sábado, 6 de agosto de 2011

Lâmpada, Martelo, Espada e Semente - Joel Beeke



A Palavra de Deus Como Lâmpada

"A. revelação das tuas palavras esclarece e dá entendimento aos simples" (SI 119.130). E em uma veia mais pessoal: "'Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e farpara os meus caminho' (SI 119.105). Assim o salmista expressa a maneira como a Palavra de Deus age como uma fonte de iluminação espiritual, compreensão e orientação. Essa luz é importante tanto na regeneração do pecador como na vida diária do crente. Por um lado, a condição natural do homem caído é de trevas, ignorância e cegueira (Ef 4.18); por outro, o próprio povo de Deus deve, às vezes, caminhar em condição de treva espiritual na qual somente a luz da Palavra de Deus pode proporcionar-lhes algum conforto ou esperança (SI 130.5,6; Is 50.10).

"A menos que a Palavra de Deus ilumine o caminho", escreveu Calvino, "toda a vida dos homens é envolta em treva e neblina, de sorte que eles não podem senão extraviar-se miseravelmente."

A Palavra de Deus como um Martelo

"Não é a minha palavra fogo, diz o SENHOR e martelo que esmiuça a penha?' (Jr 23.29). Não há aspecto mais horrendo e desalentador do que a condição do homem decaído pela obstinação produzida pelo pecado e por sua permanência no pecado. A Escritura fala de homens endurecendo seu coração, sua mente, seu pescoço e seu rosto em um esforço determinado de apresentar-se a Deus em corpo e alma, mas demonstrando a mais obstinada resistência à vontade divina para a sua vida. Tal é o peso e a força inerentes à Palavra de Deus que um golpe demolidor do Espírito Santo brandindo a Palavra como um martelo é suficiente para romper em pedaços o coração mais endurecido. Dessa maneira, a alma mais resistente pode ser vencida e as fortalezas do pecado, demolidas.

Devemos acrescentar aqui que um dos mais temíveis de todos os mistérios ligados à pregação da Palavra é a maneira como pecadores empedernidos podem realmente tornar-se mais determinados a endurecer.4 Essa é a vontade de Deus para sua destruição e sua maior condenação. Foi assim quando Moisés levou a Palavra de Deus ao Faraó; e foi assim quando Paulo pregou aos judeus na sinagoga de Éfeso, ocasião em que vários deles "se mostravam empedernidos e descrentes" (At 19.9). Quão insondáveis são os juízos de Deus, e quão inescrutáveis os seus caminhos!

A Palavra de Deus Como Espada

Em sua descrição da armadura completa de Deus, o após-tolo Paulo enumerou em Efésios 6 as armas do cristão, das quais somente duas são ofensivas. Uma delas é apresentada como "toda oração e súplica" e a outra como "espada do Espírito, que é a Palavra de Deus" (Ef 6.17,18). São essas as armas do cristão para o combate, as quais, diz o apóstolo, "não são carnais e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas" (2Co 10.4).

De modo semelhante, Hebreus 4.12 menciona a Palavra de Deus como uma arma, porque ela é "mais cortante do que qualquer espada de dois gumes". O ponto comparativo aqui é o uso da espada para penetrar e ferir o inimigo com efeito mortal. Assim, a Palavra de Deus pode perfurar e penetrar o coração do homem, penetrando tão profundamente e cortando com tal eficácia que divide alma e espírito, como "juntas e medulas". E em sua investida para perfurar e dividir, a Palavra de Deus expõe e sujeita ao seu reto juízo "os pensamentos e propósitos do coração".

A experiência aqui apresentada é bem conhecida entre os cristãos. Ela não é, de modo algum, uma experiência rara entre aqueles que ouvem fielmente a pregação da Palavra de Deus, para receberem do púlpito palavras que expõem tão correta e agudamente a condição de seu próprio coração e vida, ao ponto de fazê-los sentirem-se totalmente expostos, envergonhados e condenados.

A Palavra de Deus Como Semente

"O salário do pecado é a morte", escreveu Paulo em Romanos 6.23. A condição espiritual do homem, como criatura submetida à escravidão do pecado e vivendo nela, é uma das mortes em delitos e pecados (Ef 2.1). Se ele precisa ser libertado de tal condição mortal, terá de ser vivificado ou "ressuscitado". Essa vivificação é citada na Escritura como "nascer de novo". Esse novo nascimento ou regeneração é obra do

Espírito 0o 3.5) usando a "semente incorruptível" da Palavra de Deus (IPe 1.23). De modo semelhante, Tiago declara que Deus é o Pai de todos os cristãos, dizendo: "Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas." (Tg 1.18).
Nessas passagens, a Palavra é comparada a uma semente com sua preciosa carga de vida, um grande potencial armazenado à espera somente das condições propícias para germinar, crescer e produzir muito fruto. Tudo isso é confirmado pormenorizadamente na Parábola do Semeador, apresentada pelo Se¬nhor. Lucas registra que ele disse explicitamente — "a semente é a palavra de Deus''' (Lc 8.11). A Palavra é o meio pelo qual, na frase de Henry Scougal, "a vida de Deus" é plantada "na alma do homem". Miraculoso é o resultado, e muitos são os frutos, quando a preciosa semente é lançada na "boa terra" do coração daqueles que são "destinados para a vida eterna" (At 13.48).

Tal é a profundidade e extensão da transformação efetuada pela Palavra de Deus na vida do povo de Deus. Os pecadores são tirados das trevas e levados para a luz. A dureza de seu coração é quebrada, e o coração, conquistado; eles são chamados a ver e conhecer as profundezas de seu próprio pecado e miséria; e nascem de novo para a vida eterna. A Palavra de Deus é exaltada como a lâmpada da sua verdade, o martelo de sua justa ira, a espada do seu Espírito, e a semente da vida eterna.

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