''confiou a nós a palavra da reconciliação'', nos fez ''embaixadores de Cristo'', e "através de nós faz seu apelo [de reconciliação]? (2Coríntios 5.18-21). Eis a síntese: Deus tem um coração que abraça o mundo, mas para isso quer usar os nossos braços.


Ed René Kivitz

Fonte: http://www.guiame.com.br/






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