sábado, 22 de maio de 2010

Os afetos que tornam autêntica a adoração – John Piper


Agora sejamos específicos.
Quais são os sentimentos ou afetos que tornam autênticos os atos exteriores de adoração?
Para chegar à resposta, recorreremos aos salmos e aos hinos inspirados do Antigo Testamento. Um conjunto de afetos diferentes entrelaçados pode tomar conta do coração a qualquer momento. Portanto, a extensão e seqüência da lista abaixo não têm a intenção de limitar as possibilidades de prazer no coração de alguém.



Talvez a primeira resposta do coração ao ver a santidade majestosa de Deus seja o silêncio perplexo.

"Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus" (SI 46.10). "O Senhor está em seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra" (He 2.20).


Do silêncio brota um sentimento de temor, reverência e maravilha diante da imensa grandeza de Deus.

"Tema ao Senhor toda a terra, temam-no todos os habitantes do mundo" (SI 33.8).


E por sermos todos pecadores, em nossa reverência há um medo santo do poder justo de Deus.

"Ao Senhor dos Exércitos, a ele santificai; seja ele o vosso temor, seja ele o vosso espanto" (Is 8.13). "Entrarei na tua casa e me prostrarei diante do teu santo templo, no teu temor" (SI 5.7).


Esse temor, porém, não é um terror paralisante, cheio de ressentimento contra a autoridade absoluta de Deus. Ele encontra alívio na contrição, no arrependimento e na tristeza por nossa distância de Deus.

"Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus" (Si 51.17). "Assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos" (Is 57.15).


Misturado ao sentimento genuíno de contrição e tristeza pelo pecado aparece um anseio por Deus.

"Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo" (SI 42.1, 2). "Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam. Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre" (SI 73.25, 26). "Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água" (SI 63.1).


Deus não fica indiferente ao anseio contrito da alma. Ele vem, retira a carga do pecado e enche nosso coração de alegria e gratidão.

"Converteste o meu pranto em folguedos; tiraste o meu pano de saco e me cingiste de alegria, para que o meu espírito te cante louvores e não se cale. Senhor, Deus meu, graças te darei para sempre" (SI 30.11, 12).


Nossa alegria, porém, não é resultado apenas da gratidão gerada pelo olhar em retrospectiva. Ela também vem do olhar esperançoso prospectivo:


"Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu" (SI 42.5). "Aguardo o Senhor, a minha alma o aguarda; eu espero na sua palavra" (SI 130.5).


No fim das contas, o coração não anseia por qualquer das dádivas de Deus, mas pelo próprio Deus. Vê-lo, conhecê-lo e estar em sua presença é o maior banquete da alma. Depois disso ela não quer mais nada. As palavras passam a ser insuficientes. Nós falamos de prazer, alegria, delícia, mas esses são apenas frágeis indicadores da experiência indizível.


"Uma coisa peço ao Senhor, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo" (SI 27.4). "Na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente" (SI 16.11). "Agrada-te do Senhor" (SI 37.4).


Esses são alguns dos afetos do coração que podem evitar que a adoração seja "em vão". Adorar é uma maneira alegre de refletir de volta para Deus o brilho do seu valor. Não é um mero ato de vontade, pelo qual executamos ações externas. Sem a participação do coração, não adoramos de verdade. O envolvimento do coração na adoração é o despertamento de sentimentos, emoções e afetos do coração. Onde os sentimentos por Deus estão mortos, a adoração está morta.

A adoração genuína precisa incluir sentimentos interiores que refletem o valor da glória de Deus. Se não fosse assim, a palavra hipócrita não teria sentido. Mas a hipocrisia existe — ter emoções exteriores (como cantar, orar, dar, recitar) que significam afetos do coração que não existem.

"Este povo me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim."

Fonte: http://www.ocristaohedonista.com/

O Que aconteceu com o Pecado? - J. MacArthur


A guerra contra a culpa



Nossa cultura declarou guerra contra a culpa. O próprio conceito é considerado medieval, obsoleto e inócuo. Geralmente, aqueles que têm problemas com sentimento de culpa recorrem a um terapeuta, cuja tarefa é melhorar a auto-imagem do paciente. Ninguém, afinal de contas, deve sentir-se culpado. A culpa não conduz à dignidade e nem à auto-estima. A sociedade encoraja o pecado, mas não tolera a culpa produzida por ele.


O Dr. Wayne Dyer, autor do megabest-seller, Your Erroneous Zones, parece ter sido uma das primeiras vezes influentes a desacreditar comple¬tamente a culpa. Ele denominou a culpa de o "mais inútil de todos os comportamentos da zona de erro". De acordo com o Dr. Dyer, a culpa não é nada além de uma neurose. "A zona da culpa", ele escreveu, "deve ser banida, varrida e esterilizada para sempre."


Como vamos limpar e esterilizar nossas zonas de culpa? Rejeitando o comportamento pecaminoso que faz com que nos sintamos culpados? Arrependendo-nos e buscando o perdão? Conforme o Dr. Dyer, não. De fato, sua solução para a culpa está muito longe do conceito bíblico de arrependimento. Seu conselho aos leitores que se sentem culpados é o seguinte: "Faça algo que você sabe que, com certeza, resultará em sentimento de culpa....Isole-se por uma semana, se você sempre quis fazer algo parecido — apesar dos protestos causadores de culpa dos outros membros da família. Este tipo de comportamento o ajudará a lidar com a culpa onipresente". Em outras palavras, afronte sua culpa. Se necessário, rejeite sua própria esposa e seus filhos. Ataque de frente o senso de auto-reprovação. Faça algo que com certeza o fará sentir-se culpado, e então rejeite a culpa, não atente aos gritos da consciência, aos deveres da responsabilidade familiar, ou até mesmo aos apelos dos seus queridos. Você deve isso a si mesmo.
Raramente a culpa é tratada com seriedade. Normalmente é retratada como um mero desgosto, um aborrecimento, um pequeno contratempo da vida. Recentemente, no nosso jornal local havia um artigo característico sobre a culpa. Era um texto leve, que tratava, na sua maioria, de pequenas indulgências como comidas caras, batatas fritas, dormir tarde e de outros "prazeres que nos fazem sentir culpados", como o artigo as chamava. Ele citava muitos psiquiatras e outros especialistas em mente. Todos caracterizavam a culpa como uma emoção infundada, que tem o potencial de tirar toda a alegria da vida.


Um catálogo de artigos da biblioteca relaciona artigos de revistas recentes com o título de Culpa: "Como não ser tão severo consigo mesmo", "A culpa pode levá-lo à loucura", "A negociação da culpa", "Livrando-se das culpas", "Pare de se desculpar", "Culpa: livre-se dela", "Não alimente o monstro da culpa" — e muitos outros títulos semelhantes.

