“Músicas de louvor” não são apenas “expressões de nossos corações para Deus”, são o molde daquilo que acreditamos sobre Deus.
Nos primeiros 1600 anos, aproximadamente, poucas pessoas se aventuravam em escrever “suas próprias músicas” para o louvor congregacional. As primeiras orações e músicas da igreja eram Salmos (orações que eles haviam aprendido quando crianças judias) que falavam de Cristo. Por volta do final do século primeiro, vemos o surgimento de alguns credos surgirem, dos quais a maioria refletiam as palavras das cartas de Paulo. Mais tarde, quando mais músicas e liturgias surgiram, elas eram cuidadosamente trabalhadas por teólogos como João Crisóstomo, no século IV (cujas liturgias ainda são usadas pela Igreja Ortodoxa), e muito mais tarde, Lutero, no século XVI. Por muitos séculos após a Reforma, as músicas usadas para o louvor público tinham suas letras retiradas diretamente da Escritura. Hoje, somos mais tranqüilos com isso. Nós sentamos – e eu digo “nós” porque também sou culpado – e tentamos escrever músicas baseadas no que está em nosso coração, no que queremos dizer, no que a minha igreja quer cantar… o que, em geral, não tem problema, se tudo isso é submetido à questão principal – “O que é verdade a respeito de Deus?” – mas mesmo quando não é o caso, algumas pessoas insistem…
1 – “É o que está no coração que importa”
Diga isso para Nadabe e Abiú – você sabe, aqueles caras que ofereceram “fogo estranho” e foram fulminados em Números 3. Ou Uzá, o cara que caiu morto por apoiar a Arca, que estava caindo da carroça em que ela nunca deveria ter entrado, porque Davi não “buscou ao Senhor da forma correta.” Quando foi que chegamos à conclusão que Deus não se importa com a forma com que adoramos? Ou tudo que importa é o coração? E o que só confunde mais ainda a questão é a noção do que “coração” significa. Fomos moldados pela Era Romântica de tal forma que quando ouvimos “coração”, pensamos em “intenção” ou “desejo”. Mas nas Escrituras, o “coração” é o lugar da vontade. É de onde vem as ações. Mas a questão mais importante é: Você tem certeza de que as suas palavras e o seu coração são coisas separadas? Você é capaz de cantar palavras “ruins” mas tem um “bom” coração? Jesus pareceu deixar muito claro que nossas palavras sempre falam do que está no coração. Talvez nossas palavras no louvor revelem o que nós realmente acreditamos sobre Deus nos nossos corações. Esse é o alvo de toda aquela coisa de Lex Orandi, Lex Credendi, Lex Vivendi. É a convicção de que a forma como acreditamos é a forma como vivemos. Não é só uma frase antiga em latim. Será que é coincidência que, junto do crescimento das “músicas de louvor popular”, vazias de significado e afastadas do conteúdo dos Credos e das Confissões históricas da igreja, também tenha surgido uma nova “religião”, conhecida como Deísmo Moralista Terapêutico [saiba mais aqui], que muitos pensam ser uma forma de “Cristianismo”? Será que nossos louvores e orações se tornaram tão genéricas que a maior parte do que cantamos pode ser facilmente cantado para Simba, o Rei Leão, ou, melhor ainda, a ‘Deusa’ Oprah?
A Bíblia também nos fala que nosso coração é desesperadamente mau. As Escrituras e os Credos e as Confissões históricas da igreja (que foram baseadas nas Escrituras, ou a base para a seleção do Canon da Escritura) são como aquelas hastes de metal fincadas ao lado de uma árvore em cresciment. Sem elas, nosso louvor fica torto.
2 – “O que realmente precisamos é que o Espírito aja”.
