terça-feira, 3 de maio de 2011

Vigiai!! - John Owen



"Vigiai". Consideraremos especificamente certas ocasiões nas quais corremos o risco de "entrar na tentação".

1. Prosperidade externa incomum

Um período de prosperidade externa incomum geralmente é acompanhado por uma hora de tentação. A prosperidade e a tentação andam juntas. De fato, a prosperidade por si mesma já é uma tentação, ou, talvez, muitas tentações. A não ser que Deus conceda um suprimento C especial da Sua graça, ela é uma tentação de duas maneiras. Irá, com certeza, prover a oportunidade para os desejos pecaminosos do homem; e o diabo sabe como se valer dela para obter vantagem.

Em Provérbios 1:32 lemos que "a prosperidade do loucos os destruirá". A prosperidade os endurece no seu caminho. Leva-os a desprezar a instrução e a advertência. Qualquer pensamento sobre o dia do ajuste de contas (que deveria influênciá-los a corrigir suas vidas) é descartado. Sem a ajuda especial da graça de Deus, a prosperidade pode ter uma influência devastadora nos cristãos. Este é o argumento de Agur, que ora contra as riquezas, por causa das tentações que as acompanham (Prov. 30:8,9). Isto é o que de fato aconteceu com Israel. "Depois eles se fartaram em proporção do seu pasto, estando fartos, ensoberbeceu-se o seu coração; por isso se esqueceram de mim" (Oséias 13:6). Esse é o próprio perigo de que o Senhor advertiu os israelitas no sentido de se precaverem contra ele  (Deuteronômio, capítulo 8, especialmente os versículos 12-14).

O cristão pode regozijar-se na prosperidade (Ecl. 7:14), mas nunca deve esquecer que a prosperidade traz perigos reais que precisam ser objeto de vigilância e oração. Pensemos por alguns momentos em alguns desses perigos.

a)      Na prosperidade nossa vida cristã corre o risco de perder sua realidade interior. Isso, como já observamos no capítulo seis, pode deixar a alma vulnerável a muitos tipos de tentações poderosas.

b)      Na prosperidade corremos o risco de nos satisfazermos e nos deleitarmos demais nos confortos desta vida. Tal satisfação e deleite já foi adequadamente descrita como "o veneno da alma".

c)       A prosperidade pode nos tornar duros e insensíveis na nossa vida cristã. Se não nos guardarmos contra isso, ela nos fará uma presa fácil do engano do pecado e propensos a cair nas ciladas de satanás.

Em tempos de prosperidade seja grato a Deus mas esteja alerta aos seus perigos e se dedique a "vigiar e orar". O fracasso em proceder desta maneira tem levado muitos santos a caírem. A sabedoria exige que aprendamos de suas tristes experiências. Feliz é o homem que sempre teme, e que procede assim de modo especial nos tempos de prosperidade.

2. Um estado espiritual de dormência

Como já foi assinalado previamente (no capítulo seis), se você negligenciar a comunhão com Deus e se tornar formal no exercício dos deveres cristãos, o perigo jaz à porta. Esta é uma hora na qual a vigilância é necessária.

Se você estiver nesse estado, desperte e esteja atento. O seu inimigo está por perto. Você corre o risco de cair numa condição espiritual da qual se arrependerá pelo resto da sua vida. Este estado já é ruim por si só, mas se constitui numa advertência de que um estado pior poderá advir. No Getsêmane, os discípulos estiveram física e espiritualmente dormentes. O que foi que Jesus lhes disse? "Vigiai e orai para que não entreis em tentação". Sabemos como um deles estava bem perto de uma hora amarga de tentação. Ele entrou imediatamente nela por não Ter vigiado como deveria ter feito.

A amada, em Cantares de Salomão 5:2-8 estava sonolenta e não queria se levantar e abrir a porta para o seu amado. Quando, afinal, se levantou, seu amado já havia se retirado. Foi só depois de muita tristeza e dor que ela o encontrou novamente. Da mesma maneira, os cristãos podem estar sonolentos espiritualmente e indispostos a acordar para uma comunhão ativa. com Cristo. Estarão propensos a trazer sobre si dor de cabeça e sofrimentos. Em muitos casos o cristão não consegue recuperar plenamente, a vitalidade de que em outras ocasiões desfrutou.

Aquela noite em que "Davi se levantou de sua cama" (2 Samuel 11:1 e ss.) foi uma noite de dormência espiritual para Davi e ele nunca se recuperou completamente da queda que resultou daquilo. Essa parte trágica da história de Davi é relatada para nos advertir. Deve nos despertar para um auto-exame em oração.

