Lamento, mas com perda não se lida: se sofre. “Que horror, Zágari”, você poderia dizer, “não é bem assim”. Desculpe, mas é sim. É a pura verdade. Ao longo da nossa vida perdemos muitas coisas: bens materiais, tempo, crenças, saúde e, o que é mais precioso: pessoas. O parente que morreu. O irmão que foi morar em outro país. O amigo que te apunhalou pelas costas. A mulher amada que se casou com outro. A verdade crua é que, nessas situações, não há nada a se fazer. Exceto sofrer.
Eu sei, esse pensamento contraria o triunfalismo que é pregado em milhares de púlpitos brasileiros, segundo o qual sofrimento é para ímpio, crente não sofre. Mentira. Jesus, que era um homem de dores, nos prometeu aflições. Nos prometeu sofrimento. Nos disse que haveria perda. “Quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim. Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á.” (Mt 10.38, 39). Perda. Ela virá. E com ela, sofrimento. Prepare-se.
“Diga para quem está ao seu lado: Somos mais do que vencedores!”, bradarão os empolgadores de multidões. Mas quer saber a verdade nua e crua, meu irmão, minha irmã? Ao longo da sua vida você vai perder. Muitas coisas. Muitas pessoas. Estenderá a mão e não as alcançará. E vai sofrer por isso. Acostume-se: assim é a vida. Davi, o homem segundo o coração de Deus, perdeu mais de um filho. O primeiro que teve com Bateseba morreu bebê. Absalão foi assassinado. Te convido a ouvir a voz do pai quando soube da perda, relatada em 2 Samuel 18.33. Mas não leia simplesmente o versículo. Sinta-o. Tente sentir o que se passava no mais íntimo do coração do homem segundo o coração de Deus: “Então, o rei, profundamente comovido, subiu à sala que estava por cima da porta e chorou; e, andando, dizia: Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!”.
Quanta dor, meu Deus, quanta dor.
Perda. Dor. Lágrimas. Angústia. Sofrimento. Certos e garantidos na vida daqueles que amam o Senhor e que lhe são fieis. Jó, “homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal”, perdeu os sete filhos e as três filhas de forma terrível. Todos ao mesmo tempo e de maneira sangrenta. Morreram esmagados, sob os escombros de uma casa que desmoronou. Consegue nem que seja de longe imaginar (eu não consigo) o que sente um pai que perde dez filhos de uma vez estraçalhados por escombros? Dizem que a dor de perder um filho é a pior que há. Agora multiplique por dez e você terá uma vaga ideia do que o que o “homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal” sentiu. E, se ele passou por aquilo, por que conosco seria diferente? Eu, Mauricio Zágari, não chego à sola dos pés de Jó. Nem de longe sou um homem segundo o coração de Deus, como Davi, embora quisesse ser. E, apesar disso, desejo que minha vida seja um mar de rosas. E… confesse: você também quer. Petulantes que somos.
Duras palavras, meu irmão, minha irmã. Sei disso. Mas o descanso está apenas no porvir. Não há explicações para a perda, além da soberania de Deus, cujos caminhos são mais elevados que os nossos, que conhece todos os mistérios e cuja essência é o mais puro amor. Então como compreender isso?
Adeptos do Teísmo Aberto e da Teologia Relacional se chocam tanto com esse fato da vida, que o Deus amor permite tanto sofrimento, que preferiram forjar a explicação herética de que “nas perdas e tragédias Deus abriu mão de sua soberania e não participa”. Mentira. Deus nunca abriu mão de sua soberania, é atributo seu inseparável de seu Ser tanto quanto o amor. E do mesmo modo que o Senhor nunca deixaria de ser 100% amor, Ele nunca deixaria de ser 100% soberano. “Tá, Zágari, então como você explica as perdas e o sofrimento?”. Eu não explico, querido, querida. Sou incapaz e incompetente para compreender a mente de Deus. Sei que sofrerei perdas. Sei que sentirei dor. Sei que sofrerei. Sei que viverei lutos por pessoas que morreram e também por aquelas que seguem vivas, mas que perdemos. O que me cabe fazer? Fazer e dizer como Jó (Jó 1.21-23): “Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a cabeça e lançou-se em terra e adorou; e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor! Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma”.
Explicação não há. Há sim uma compreensão, que está em Romanos 9.14ss: “Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia. (…) Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz. (…) Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?”.
Você está vivo? Então prepare-se para ter perdas. Para sofrer. Prepare-se para o ai. Sim, você chorará. Prometer que só porque você é cristão e o Espírito habita em si isso não acontecerá é mentira triunfalista e antibíblica. Não creia nela.
Mas há um porém.
Uma simples promessa, escondida no meio de 66 livros, para aqueles que chegarem, doloridos, sofridos e vitoriosos, ao final da jornada: “E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho”. Essa é a esperança. Perderemos nesta vida. Ganharemos na próxima. Eis a essência do Evangelho.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
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