Uma manchete da coluna de conselhos de um jornal chamou a minha atenção. Ela resumia a opinião universal da nossa geração: "NÃO É SUA CULPA". Uma mulher escreveu ao colunista para dizer que j á havia tentado todos os tipos de terapia que conhecia, mas ainda não tinha conseguido se livrar de um hábito auto-destrutivo.
A colunista respondeu: "O primeiro passo que você deve dar é parar de se culpar. Você não é culpada pelo seu comportamento compulsivo; recuse-se a aceitar a culpa — e acima de tudo, não se culpe — pelo que foge ao seu controle. Acumular culpa apenas aumenta o estresse, a baixa auto-estima, a preocupação, a depressão, o sentimento de imperfeição e a dependência dos outros.... Livre-se de seus sentimentos de culpa".


Atualmente, você pode libertar-se de quase todo tipo de culpa. Vivemos numa sociedade "sem falhas". Até Ann Landers escreveu:

Um dos exercícios mais dolorosos, auto-mutiladores, que consomem mais tempo e energia na experiência humana é a culpa....Ela pode arruinar o seu dia, sua semana ou sua vida, se você permitir. E como trazer à tona o azar quando você fez alguma coisa desonesta, prejudicial, descuidada, egoísta ou corrupta....Não importa se isso foi resultado de ignorância, estupidez, preguiça, negligência, fraqueza da carne ou covardia. Você fez algo errado e a culpa está lhe matando. Que pena! Mas esteja certo de que a agonia que você sente é muito natural....Lembre-se de que a culpa é um poluente e não precisamos mais disso no mundo.


Em outras palavras, você não deveria permitir a si mesmo sentir-se mal "quando faz algo desonesto, prejudicial, descuidado, egoísta ou corrupto". Pense em si mesmo como sendo bom. Talvez ignorante, obtuso, preguiçoso, negligente ou fraco — porém bom. Não polua sua mente com o pensamento debilitante de que talvez você seja culpado de alguma coisa.


Sem culpa, sem pecado


Esse tipo de pensamento tirou do discurso público palavras como pecado, arrependimento, contrição, expiação, restauração, redenção. Se se presume que ninguém sente culpa, como alguém poderia ser um pecador? A cultura moderna nos responde: as pessoas são vítimas. Vítimas não são responsáveis pelo que fazem, elas são conseqüência do que lhes acontece. Sendo assim, toda falha humana deve ser descrita nos termos de como o criminoso foi vitimado. Todos deveríamos ser suficientemente "sensíveis" e "compassivos" para perceber que os próprios comportamentos que eram rotulados de "pecado" são na verdade evidências da vitimização.
No que concerne à sociedade, a vitimização adquiriu tanta influência que praticamente não existe mais esta coisa de pecado. Qualquer um pode esquivar-se da responsabilidade de seu erro, bastando para isso colocar-se na posição de vítima. Isso mudou radicalmente a maneira da,, nossa sociedade considerar o comportamento humano.


Em Nova York, durante um assalto, um ladrão foi baleado pelo proprietário da loja que estava assaltando e ficou paralítico. Mais tarde ele processou o proprietário da loja que havia atirado nele. Seu advogado argumentou que, antes de mais nada, o ladrão deveria ser visto como uma vítima da sociedade, levado ao crime pelas suas desvantagens econômicas. Agora, disse o advogado, ele foi vítima da insensibilidade do proprietário que havia atirado nele. Por causa da insensibilidade daquele homem, que aproveitou-se de uma situação de descuido do ladrão, que era uma vítima, o pobre criminoso estará confinado a uma cadeira de rodas pelo resto da vida. Ele merece alguma compensação. O júri concordou. O dono da loja pagou uma grande soma de dinheiro. Meses depois, o mesmo homem, ainda na cadeira de rodas, foi preso quando cometia outro roubo à mão armada.


Bernard McCummin explorou semelhante vitimização até se tornar um homem rico. Depois de assaltar e golpear um idoso no metrô, McCummin levou um tiro enquanto fugia do local do crime. Paralítico para sempre, processou as autoridades de Nova York e ganhou a causa, tendo recebido quatro milhões e oitocentos mil dólares. O homem que foi roubado — um canceroso — ainda paga as contas do médico. McCummim, o assaltante que o tribunal considerou como a maior vítima, é hoje um multimilionário.


Na Inglaterra, em dois casos distintos, uma garçonete que esfaqueou uma mulher até a morte durante uma briga de bar, e outra mulher furiosa que jogou seu carro contra seu amante, foram absolvidas de assassinato depois que alegaram que estavam com a mente aturdida por causa da tensão pré-menstrual (TPM), o que as havia levado a agir de modo descontrolado. s duas, em vez de receberem uma punição, estão fazendo terapia.


Um inspetor da cidade de São Francisco alegou que assassinou seu colega de trabalho, o inspetor e Prefeito George Mascone, porque o excesso de caloria na comida - especialmente Hostess Twinkies [tipo de bolo recheado de baunilha e muito doce (N.T.)] o fez agir irracionalmente. Assim nasceu a famosa defesa "Twinkie". "Um júri indulgente aceitou a argumentação e deu o veredito de homicídio culposo em vez de assassinato." O júri decidiu que o excesso de caloria na comida resultou na "diminuição da capacidade mental", o que abrandou a culpa do assassino. Ele saiu da prisão antes que o mandato do prefeito seguinte terminasse.

Integrantes de uma gangue de desordeiros em Los Angeles surraram Reginald Denny quase até a morte diante das câmeras da TV. O júri os condenou à pena mínima depois de decidir que eles foram levados pelo calor do momento e, portanto, não eram responsáveis pelos seus atos.
Atualmente, nos Estados Unidos, teoricamente, é possível cometer o crime mais monstruoso e safar-se sem problemas; basta alegar um distúrbio emocional ou mental, ou então inventar uma angústia qualquer para explicar porque você não é responsável por aquilo que fez.
Um traficante e viciado em cocaína de Bronx atirou diretamente na cabeça de oito crianças e duas mulheres, porém foi inocentado do homicídio. Em "Nova York, o seu crime foi considerado o maior crime em massa desde 1994. Mas os jurados entenderam que as "drogas e o estresse explicavam razoavelmente o seu ato". Disseram que "ele havia agido sob extremo estresse emocional e influência das drogas" — assim, consideraram-no culpado num grau menor, o que levou a uma sentença leve.
Os criminosos não são os únicos que usam desculpas para livrarem-se das conseqüências dos seus erros. Milhões de pessoas, de todas as camadas sociais, estão usando táticas semelhantes para se desculparem por seus atos ruins.


Michael Deaver, subchefe dos auxiliares de Ronald Regan, não reconheceu sua culpa por juramento falso, alegando que o álcool e as drogas haviam debilitado sua memória. Ele admitiu que "estava bebendo secretamente um quarto de garrafa de uísque por dia" enquanto trabalhava na Casa Branca. O juiz, pelo menos em parte influenciado pelo argumento, deu a Deaver apenas uma suspensão.''