Algumas questões para auto-exame

i) Que benefícios você está auferindo da sua leitura das Escrituras? Está aproveitando tanto quanto costumava? Exteriormente, pessoas poderão não notar nenhuma diferença, mas seus devocionais estariam levando-o a experimentar maior comunhão com Deus?

ii) Seu zelo se esfriou? Pode ser que ainda esteja praticando as mesmas obras de antes; porem, estaria seu coração aquecido pelo amor de Deus? Praticar essas obras ainda aquece espiritualmente seu coração, como o fazia no princípio? (Apoc. 2:2-4).

iii) Você estaria se tornando negligente nos deveres da oração e de ouvir a Palavra de Deus? Talvez ainda esteja observando esses deveres; mas os cumpre com o mesmo entusiasmo e vigor de outrora? (veja Luc. 8:18; Rom. 12:12c).

 iv) Estaria se cansando da vida cristã? Se ainda mantém o mesmo ritmo, qual é o motivo para assim proceder? Acaso você deseja secretamente que não fosse um caminho tão estreito (2 Cor. 4:16-18; 5; 14,15)?

v) Seu amor e seu prazer junto com o povo de Deus estariam diminuindo ou esfriando? Seu amor por ele estaria se transformando de um amor fraternal para um amor carnal? Fundamenta-se nas coisas que você aprecia nele ou nos benefícios da sua amizade ao invés de ser na semelhança dele com Cristo (1 Tess. 4:9,10; 1 Ped. 1:22; 3:8)?

Nas suas respostas a estas perguntas despontam razões que o levam a se preocupar? Nesse caso é hora de despertar da sonolência antes que caia numa tentação que o incapacitará espiritualmente para o resto da sua vida.

3. Grande gozo espiritual

Tempos de grande gozo espiritual podem se transformar em tempos de tentações perigosas pela malícia de satanás e a fraqueza de nossos corações. Paulo sabia disso. Logo que havia recebido uma revelação gloriosa de Deus foi esbofeteado por um mensageiro de satanás (2 Cor. 12:1-9). Os três discípulos no Monte da Transfiguração conheciam isso. Pedro disse: "Senhor, bom é estarmos aqui". Logo depois, ao descerem do monte foram confrontados com possessão demoníaca e se deparam com representantes de uma "geração incrédula e perversa" (Mat. 17:4; 17:14-17). Jesus, Ele mesmo experimentou isso. Quando foi batizado ouviu uma voz do céu dizendo: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo". Em seguida, lemos: "A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo" (Mat.3:17;4:l).

O diabo sabe que podemos estar tão cheios de gozo que nos descuidamos e não vigiamos quando ele se aproxima. Ele se aproveita dessa oportunidade para tirar vantagens. Se Deus abençoar você com gozo espiritual, regozije-se. Todavia não diga: "jamais serei abalado", porque não sabe quando Deus esconderá Sua face de você, ou enviará um mensageiro de satanás para esbofeteá-lo. Quando vivemos tempos de grandes bênçãos espirituais precisamos estar muito vigilantes, pois a benção pode ser transformada numa maldição.

Outro ponto importante sobre as bênçãos espirituais precisa ser destacado. Há genuínas bênçãos espirituais que devem ser ardentemente desejadas; entretanto não podemos nos esquecer de que às vezes as pessoas podem se enganar, pensando que estão cheias com o sentimento do amor de Deus por elas quando isso é apenas sua própria imaginação. A que calamidade pode uma experiência falsa nos conduzir! Se alguém se ufanar de tais experiências do amor de Deus enchendo a sua alma e, no entanto, viver como uma pessoa mundana, está auto-enganado e correndo o risco de um engano ainda maior.

4. Auto-confiança

A tentação geralmente está por perto quando alguém está cheio de auto-confiança. Pedro nos deu uma ilustração dolorosa disso quando se ufanou: "Ainda que todos se escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei... Ainda que me seja necessário morrer contigo, não te negarei" (Mat. 26:33,35). Foi muito pouco tempo depois destas palavras que Pedro fez o que havia dito que nunca faria - e chorou amargamente por isso. Deus usou essa queda de Pedro para ensiná-lo (e a nós) a tolice de confiarmos em nós mesmos.

O mundo está cheio de tentações e de ensinos falsos. Há pessoas tão tolas que, se sentindo auto-confiantes, julgam que nunca cairiam nessas tentações, mesmo que todos os outros caíssem. Não sejamos como elas! O apóstolo diz: "Não te ensoberbeças, mas teme... aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia" (Rom. 11:20; 1 Cor. 10:12). Se formos sábios, não confiaremos em nós mesmos, mas colocaremos toda nossa confiança no poder preservador de Deus.

A primeira coisa sobre a vigilância é saber sobre o que estamos vigiando. Estamos de olho nos tempos perigosos, nos quais estamos mais propensos a entrar em tentação. Dessa maneira, estando alertas para os perigos, estaremos melhor preparados para lidar com eles.

Nenhum comentário: