terça-feira, 12 de outubro de 2010

Alienação – A. W. Tozer


Um problema sério e às vezes angustiante para muitos cristãos é sentirem que Deus está longe deles ou que eles estão longe dEle, o que vem a dar no mesmo.

É difícil regozijar-nos no Senhor quando padecemos deste senso de distância. É como procurar ter um claro e quente verão sem sol Certamente que o maior mal aqui não é intelectual, e não pode ser sanado com recursos intelectuais; todavia, a verdade tem de penetrar na mente antes de poder entrar no coração, e por isso vamos raciocinar juntos sobre isso. Nas questões espirituais só pensamos corretamente quando com ousadia pomos de lado o conceito de espaço Deus é no espírito, e o espírito não habita no espaço. O espaço tem a ver com a matéria, mas o espírito independe dele. Pelo conceito de espaço explicamos a relação dos corpos materiais, uns com os outros.

Jamais devemos pensar em Deus como estando espacialmente perto ou distante, pois Ele não está aqui ou ali, mas leva o aqui e o ali em Seu coração. O espaço não é infinito, como alguns pensam; somente Deus é infinito, e em Sua infinidade Ele absorve todo o espaço. "Não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor". Ele enche os céus e a terra, como o oceano enche o balde que afundou nele, e assim como o oceano circunda o balde. Deus o faz com o Universo que Ele enche. "Os céus dos céus não te podem conter". Deus não é contido. Ele contém.

Como criaturas terrenas, naturalmente nos inclinamos a pensar mediante analogias terrenas. "Quem vem da terra é terreno e fala da terra." Deus nos criou como almas viventes e nos deu corpos pelos quais podemos experimentar o mundo que nos cerca e comunicar-nos uns com os outros. Quando o homem caiu, mediante o pecado, começou a pensar que tem alma em vez de o ser. Faz muita diferença, se o homem crê que é um corpo que tem alma, ou uma alma que tem corpo.

A alma é interna e oculta, enquanto que o corpo está sempre presente para os sentidos; conseqüentemente, nós tendemos a ser cientes do corpo, e o conceito de perto e remoto, ligado às coisas materiais, parece-nos plenamente natural. Mas só é válido quando aplicado às criaturas morais. Quando tentamos aplicá-lo a Deus, não mais retém a sua validade.

Entretanto, quando falamos de estarem os homens "longe" de Deus, falamos verazmente. O Senhor disse de Israel: "O seu coração está longe de mim", e aí temos a definição de perto e longe em nossa relação com Deus. As palavras se referem, não à distância física, mas à semelhança.

As Escrituras ensinam claramente que Deus está igualmente perto de todas as partes do Seu universo (Salmo 139:1-18); contudo, alguns seres experimentam a Sua proximidade e outros não, dependendo da sua semelhança moral com Ele. E a dessemelhança que produz o senso da remota distância entre as criaturas, e entre os homens e Deus.

Duas criaturas podem estar tão perto fisicamente uma da outra que podem tocar-se, mas, dada a desigualdade de natureza, estão separadas por milhões de quilômetros. Pode-se imaginar a presença de um anjo e de um gorila na mesma sala, mas a radical diferença entre as suas naturezas impossibilitaria a sua comunhão. Na realidade estariam "longe" um do outro.

Para a desigualdade moral entre o homem e Deus a Bíblia tem uma palavra, alienação, ou profunda separação, e o Espírito Santo apresenta um horrendo quadro dessa alienação e dos resultados que produz no caráter humano. A natureza humana decaída é precisamente oposta à natureza de Deus como revelada em Jesus Cristo. Uma vez que não há semelhança moral, não há comunhão, e daí o senso de distância física, o sentimento de que Deus está longe no espaço. Esta noção errônea desencoraja e impede muitos pecadores de crerem para a vida.

Paulo animou os atenienses lembrando-lhes que Deus não estava longe de nenhum deles, que era nEle que viviam, moviam-se e existiam. Todavia, os homens pensam que Ele está mais longe do que a mais distante estrela. A verdade é que Ele está mais perto de nós do que estamos nós mesmos.

Como pode, porém, o pecador ligar o tremendo abismo que o separa de Deus na experiência real? A resposta é que ele não pode fazê-lo, mas a glória da mensagem cristã é que Cristo o fez. Pelo sangue da Sua cruz, Ele fez a paz, para poder reconciliar consigo mesmo todas as coisas. "E a vós outros também que outrora éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas, agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis" (Colossenses 1:21,22).

O novo nascimento faz-nos partícipes da natureza divina. Aí começa a obra de desfazer a desigualdade entre nós e Deus. Daí ela progride pela santificante operação do Espírito Santo, até dar plena satisfação a Deus.
Essa é a teologia da matéria em foco, mas como já disse, mesmo a alma regenerada pode sofrer com o sentimento de que Deus está longe dela. 
Que deverá fazer, então?

Primeiro, pode ser que o problema não seja mais que uma temporária ruptura na comunhão consciente com Deus devida a uma dentre meia centena de causas. A cura é a fé. Confie em Deus em meio à escuridão até voltar a luz.

Segundo, caso o senso da distância persista, apesar das orações e aquilo que você crê que é fé, sonde a sua vida interior em busca de evidências de atitudes erradas, maus pensamentos ou defeitos de caráter. Essas coisas diferem de Deus e criam um abismo psicológico entre você e Ele. Expulse de si o mal, creia, e o senso de proximidade se restaurará. Deus nunca foi o primeiro a se afastar.

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