Richard Berendzen, presidente da Universidade Americana em Washington, D.C., foi pego dando telefonemas obscenos para mulheres. Alegando-se vítima, por ter sofrido abusos sexuais na infância, Berendzen foi apenas suspenso, mas depois negociou uma indenização de um milhão de dólares com a universidade. Escreveu um livro sobre sua provação e explicou que os telefonemas obscenos eram seu método de "coletar informações". O livro recebeu elogios exagerados no Washington Post e no USA Today.

Fonte: http://www.josemarbessa.com/

Um Evangelho mais Aceitável? – M. Lloyd-Jones

A tentativa de tornar o evangelho aceitável aos homens já é em si errada. Diz-nos a Bíblia que o homem está num estado de pecado, que o homem está cego, cegado pelo deus deste mundo, que "a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser" (Romanos 8:7), que "o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1 Coríntios 2:14). Essa tendência moderna esquece tudo isso. A idéia de que você pode tomar o evangelho e, por causa do conhecimento moderno, apresentá-lo de tal modo que vai ser mais fácil ao homem moderno crer nele, é uma negação do evangelho. "O escândalo da cruz" (Gaiatas 5:11) desapareceu, o escândalo do cristianismo evaporou-se, a "loucura" da pregação ou da mensagem pregada não é mais verdadeira. Está completamente errado.

Deixem-me, porém, acrescentar isto: é também tolo demais. Se eu preciso do conhecimento moderno para me ajudar a crer na Bíblia, como é que as pessoas criam nela no passado? Se eu tenho que apoiar-me na microfísica e dar graças a Deus por ela porque agora ela me torna fácil crer no evangelho, que dizer das pessoas que aceitavam as teorias de Isaac Newton? Noutras palavras, se vocês usarem essa atitude moderna como teste da história, verão que imediatamente a coisa toda se torna ridícula.
Eis mais uma razão: não há nada mais perigoso do que ser dirigido pelo conhecimento moderno. Por quê? Porque o que é conhecimento moderno hoje, será obsoleto amanhã, ou pelo menos em dez anos, ou certamente dentro de cinqüenta anos. Onde estão os "resultados seguros" da Alta Crítica contra a qual o Dr. Campbell Morgan teve que lutar quando estava aqui, antes da Primeira Guerra Mundial? Tantos deles esvairam-se no ar. Não se têm "resultados seguros". Nada é tão precário como basear qualquer parte da sua posição no conhecimento moderno ou na ciência moderna. De igual modo, nada é tão perigoso como a tendência moderna de confundir teorias e fatos.

Finalmente, considerem isto: o moderno evangélico conservador que pensa segundo essas linhas, faz isso porque quer conquistar pessoas para o evangelho. Mas, considerem o que diz um escritor americano, chamado Hordern, escrevendo em 1959, na obra, The Case for a New Reformation Theology (Argumentação em prol de uma Teologia da Nova Reforma). Ele não é um evangélico conservador; ele esposa o que denominou teologia da "nova reforma". Diz ele: "A nova teologia conservadora de hoje, em seu desejo de ser atualizada, intelectual e relevante, corre o grave perigo de conformar-se demasiado estreitamente à era moderna para poder levar uma palavra a essa era". O que ele quer dizer é que você pode modificar tanto a sua mensagem, a sua crença ou o seu método, que o homem que você está querendo conquistar para Cristo diz: bem, não vejo muita diferença entre o que você está dizendo e o que eu já cria. Você não será mais capaz de ajudá-lo. Em seu desejo e anseio exagerado de ajudá-lo, você está frustrando o seu próprio esforço e empenho.

Estaria eu querendo dizer com isso que não há nenhum lugar para a apologética? Não, mas é vital que compreendamos exatamente qual é o lugar da apologética. Ei-lo: a principal tarefa da apologética é dar apoio à fé do crente. Ela não o torna crente, porém o ajuda a manter e firmar a sua fé. A função da apologética é mostrar o erro e a completa insuficiência de todos os outros conceitos alheios ao conceito bíblico. A apologética, o uso do conhecimento moderno, é excelente como introdução do sermão, mas não deve ir além disso. É muito boa no trabalho de demolição, contudo não ajuda na construção. Ajuda a derribar o velho edifício, mas não ajuda a erigir o novo. Jamais pode levar alguém à salvação. Seja qual for o uso que se faça do conhecimento moderno, da argumentação moderna, ou de quaisquer outros implementos e armas carnais, jamais levará alguém à fé em Cristo.

Fonte: http://www.martynlloyd-jones.com/

Os Incrédulos Tropeçam-Os Crentes se Regozijam - C.H. SPURGEON


“Como está escrito: Eis que Eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer Nela não será confundido.” (Rm 9:33 )


O nosso Apostolo foi inspirado por Deus e, não obstante, ele foi levado a citar passagens tomadas do Antigo Testamento. O Espírito de Deus teria podido ditar-lhe novas palavras; teria podido mostrar-lhe como confirmar a verdade mediante outros argumentos, mas a Ele não Lhe agrada fazer isso. Guia o Seu servo a estabelecer a Verdade presente por meio de verdades reveladas anteriormente, e assim dá-nos o exemplo de como esquadrinhar as Escrituras e de valorizar os antigos oráculos de Deus. A passagem sob a nossa consideração parece estar composta por duas Escrituras entrelaçadas até serem convertidas numa, um método que era utilizado com freqüência pelos apóstolos. Uma parte do texto que estamos considerando encontra-se em Isaías 28: 16.
O Apóstolo não faz uma citação literal, porém dá-nos o sentido em lugar das palavras: "Eis que Eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apressará.” (Is 28:16 ). Mas, o Apóstolo Paulo insere essa palavra de profecia na outra, citando desta vez de Isaías 8: 14: "Então Ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às duas casas de Israel". Não posso evitar fazer uma ou duas observações sobre estas passagens antes de abordar o texto que vamos considerar.
Em Isaías 8:14, percebe-se uma surpreendente prova da divindade de Cristo. Vide o décimo terceiro versículo: "Ao SENHOR dos Exércitos, a Ele santificai; e seja Ele o vosso temor e seja Ele o vosso assombro. Então Ele", isto é, o SENHOR dos Exércitos" será por santuário" para os crentes; "mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às duas casas de Israel". Isaías expressa uma profecia do SENHOR dos Exércitos, e Paulo cita-a em referência ao Senhor Jesus Cristo, com o propósito claro de que concluamos que o Senhor Jesus Cristo não é outro que o próprio Jeová, Ele mesmo.

Aprendemos da segunda passagem outra Verdade de Deus que serve para ilustrar mais de perto o nosso texto. Em Isaías 28:16, lemos, "Eis que eu assentei em Sião uma pedra". O apóstolo omitiu as palavras "por fundamento" e inseriu as palavras da outra passagem, "mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo". Mas a profecia original de Isaías serve para nos mostrar que o propósito real de Deus ao pôr a Cristo em Sião não era para que os homens tropeçassem nEle, mas sim, para que fosse o alicerce para as suas esperanças. O propósito real de Deus era que Cristo fosse a pedra angular para a confiança humana.
Mas o resultado foi que para um conjunto de homens renovados pela Graça Toda-poderosa, Cristo veio a ser um santuário de refúgio e em uma pedra de dependência. E para outros, deixados na sua própria depravação, Ele tornou-Se numa pedra de tropeço e rocha de escândalo — estes são alguns comentários sobre as primitivas Escrituras que Paulo cita. Vamos, agora, ao próprio versículo. O nosso texto informa-nos que muitos tropeçam em Cristo. E, logo, em segundo lugar, assegura-nos que quem recebe a Cristo e crê nEle, não terá motivo para estar envergonhado.

I. A primeira declaração não necessita nenhuma prova, pois a própria observação ensina-nos que MUITOS TROPEÇAM EM CRISTO. Tão logo Deus foi manifestado na carne, os mortais começaram a tropeçar nEle. "Não é este o filho do carpinteiro?", era a pergunta de quem esperava a pompa mundana e a grandeza imperial. "Conhecemos o Seu pai e a Sua mãe e, não estão conosco todas as Suas irmãs?", era a objeção sussurrada pelos seus próprios concidadãos. O maior de todos os profetas não tinha nenhuma honra na Sua própria terra. O nosso Senhor foi rejeitado por toda a espécie de homens. Ainda que O olhassem desde diferentes origens, todos o faziam com o mesmo olho escarnecedor.
Os fariseus tropeçavam nEle porque Ele não era, nem supersticioso, nem ostentoso; certamente, Ele não lavava as Suas mãos antes de comer, nem tampouco orava nas esquinas das ruas! Ele tinha relações com os publicanos e pecadores! Ele não alargava os seus filactérios. Ele curava os enfermos doentes no dia de repouso! Ele não tinha qualquer respeito pelas tradições, e por tudo isso, todo o 'justo' fariseu O aborrecia. O saduceu, por outro lado, apesar de que odiava a superstição farisaica, desprezava igualmente a Cristo em grande medida. As suas objeções eram disparadas de outro âmbito. Para ele, Cristo era muito supersticioso, pois o saduceu não cria nem em anjo, nem em espírito nem na ressurreição dos mortos — e a todas estas crenças o Profeta de Nazaré sustentava-as abertamente.
O ceticismo filosófico detestava Jesus porque o Seu ensino continha muito do elemento sobrenatural. Ao longo de toda a Sua vida, tanto nas cortes superiores do Herodes ou de Pilatos, como entre as mais baixas fileiras da turba da Judeia, Cristo foi desprezado e rejeitado entre os homens. Desde tempos antigos haviam açoitado a todos os profetas os quais o Senhor tinha enviado, e era pouco surpreendente que agora atacassem ao próprio Senhor. "Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não chorastes", isto podiam dizer todos os profetas de Deus, pois Israel não recebeu nem ao homem solitário cujo alimento consistia em gafanhotos e mel silvestre, nem ao mais cordial Espírito que chegou comendo e bebendo.
Eliminaram todos os profetas de Deus e não aceitaram nenhuma da suas repreensões. E quando o próprio Filho chegou, disseram: "Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança." Os judeus a uma voz rejeitaram-No, com a única exceção do remanescente, conforme à eleição da Graça. Mas o judeu não está sozinho na sua ofensa dirigida à Cruz. Sabemos que quando o Evangelho foi levado aos gentios posteriormente, Cristo crucificado foi pedra de tropeço para eles. Os refinados gregos, com os seus diversos sistemas de filosofia, esperavam ver no Messias um pensamento profundo e um gosto clássico. Porém, quando ouviram pregar Paulo sobre a ressurreição dos mortos, não viram nada que adulasse a sua filosofia e então escarneceram abertamente dessa pregação.
Enquanto o judeu recolhia o seu manto de franjas estendidas e chamava a Cristo 'pedra de tropeço', o grego marchava para o seu templo clássico ou para a sua academia científica, e gritava: "Disparate! Os homens que falam assim devem estar loucos!" Em todo o tempo, inclusive até na nossa época, sempre que Cristo é pregado, o coração humano tem sido instigado imediatamente à ira contra Ele. O embaixador de Deus tem encontrado homens relutantes a receber a paz por ele proclamada. O amado Filho de Deus, que não veio senão com palavras de misericórdia e ternura, foi aborrecido e rejeitado pelos próprios homens a quem veio para abençoar. "Veio para o que era Seu, e os Seus não o receberam.”
Não obstante, nós temos pouco a ver com essas épocas passadas — temos a ver muito mais com o presente e conosco mesmo. E é uma coisa triste saber que no meio desta assembléia, ainda que suponho que nos autodenominamos Cristãos, há muitas pessoas para quem Cristo é ainda pedra de tropeço e rocha de escândalo. É um fato lamentável que há centenas de milhares de pessoas em Londres para quem o Evangelho de Cristo é tão pouco conhecido como dos hindus ou dos tártaros, Cristo não é uma pedra de tropeço para estes — pois não O conhecem e, portanto, não têm a culpa que alguns de vós tendes — por ter ouvido dEle e rejeitá-Lo.
No meio da presente assembléia há alguns que tropeçam em Cristo por causa da Sua santidade. Ele é demasiado estrito para eles. Eles queriam ser cristãos mas, não querem renunciar aos seus prazeres sensuais. Eles quereriam ser lavados no Seu sangue, mas desejam ainda rolar no atoleiro do pecado. Há muitas pessoas que estariam suficientemente dispostas a receber a Cristo se, depois de O receber, pudessem continuar com a sua bebedeira, com a sua devassidão e com o seu comodismo. Porém, Cristo deita o machado à raiz das árvores — Ele diz-lhes que terão de renunciar a tudo isto—“porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos de desobediência", e, além disso, "sem santidade ninguém verá o Senhor".
A natureza humana se levanta contra isto. "Como? Não poderei gozar de nenhuma lascívia favorita? Não poderei desfrutar destas coisas, ao menos, de vez em quando? Tenho de abandonar, por completo, os meus velhos hábitos e os meus antigos caminhos? Tenho de ser feito uma nova criatura em Cristo Jesus?" Estes são termos muito duros, são condições muito severas, e assim, o coração humano retorna às panelas de carne do Egito e agarra-se ao alho e às cebolas do antigo estado de servidão, e não quer ser libertado nem através de um maior que Moisés que eleva a vara para dividir o mar, e promete dar-lhe Canaã , donde flui leite e mel. Cristo ofende os homens porque o Seu Evangelho é intolerante com o pecado.
