É belíssimo o conceito de fé. Talvez o mais belo que exista, por seu poder de contradizer tudo. Simplesmente um dos conceitos presentes na raça humana que mais encantam aqueles que conseguem alcançar seu significado não no raso de suas definições frias e pragmáticas, mas aqueles que conseguem ir fundo na sua essência profunda. Pare para pensar: desde que nascemos somos condicionados a mover-nos segundo a ideia de que tudo tem uma explicação racional e que tudo o que devemos fazer precisa necessariamente ser baseado em provas iluministicamente estabelecidas. E de repente desponta diante de nossos olhos duas letras subversivas, revolucionárias, capazes de mudar o destino de pessoas, de transmutar realidades, de provocar guinadas em caminhos, de nos fazer saltar no vazio… de fazer tudo novo: FÉ.
Fé é simplesmente admitir como total possibilidade o impossível. Aliás, deixe-me aperfeiçoar o pensamento: fé é simplesmente admitir como total realidade o impossível. Fé é assumir que é impossível o impossível ser impossível.
Não há nenhuma prova concreta. Não há certezas. Não há documentos assinados, não há notas promissórias ou cheques endossados. O que há é uma indubitabilidade que nenhum argumento racional consegue destruir. Eu tenho fé, por exemplo, que há um Deus e desafio quem quer que seja a destrui-la. Não há como, uma vez que essa certeza tenha sido plantada no nosso coração e na nossa mente pelo Espírito do Onisciente. Que venham os Richard Dawkins, os Charles Darwins e os Joseph Campbells da vida com seus milhares de argumentos e suas provas, seus estudos e seus documentários e livros. Mas você, se tem fé, simplesmente vira-se para eles com uma certa pena no coração e diz: “Desculpe, mas você não entende. Você não entende. Pois é fé, simplesmente”.
Não é racional. Fé é um milagre. Fé é a inabalável confiança de que um pedacinho vegetal que cabe na palma da minha mão é capaz de se transformar em uma das maiores sequóias do planeta se eu tão somente puser essa muda no solo e esperar o Pai regar e o Espírito lançar luz sobre ela. Nossa alma é como esse solo, onde Deus planta a semente da fé. Quem está fora olha e diz: essa semente não é racional! Contraria o que minha mente pavlovianamente condicionada a crer apenas no que está ao alcance da mão e no que posso segurar é algo plausível. E contraria mesmo.
Fé é lançar-se no abismo não na esperança de que Deus vai nos segurar em sua mão. Fé é lançar-se no abismo tendo a absoluta certeza de que Deus vai nos segurar em sua mão.
Tenho meditado muito no livro de Hebreus. Seu autor, infelizmente desconhecido, relata as maravilhas da fé. E a fé como maravilha. “Assim, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade.” (Hb 4.16). Com toda confiança, friso. Ou seja, confiando. Crendo. Entregando-se. E, ao fazermos isso, vamos receber misericórdia e encontrar graça que nos ajude no momento da necessidade. Ou seja, chegar-se a Deus com fé é o caminho para recebermos aquilo que é imerecido mas que precisamos. Fascinante.
“E foi assim que, depois de esperar pacientemente, Abraão alcançou a promessa” (Hb 6.15). Repare nos detalhes: a fé de Abraão exigiu dele que ele recebesse a promessa depois. Ou seja: não era algo que estava ao alcance dos olhos. Pois depoispressupõe algo que temporalmente não se enxerga, está além do horizonte. Segundo, Abraão teve de esperar. Novamente, Deus liga a fé a não receber de imediato o que se anela. “Será teu, só não agora”, parece dizer o Senhor. “Mas tens fé? Receberás. Será teu”. E, por fim, fé está instrinsecamente ligada ao fruto do Espírito. Ou seja: quem tem comunhão e intimidade com o Espírito de Deus manifesta naturalmente uma virtude que está arraigada, enroscada e fundida com o conceito de fé: a paciência (Gl 5.22,23) – pois Abraão esperou pa-ci-en-te-men-te. Não é somente o esperar, é o saber esperar. Com paz. Sem duvidar. Pois paciência é isso: aguardar sem perder as estribeiras ou a total certeza. É esperar sem nenhuma dúvida de que “Tens fé? Receberás. Será teu”. Basta ter…paciência. E quem tem o Espírito manifesta seu fruto e, logo, não teme o depois, o esperar, o ter paciência.
Falta de fé é um defeito mundano. Veja o que Tiago abre sua epístola dizendo: “Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança” (Tiago 1.2,3). Primeira lição: as provações, as dificuldades, os impedimentos para alcançarmos nossa meta são formas de provar nossa fé. E quem nos prova senão o próprio Deus, para ver se confiamos nele ou não? Se confiamos mais nele ou em nós mesmos? E mais: são provas que pedem de nós perseverança – que é a insistência, a não-desistência, o continuar apesar de tudo, o prosseguir apesar de distâncias, de tempo, do que é aparente.
Mas Tiago vai além: “Aquele que duvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. Não pense tal pessoa que receberá coisa alguma do Senhor, pois tem mente dividida e é instável em tudo o que faz” (Tg 1.6b-8). Isso é sério. A fé entrega aquilo que se deseja àqueles que perseveram, que não desistem porque não veem o depois, que aguardam o que almejam com paciência, que têm certeza. E aqui Tiago afirma que os que duvidam não receberão coisa alguma do Senhor. Grave. Problemático. A falta de fé retira das mãos dos instáveis as bênçãos que Deus tem reservado para os tais se tão somente tivessem aguardado com paciência o que viria depois. Pois, como resume Hebreus 11.6: “Sem fé é impossível agradar a Deus”. E, ao se desagradar Deus, o castelo de cartas desmorona e tudo o que Ele tinha para nós se tão somente tivéssemos mantido a fé… escorre ralo abaixo.
Fé, simplesmente. É o que Deus espera de nós. O fenômeno é tão importante que foi o mecanismo criado pelo Senhor para a salvação de nossas almas. Se por alguma razão te falta fé, meu irmão, minha irmã, ore e clame por misericórdia ao Senhor. Pois um cristão sem fé… é um cristão sem Cristo.
Paz a todos vocês que estão em Cristo (e que nunca perdem a fé no que Ele é capaz de fazer)
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