Por Adeildo Nascimento Filho
Vários personagens bíblicos me causam admiração, espanto, confusão e principalmente inspiração. Eliseu é um destes que me leva a vários pensamentos, raciocínios e exercícios de empatia.
Viver seguindo Elias devia ser algo fenomenal. Acompanhar seu ministério, suas ações a serviço de Deus e o seu caminhar cheio de aventuras, desventuras, controvérsias, indagações, traições, perigos, sucessos e amarguras deve ter sido uma escola de profeta e tanto. Ouvir falar de alguém e seus feitos é uma coisa, acompanhá-lo de perto é outra bem diferente. O contar das histórias cria ícones que, por vezes, ficam descolados das figuras humanas, com uma impressão de super-herói ou algo do gênero. Se quem conta um conto aumenta um ponto quem reproduz histórias as torna monumentais.
Que Elias foi um ícone bíblico ninguém nega. Mas qual seriam os comentários a respeito do mestre feito pelo aluno, pelo seguidor, pelo aprendiz, pelo companheiro, será que poderia dizer pelo amigo? Acho que sim. Prova maior são estas palavras: “Vive o SENHOR, e vive a tua alma, que não te deixarei.”, só um verdadeiro e chato amigo poderia proferi-las. Ter referenciais é fundamental na vida de qualquer pessoa. De cristãos, em especial. Melhor ainda é ter referenciais e exemplos com os quais você possa caminhar junto diariamente.
Betel, Jericó e Jordão, um caminho final, uma estrada derradeira, o final de um tempo juntos, o final do aprendizado, o completar de um ciclo feito de lições práticas e diárias. No caminho avisos, provocações e gracejos… Seu senhor será tirado de você! Perdeu compadre! De agora em diante sua missão terminou. Não existira mais a quem seguir, não mais quem ajudar, não mais com quem aprender.
Aquele último trajeto foi decisivo na vida de Eliseu e meu exercício de empatia se fixa nos pensamentos a respeito do futuro: Se ele se for alguns talvez tenham em mim a continuidade do seu ministério; Será que aprendi como deveria? Será que sou capaz? Talvez mais algum tempo juntos? O final das coisas é sempre mais complicado que o início. Conseguir um moço para segui-lo era fácil, difícil agora é como se apartar dele. O meu exercício de empatia com Elias se foca na preocupação com a despedida. Acho que Elias, assim como a maioria de nós, não gostava dela. “Fica-te aqui, porque o Senhor me enviou…” para cá, para lá e para acolá!… Melhor terminar com isso rapidamente, sem choro, sem despedidas, sem mais faça assim ou faça assado. Leio e enxergo um coração triste em Elias. Triste com a despedida de Eliseu.
Um rio, um capa dobrada, águas feridas e uma estrada a seco em sua frente. Como se não bastasse a preocupação sobre o futuro do ministério de profeta mais uma prova do poder de Deus sobre a vida do mestre deixa o aluno estupefato.
Sempre que idealizo Elias imagino, não sei por que, um sujeito sisudo. Mas num momento em específico me vejo enxergando um ar nunca antes visto na fisionomia de Elias. “Serei tomado de Ti Eliseu!”. Essa não é a frase expressa na bíblia mas gosto de parafrasear. “Pede-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti.” Essa é a frase original. Se fosse um filme, a trilha sonora desse momento seria calma, tranquila, com muitas cordas e um close no olhar de Elias. Um momento sublime onde o mestre realiza um último pedido do aprendiz, um presente a lealdade, uma dádiva de despedida ao mais que aluno, ao amigo. Imagino que Elias não era assim tão bom – também como a maioria de nós – em expressar seus sentimentos e ali tentava usar uma linguagem de amor um pouco diferente, do jeito dele.
A câmera lentamente se move em direção ao rosto de Eliseu e lá encontra um homem surpreso com aquelas palavras. Acredito que ele não esperava essa atitude de Elias, não fazia o tipo dele. Naquele exato momento imagino o espírito de Eliseu em busca do pedido perfeito, do pedido de coroaria todos os momentos que viveram juntos, algo que conseguisse unir o passado e o futuro no presente que a partir daquele instante seria só dele, Eliseu.
Pois bem, mesmo a bíblia não nos dando noção de tempo entre uma frase e outra, acredito que aquele momento não demorou tanto assim. A resposta surge auxiliada por outro espírito que não apenas o Dele. “Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim.” Quem teria pensado em pedido melhor? Nem Elias imaginava isso, haja vista sua resposta: “Coisa difícil pediste;”. Talvez o pensamento de Elias tenha sido: atrevido não? Seguido desse pensamento deve ter vindo a felicidade pelo pedido, afinal de contas, que professor não ficaria feliz com um pedido de um aluno como este? Só os orgulhosos.
Elias sabia, contudo, que a resposta do pedido não dependia apenas dele. O Espírito que o movia vinha dos céus. “Só se me vires quando for tomado de ti, então se fará.”. Ponto, seguem o caminho, andando e falando quando de repente: um carro de fogo, com cavalos de fogo os separam.
Disse Eliseu: “Meu pai, meu pai, carros de Israel e seus cavaleiros!”. Capa na mão e novamente um rio a frente. “Onde está o SENHOR DEUS de Elias?” e novamente uma estrada a seco em sua frente.
Pedido atendido. Porção dobrada concedida.
Imagino os líderes “cristãos” da atualidade se dirigindo aos jovens, as novas gerações e lhes perguntando o querem que lhes seja dado antes de partirem. Quais seriam os pedidos? Tenho receio deles. Porção dobrada do que dizem possuir seria suficiente para que seus seguidores espelhassem o exemplo de Elias na terra?
Vejo jovens andando com a água no pescoço porque não encontram líderes que possam lhes transmitir uma porção do espírito capaz de fazer um riacho se abrir a sua frente.
A porção do que hoje pregam, ensinam e vivem não é suficiente! E o SENHOR DEUS de Elias não é deus deles.
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