Outros tropeçam com o nosso bendito Senhor porque não gostam do plano de ser salvos inteira e unicamente por meio da fé. Há algumas dessas pessoas aqui? Eu suponho que haverá algumas. Elas dizem: "O quê? As nossas boas obras não valem nada? Não há nada que possamos fazer para ajudar na nossa salvação? Dize-nos que o que justifica a alma é confiar unicamente em Cristo, sem nada mais. Então não o entendemos, ou ainda que o entendêssemos, nós não gostamos". Isto é demasiado humilhante, demasiado simples, demasiado fácil. "Por quê", diz o homem que sempre tem assistido à igreja da sua paróquia ou na sua casa de reunião, que não deve nada a ninguém e que é generoso para com os pobres—"Por que então a minha posição não é nada melhor que a da prostituta, que percorre as ruas, à meia-noite! Ou que a do ladrão que cumpre o seu mês de castigo, em trabalhos forçados".
Não seria melhor a tua condição, meu querido ouvinte, quanto à tua salvação eterna, se recusas crer em Cristo. A condenação do ímpio descarado é certa, mas, igualmente certa será a tua se, depois de teres ouvido o plano de salvação, dás a volta e o desprezas porque preferes a tua justiça própria à justiça de Deus! Ah, quantos naufragam ao baterem contra esta rocha e quantos são tragados por esta areia movediça! Eles queriam ser salvos, mas não aceitam dobrar o joelho. Eles não estão contentes por receber a salvação de Deus, pela fé em Cristo Jesus, e assim, perecem devido ao seu teimoso orgulho.
Conheci a outros que tropeçam em Cristo por causa da doutrina que Ele prega, mais especificamente, as Doutrinas da Graça. Nesta casa entra alguém que, se pregássemos um sermão sobre a virtude cristã, diria: "eu gostei desse discurso"; mas, se pregássemos a Cristo, e, começássemos a falar a respeito das doutrinas profundas contidas no Evangelho, tais como a eleição, a chamada eficaz e o eterno e imutável amor, imediatamente se zangam quase até o ponto de ranger os seus dentes. Queriam ter a Cristo, dizem eles, mas não podem aceitar estas doutrinas. "O quê? Deus salva a quem quer e nem sequer pede permissão à criatura? Fará o que Lhe agrade conosco assim como um oleiro faz o que quer com a massa de argila? Hão de dizer na nossa cara que não depende de quem quer, nem de quem corre, mas sim de Deus que tem misericórdia? Não podemos suportar isso — dirigir-nos-emos a algum outro lugar onde o homem receba maior consideração, e onde Deus não seja colocado tão acima das nossas cabeças".
Ah, mas, meu amigo, Jesus Cristo não elaborará a Sua doutrina para te agradar, nem diluirá a verdade da Escritura para que se adapte aos teus gostos carnais. Observa que é no nono capítulo de Romanos onde se encontra o meu texto, e nesse mesmo capítulo de Romanos tens a declaração mais clara e audaz que em qualquer parte foi registrada concernente à Soberania da Graça Divina, e se tu decides fazer da Soberania uma desculpa para não creres em Cristo, perecerás para tua desgraça; e, perecerás merecidamente também, porque queres discutir com a Palavra de Deus e condenas a tua própria alma a ser castigada pela Soberania de Deus.
Mas, na verdade, meus queridos amigos, quando os pecadores estão resolvidos a objetar a Cristo, a coisa mais fácil do mundo é encontrar algo com que objetar. Tenho conhecido a alguns que tropeçam por causa do povo de Cristo. Dizem: "Bem, eu queria crer em Cristo, mas observa aos crentes! Vê quão inconsistentes são eles. Contempla a tantos membros da igreja e vê em que caminhos ímpios caminham, incluindo a alguns ministros", e então, começam a enumerar diversos faltas de alguns eminentes servos de Deus, e pensam que esta é uma desculpa para que eles mesmos vão para o Inferno porque outros não caminham retamente no caminho para o Céu!
Oh, mandarás a tua alma para o Inferno porque outra pessoa não é tudo o que deveria ser? Se Davi cai e se Davi é restaurado, é essa uma razão pela qual tu devas cair, para não ser restaurado, alguma vez? O que importa que alguns peregrinos que se dirigem ao Céu se dirijam à 'Vereda Cômoda do Prado (1) ' e tenham de retornar ao caminho coxeando? É essa uma razão pela qual devas seguir o caminho que conduz à 'Cidade da Destruição'? Parece-me, amigo, que isto só deveria fazer-te mais diligente para procurar fazer firme a tua vocação e eleição! Os naufrágios dos demais deveriam levar-te a navegar mais cuidadosamente; a falência de outros homens deveriam conduzir-te a comercializar com maior diligência e humildade. Porém, citar os defeitos de outros, como uma razão pela qual devas continuar no erro dos teus caminhos, é o método de raciocinar do néscio! Tem muito cuidado, para que não descubras a tua necessidade quando estiver sumida nas chamas do Inferno.
A objeção real do homem natural não é, entretanto, nem contra o povo de Deus, nem contra o plano de salvação, considerado em si mesmo, mas contra Cristo. A pedra de escândalo é Cristo — a Pessoa de Cristo. Vós não quereis aceitar que Este Homem reine sobre vós!; Não estais anuentes a que Ele leve a coroa e a que receba toda a honra da vossa salvação. Preferiríeis perecer no vosso pecado antes que Jesus Cristo seja engrandecido pela vossa salvação. Esta é uma severa acusação, vocês dirão. Se não é verdade, rogo-vos que me demonstrem que é falsa, crendo em Jesus! Se não tendes objeção a Cristo, aceitai-O! Pecador, se tu disseres que não tropeças por causa de Cristo, eu exorto-te, então, a que te apegues a Ele! Se Ele não é detestável para ti, tome-O nos teus braços, agora!
Ora, homem, se estivesses no teu juízo, posto que Cristo te pode salvar com uma salvação eterna, tu certamente O agarrarias, a menos que houvesse alguma objeção pelo caminho. E como não te apegas a Ele, eu te digo que há um obstáculo no teu pecaminoso coração, um tropeço em Cristo que será a tua ruína a menos que Deus te livre disso. Que Deus me ajude agora a argumentar uns poucos minutos com quem não crê em Cristo, com quem O tem feito uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo.
Querido amigo, deixa-me que me aproxime de ti e que tome a tua mão e fale contigo. Alguma vez consideraste quanto insultas a Deus, o Pai, por rejeitares a Cristo? Se fosses convidado para a festa de algum homem, e te aproximasses da mesa e partisses todos os pratos e os lançasses ao chão e os pisasses, não seria isso um insulto? Se fosses um pobre mendigo sentado à porta, e, motivado por pura caridade, um homem rico te convidasse para a sua festa, o que pensarias merecer, se tratasses suas provisões, desta maneira? E, não obstante, esse é precisamente o teu caso. Não tens nenhum merecimento ante Deus. Tu és um pobre pecador sem nenhum direito sobre Ele e, todavia, agradou-Lhe preparar uma mesa para ti. Os Seus novilhos e os Seus animais engordados foram sacrificados, e agora tu não queres vir!
Não! Tu ainda fazes pior! Pões objeções à festa! Desprezas a deleitosa terra e a boa provisão de Deus! Considera somente com quantos gastos se tem realizado a provisão da salvação! O Pai eterno entregou o Seu Filho. Presta atenção! O Seu Bem-Amado, o mais querido do Seu coração, o Seu único Filho, foi entregue à MORTE, e tu desprezas um Dom como este? O que pensas? Não te faria ruborizar se entregasses o teu único filho para lutar pelo teu país e aqueles a quem o entregasses, te desprezassem a ti e ao teu dom? Se por causa de algum patriotismo sobre-humano pelo bem do teu país, chegasses inclusive a matar o teu filho, não te feriria na carne viva se os homens se rissem de ti e fizessem escárnio do ato?
E, todavia, isso é o que fazes para com o Pai eterno, o Qual por amor aos homens apartou do Seu peito ao Seu Amado, cravou-O no madeiro e cobriu-O de dores inexprimíveis. Tu desprezas o dom inexprimível, o ato mais rico de generosidade que inclusive o coração infinito de Deus tivesse podido imaginar, ou a mão infinita de Deus tivesse podido levar a cabo! Tu desprezas tudo isso! Tocas a Deus, permite-me dizer-te, na menina dos Seus olhos. Tu O tens ferido na parte mais sensível! Melhor seria que corresses sobre o fio da Sua espada ou te lançasses sobre as protuberâncias do Seu broquel que desprezares e rejeitares ao Seu unigênito Filho, imolado pela culpa humana.
Considera, de novo, que prova está aqui da tua pecaminosidade, e quão rapidamente serias condenado finalmente, quando este pecado esteja escrito sobre a tua testa. Ora, homem, não haveria necessidade de denunciar nenhum outro pecado contra ti; o livro no qual as tuas faltas têm sido raramente registradas necessita ser aberto, pois esta prova bastaria! Tu tens feito de Cristo uma pedra de tropeço, objetaste ao amado Filho de Deus; então, por que necessitamos nós de outras testemunhas? Pelo testemunho desta única boca serás condenado: "Tu tens aborrecido ao Príncipe de glória. Tu tens-Lhe recusado dar-lhe o teu coração"; portanto, levem-no ao lugar de onde veio. O que importa que não tenhas sido alguma vez um adúltero ou um freqüentador de bordéis, não basta isto? Não mostra isto a escuridão do coração do traidor e a baixeza do teu caráter? Este não quis receber a Cristo! Ele converteu o alicerce que Deus pôs em Sião "em pedra de tropeço e rocha de escândalo". O que pensas disto, tu que me estás escutando?
Além disso, como isto será uma pronta testemunha para te condenar, como aumentará isto a tua miséria? Pensas que Deus será terno contigo quando tu não tens sido terno com o Seu Filho? Quando te lançar para o Inferno, fará com que as chamas sejam menos ardentes? Pensas que a Sua vingança será refrescante para com o homem que tropeçou no Seu Filho? Não! Porém, isso antes, afiará o gume da Sua espada. "Este traidor, com efeito, desprezou o sangue de Cristo". Isso derramará combustível sobre as chamas. "Este homem fez de meu Unigênito Filho uma pedra de tropeço, e agora vou demonstrar-lhe que «quem cair sobre esta pedra, despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó.»
Pensas tu que um rei estaria mais inclinado a ser misericordioso para com um traidor, se soubesse que esse traidor tem desprezado o seu filho? Não. Parece-me mais antes que a sentença deveria ser muito mais severa. Ah, Pecador!, ainda que todos os pecadores escapassem, tu que tens ouvido o Evangelho, não escaparás; ainda que as flechas de Deus errassem noutros pecadores, cravar-se-ão em ti! Tu serás o alvo especial da vingança todo-poderosa, porque foste desobediente e tropeçaste nesta pedra de tropeço. Reflita, homem, não selará isto a eternidade da tua dor? Como poderás escapar se descuidas uma salvação tão grande? Tu quebraste a única ponte que teria podido conduzir-te à segurança! Tu tens desmantelado o único refúgio que teria podido proteger-te da ira divina. "Já não resta mais sacrifício pelos pecados".
Como poderia restar algum? Quando estiveres no Inferno, pensas que Cristo virá uma segunda vez para morrer por ti? De novo derramaria o Seu sangue para te tirar do lugar de tormento? Homem, tens uma imaginação tão vã para sonhares que haverá um segundo resgate oferecido para aqueles que não têm escapado da ira vindoura, e que Deus, o Espírito Santo, virá de novo e tratará com os pecadores que teimosamente O rejeitaram anteriormente? Não, na medida em que o teu Salvador seja rejeitado, e desprezes a vida eterna, e o próprio alicerce seja uma pedra de tropeço, não pode restar nada para ti a não ser uma terrível espera do julgamento e ardente indignação.
E agora outra palavra mais para ti. Não faz tremer o teu coração esta perspectiva do caso? Não é suficiente teres quebrantado a lei de Deus? Por que chegaste ao ponto de desprezares o Seu Filho? Oh, meus olhos! Se vós pudésseis chorar para sempre não choraríeis lágrimas suficientes, porque uma vez recusaste olhar para Ele, que é agora o vosso gozo diário. Não é este um dos piores pecados que teremos de confessar? E, oh Pecador, não o confessarás agora? Não quebrantará o teu coração este pensamento: que tu tens desprezado até aqui a Quem é muito encantador e todo Ele terno? Que o Espírito de Deus introduza isso em vós como um prego em lugar seguro; e parece-me que vós ides voltar-vos para o Redentor dizendo-Lhe: "Meu Senhor e meu Deus, perdoa-me por ter sido tão rude Contigo. Aceita-me, recebe-me no Teu seio, lava-me com o Teu sangue. Toma-me como Teu servo, e salva-me com uma grande salvação".
Feliz é o homem que é conduzido pela graça divina a confessar assim a sua falta, e não tropeça mais. Depois de tudo, que obstáculo há para que tropecemos? Oh, meu querido Ouvinte, por que deverias rejeitar a Cristo? Ele não é um duro capataz: "O Seu jugo é suave e o Seu fardo é leve." Por que deverias recusar a tua própria misericórdia? Acaso, ser salvo é uma desgraça? Acaso, ser limpo do pecado é uma calamidade? Acaso, ser feito um filho de Deus é uma desvantagem? Escapar do Inferno e voar para o Céu, não é a mais desejável de todas as misericórdias? Por quê, então, desprezar a Cristo? Isso é irracional! Que Deus te livre deste irracional pecado e te conduza agora a aceitar a Cristo com um coração perfeito, e Ele receberá o louvor por isso eternamente.

II. Agora, vou procurar explicar, com a ajuda do Espírito de Deus, a segunda parte: a parte mais consoladora do texto: "E TODO AQUELE QUE CRER NELE NÃO SERÁ CONFUDIDO". Sentir-te-ás confundido ao pensar que não creste antes; serás confundido ao pensar que não crês mais firmemente agora; com freqüência sentirás vergonha e confusão de rosto por conta da tua ingratidão, e da tua pecaminosidade e do teu desencaminhamento de coração. Porém o texto quer dizer que não serás confundido por teres confiado em Cristo. Quem crê em Cristo nunca terá alguma causa para estar confundido por havê-lo feito.

1. Ao tratar isto, antes de mais nada, vou comentar quando é que aqueles que confiam em Cristo poderiam ser confundidos por ter crido nEle. Bem, eles poderiam envergonhar-se, se Cristo os abandonasse alguma vez. Se alguma vez se chegasse a isto: que Ele, o esposo do meu coração, me abandonasse e me deixasse como uma viúva solitária, no mundo; se, depois de haver dito: "Não te desampararei, nem te deixarei", Ele Se apartasse, depois de tudo, e, nunca dedicasse ao Seu servo qualquer sorriso do Seu rosto, então eu teria razão, na verdade, de ver-me confiado por ter posto a minha confiança num Salvador tão inconstante.
O Cristo do arminiano é alguém de quem têm boa base para envergonhar-se, porque redime aos homens com o sangue precioso e, não obstante, vão para o Inferno. O Cristo do arminiano ama hoje, mas odeia amanhã; salva por graça, mas essa graça depende do uso que o homem faça dela; resgata aos homens de um estado de condenação e justifica-os; mas, depois de tudo, deixa-os retornar ao estado de condenação e, depois de tudo, perecem.
Porém, o Cristo dos cristãos é uma Pessoa muito diferente: uma vez que os ama jamais os abandona; onde Ele tem começado uma boa obra continua fazendo-a e aperfeiçoa-o. O Cristo do cristão diz: "Eu dou às Minhas ovelhas vida eterna; e não perecerão jamais, nem ninguém as arrebatará da Minha mão". Enquanto o cristão não descubra que a Graça de Deus se foi por completo, que o amor de Cristo cessou, não terá qualquer razão para ser envergonhado. Além disso, o cristão teria razão para duvidar se Cristo fosse falhar-lhe, quer quanto à providência ou à graça, ou nos seus tempos de tribulação e de tentação. Se o Senhor não me segurar quando estiver no meio dos rios, teria razão para me corar pela minha esperança. Se caminhando através da fogueira as chamas me queimassem, e não encontrasse que o Senhor fosse o meu pronto auxílio nas tribulações, então seria envergonhado.
Oh, Amados, quando poderá acontecer isto? 'Em seis tribulações te livrou, e na sétima não te tocará o mal'. Têm sido muito abatidos e não teriam podido estar mais abaixo, a menos, que tivessem estado na vossa tumba. Têm sido muito pobres, tendo escassamente pão para comer ou roupa para vestir! Tudo aquilo no que confiavam deixou de ser o vosso sustento. Ficaram órfãos no mundo, com a exceção do vosso Pai que está no Céu. Mas, mesmo assim, apesar de tudo isso, não vos foi dado o pão? Não vos tem sido assegurada a vossa água? E, não tem de ser o vosso testemunho hoje, no concernente a Deus, que Ele tem sido um amigo que tem permanecido mais próximo que um irmão? Bem, então não serás envergonhado jamais, porque nunca te chegará um tempo quando te deixes perecer através da pressão das tribulações, ou quando permita que sejas destruído pela força das tentações.
Além disso, um Cristão teria motivos de ser envergonhado se as promessas de Cristo não fossem cumpridas. São muito ricas e muito plenas, e há muitíssimas delas, e se eu tomo estas promessas e atuo segundo a Palavra de Deus, e logo, depois de tudo, encontro que a promessa é um mero papel de refugo; se o Senhor rompesse o Seu próprio juramento, então eu seria envergonhado por ter acreditado num Deus infiel! Mas, quando será isso? Cristão, ainda não te chegou esse tempo? Tens visto promessas aplicadas com poder ao teu coração, e as tens levado a Deus em oração. Permite-me apelar à tua experiência. Não têm sido cumpridas, além da tua expectativa ou da tua fé? Não tem feito Deus por ti, coisas extremamente abundantes, que ultrapassam o que possas pedir ou pensar?
E, todavia, nesta manhã talvez tenhas medo de que a Sua promessa não seja cumprida! Estás a assistir aqui com um espírito abatido, tiveste tantos problemas durante a semana que realmente começas a estar envergonhado por teres confiando em Deus. Envergonha-te de ti mesmo por estares envergonhado! Mas, podes estar seguro de que a tua confiança não é algo de que devas envergonhar-te. Mas, oh meus irmãos, quão envergonhado estaria o cristão se quando chegasse ao momento da morte não encontrasse apoio, não visse a qualquer anjo amável junto ao seu leito, ou que algum Salvador lhe sustentasse a sua cabeça ao alto, no meio das ondas! Mas, ouviste alguma vez de algum cristão que se envergonhasse na hora da sua morte? Não é antes pelo contrário, mais exatamente, o claro testemunho de todos os que partiram que os seus últimos momentos foram dourados com a luz do sol do Céu?
Não cantaram nos seus leitos de morte, com Davi: "Sim, ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque Tu estás comigo; a Tua vara e o Teu cajado me consolam?” Se, na verdade, pudéssemos despertar na ressurreição e descobrir-nos sem um Salvador; se pudéssemos estar no tribunal de Deus e descobrir que o sangue de Cristo não nos tivesse limpo; se, depois de toda a nossa fé nEle O ouvíssemos dizer: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno", então poderíamos ser envergonhados! Porém, o nosso texto assegura-nos que nunca teremos de sofrer isso. Então podemos apoiar-nos plenamente sobre este doce consolo: que tendo crido em Cristo nunca nos veremos na necessidade de nos envergonharmos da nossa esperança, nem nesta vida, nem na vida vindoura.