Quero perguntar imediatamente: “qual Espírito?” e “como você sabe que é Ele?”. O que essa afirmação pode revelar é uma fixação com alguma experiência. Mas os Cristãos não se reúnem para “experimentar Deus”, como se fossem algum tipo de seita. Nos reunimos para prestar atenção em Deus – Sua presença nos sacramentos, Sua voz nas Escrituras, Seu Espírito em Seu povo – e prestar atenção uns nos outros - nossos companheiros no caminho da cruz. Dizer que é tudo para Deus “mover” em um culto é deixar que no ar uma experiência subjetiva se Ele “moveu” ou não. Se não tomarmos cuidado, podemos pensar que, desde que tenhamos dançado/chorado/gritado/nos movido/etc, não importa se o que foi dito ou cantado foi de fato a verdade sobre o Pai, o Filho e o Espírito. Fazer isso é deixar que a experiência defina a verdade, ao invés de deixar que a verdade defina a experiência. É uma afirmação bizarra: “Eu sinto, logo, é verdade”. Ninguém falaria isso de verdade, mas as nossas ações talvez indiquem que estamos mais preocupados com “como é experimentar Deus” do que com “quem é o Deus da experiência”. Perdoe-me por ser um pouco duro, mas é como dizer “desde que o sexo seja bom, não me importo com quem seja”. E, de fato, esse parece ser o lema da nossa cultura. Mas se queremos ser a Noiva de Cristo, e não a Prostituta da Babilônia, não podemos qualificar um culto cheio de teologia barata por quanto ele nos fez sentir bem.Nosso louvor deve começar com a pergunta “O que é verdadeiro sobre Deus?”, não “O que eu quero/preciso/espero sentir?”
Ah, e falando nisso, todas as vezes em que o Povo de Deus se reúne em nome de Cristo, o Espírito de Deus está lá. Vocês são o Templo do Espírito Santo. Ele está presente quando nos reunimos. A prática de nos reunirmos semanalmente para adorar é para aprender a prestar mais atenção no Pai, no Filho e no Espírito Santo, não para ter uma experiência coletiva.
3 – “Precisamos ser livres para nos expressarmos de nossa própria forma”
Resistindo à necessidade de me referir novamente a Nadabe e Abiú, vou dizer, ao invés disso, que você é livre para fazer um monte de coisas. Você é livre para adorar um falso deus, se quiser. Você é livre, como Adão e Eva eram, para tentar ser como um deus, ao invés de ser um refletor da Imagem de Deus.
“Liberdade” é outra palavra complicada, deturpada pela Era Romântica e pela Revolução Americana. “Liberdade”, no sentido mais americano, é bem diferente na “Liberdade em Cristo”. Jesus não morreu para nos dar liberdade de expressão; Ele morreu para nos libertar do jugo do pecado e da morte que agia sobre nós. Nossa cultura tem idolatrado a autonomia e chamado isso de “liberdade”. Nós gostamos de inovações e não de imitações porque inovação é uma expressão de independência, e imitação é prova de dependência. Mas o louvor bíblico não tem nada com os arrogantes e os independentes. Se você insiste em tornar o louvor em algo sobre “se expressar”, você vai se sentir mais à vontade com o Bezerro de Ouro do que com o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Afinal, o Bezerro de Ouro era uma imagem com que Israel estava familiarizada, uma “expressão de adoração” que eles conheciam, e que fazia sentido para eles. Você não pode moldar YAWEH à sua imagem; você é moldado à imagem dEle, e isso é o porquê de haver uma “maneira correta” de adorá-Lo. É necessária alguma humildade para dizer “eu realmente não sei como adorar”. É necessária alguma humildade para pedir, como os discípulos fizeram, “Senhor, ensina-nos a orar”. E então ouvir as palavras do Pai Nosso e deixar que essas palavras moldem a linguagem da nossa oração. Nós podemos orar nossas próprias orações e escrever nossas próprias músicas? Claro. Mas faríamos bem se deixássemos a nossa linguagem ser moldada primeiro pelos Salmos e pelas Escrituras.
Quando crianças, aprendemos a falar por ouvir. Nossa mãe ou nosso pai falam “bola”, e nós vemos sua boca se mexer e tentamos repetir. Aí falamos junto com eles. Logo, estamos falando por conta própria. Mas não “com as nossas próprias palavras”. Isso seria bobagem. Nós falamos as palavras que falaram para nós. Assim, no louvor e na oração: fale, cante e ore a Palavra que lhe foi falada. Ou, como Paulo escreveu, “habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração.” Colossenses 3.16
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