2. Tendo notado quando o cristão poderia ser envergonhado, notemos por que poderia ser envergonhado se tais coisas se dessem. Algumas vezes pensei, queridos Amigos, que em algum sentido, se se chegasse a demonstrar que a Bíblia é falsa, nunca me veria envergonhado por ter acreditado nela. Se não houvesse um Salvador, penso que quando estivesse diante do trono de Deus não seria envergonhado por ter crido no Evangelho, porque, parece-me que poderia atrever-me a dizer inclusive ao Deus eterno: "Grandioso Deus, eu acreditei isso de Ti, o que refletia a mais excelsa honra sobre o Teu caráter; cri em Ti que eras capaz de um grandioso ato de graça: a entrega do Teu próprio Filho; cri que eras tão justo que não perdoarias sem um castigo e, todavia, tão misericordioso que preferirias entregar o Teu Filho a não teres misericórdia dos homens.
Cri de Ti coisas mais excelsas que as que creram os judeus, ou os muçulmanos ou os pagãos, e a minha alma amou-Te por isso, na verdade; eu, com efeito, preguei aquilo que pensei que honraria o Teu nome, e agora que resulta ser um equívoco, não me vejo envergonhado por haver crido, pois era algo que deveria de ter sido verdadeiro, que a Tua natureza e Teu caráter faziam provável que fosse verdade, e lamento ao ver que não o é, mas, não estou envergonhado!. Queria que tivesse sido certo; isso far-te-ia mais glorioso, do que o és, grande Deus."
Amados, não estamos sob nenhuma apreensão de que isto aconteça, 'porque sabemos a quem temos crido, e estamos seguros que é poderoso para guardar o nosso depósito.' Por que se envergonharia um cristão se o Evangelho fosse falso? Deveríamos envergonhar-nos, antes de mais nada, porque aventuramos o nosso tudo na Sua Verdade. Arriscamos o nosso tudo em Cristo. O mundo diz que não se deve pôr nunca todos os nossos ovos numa só cesta; e quando um homem especula numa só coisa, e todo se derruba, a gente sábia eleva a sua cabeça e diz: "Ah!, é muito imprudente, é muito imprudente; é melhor teres três ou quatro cordas para o teu arco; não deves depender de uma só coisa".
O mundo está muito no certo nas coisas humanas. Mas, aqui estamos nós, pondo toda a nossa dependência num homem; a minh’alma não tem qualquer sombra de esperança em nenhuma outra parte exceto em Cristo, e eu sei que os vossos espíritos não têm nem sequer a sombra de um fantasma de dependência em nenhuma outra parte, exceto no sangue e na justiça desse divino Redentor, que consumou a nossa salvação e subiu ao alto. Se pudesse falhar-nos, então todas as nossas esperanças se teriam desvanecido, e seríamos os mais dignos de comiseração de todos os homens; se a nossa esperança resultasse ser um engano, seríamos na verdade néscios, e teríamos razão de nos vermos envergonhados pela nossa esperança.
Além disso, seríamos envergonhados porque renunciamos a esta vida pela vindoura; crendo no mundo vindouro, havemos dito: "este não é o nosso repouso; não temos aqui uma cidade permanente". O provérbio do mundo reza: "Mais vale um pássaro na mão do que cem voando"; mas nós, por outro lado, havemos dito que o pássaro na mão não é nada absolutamente, que os cem pássaros voando são tudo. A nossa alma diz: "Sorte! Não a esperamos aqui, é lá que a sorte tem de ser encontrada". "Riqueza! Ninguém é rico na terra, as riquezas estão no Céu, o verdadeiro tesouro está na Glória". "Amor! O amor não encontra um objeto apropriado aqui; o nosso afeto está posto nas coisas de cima, onde Cristo mora à mão direita de Deus".
Agora, se as coisas resultassem mal, e tivéssemos crido em vão, então seríamos envergonhados pela nossa esperança, mas não até então! Não até então, amados! E isso não acontecerá nunca! Sabemos em quem acreditamos, e temos confiança que ao renunciarmos a esta terra, só renunciamos a um punhado de cinzas, para podermos gozar das riquezas e da Glória para sempre. Além disso, se Cristo nos falhasse, seríamos envergonhados porque começamos jactando-nos antes de ter terminado a batalha. "No Senhor se glorificará a minha alma".
Espero que digais, queridos Amigos, que ainda que não tenhais entrado no Céu, e ainda não vissem a Cristo cara a cara, aprendestes a glorificar-se na cruz de Cristo, e ninguém foi capaz de detê-los na vossa exaltação. Tens-te glorificado-te em Cristo! Tens dito que Ele é um Alicerce seguro, que Ele é um precioso Esposo, que Ele é Tudo em Tudo para ti e digno do teu melhor amor! Mas, se Ele te falhasse, então estarias na posição de um homem que se gabou antes de tempo. Porém, nós nunca seremos envergonhados; fazemos bem em jactarmo-nos à boca cheia. Glorifiquemo-nos em Cristo. Mas oh!, se Ele nos falhasse —coisa que Ele nunca fará—- então nós seríamos, na verdade, envergonhados!
Além disso, temos feito algo mais de que jactarmo-nos! Vocês e eu, na realidade, dividimos o saque! E, oh!, se a batalha se perdesse, então seríamos envergonhados! Disseram-nos de que numa das grandes batalha do continente europeu em tempos antigos, os franceses, antes de que se iniciasse a batalha, começaram a vender os cativos ingleses entre eles, e calculavam quanto do despojo de guerra corresponderia a cada soldado; porém, felizmente, nunca conseguiram a vitória. Mas vós e eu já temos entrado no nosso descanso; recebemos o selo da nossa herança; temos começado, inclusive na Terra, a comer os cachos de Escol. E se tudo fosse um engano, seríamos envergonhados, mas não até então. Valor, queridos Amigos! Podemos prosseguir valorosamente, dividindo ainda o espólio; pois como Cristo é veraz e Deus é fiel, não haverá razão para sermos envergonhados.
Conheci algumas pessoas que são envergonhadas por terem feito uma má especulação, porque induziram outros a arriscar-se nela; foram mais envergonhadas ao dar a cara aos seus amigos que perderam dinheiro, do que foram por reconhecer que elas mesmas também perderam. Vós e eu temos estado induzindo outros a embarcar-se nesta grandiosa aventura; ensinamos a outros a crer em Cristo; e alguns de nós escassamente passamos um dia sem ganhar outras almas para terem confiança em Cristo. Oh, temos uma doce segurança de que não pregamos fábulas astutamente idealizadas e de que nunca seremos envergonhados.

3. Tenho de anelar a vossa paciência só por um momento mais, enquanto prossigo agora, a mencionar quem são aqueles que nunca serão envergonhados? A resposta é geral e especial. O texto diz: "todo aquele que crer", ou seja, qualquer homem que tenha vivido, ou que viva, que creia em Cristo, não será envergonhado. Se tens sido um pecador descarado ou um moralista; se és educado ou iletrado; se és um príncipe ou um mendigo, não importa: "todo aquele que crer em Cristo, não será envergonhado". Tu, homem, que estás mais longe, ainda que raramente venhas à Casa de Deus, mas se crês em Cristo hoje, jamais serás envergonhado por causa dEle. Vós, que tendes assistido na Casa de Deus durante anos, e se vos sentis culpados por terdes rejeitado a Cristo, se confiardes nEle agora, não sereis envergonhados.
Mas há uma particularidade, que é, "todo aquele que crer". Os outros serão envergonhados. Tem de haver uma fé real e sentida; tem de haver uma confiança simples na Pessoa e na obra de Jesus: sempre que está presente essa confiança, não haverá vergonha. "Ah!", diz alguém, "mas eu tenho tão pouca fé; tenho medo de que serei confundido". Não, tu estás sob a condição: "todo aquele"; "que crer", ainda que a sua fé seja muito pouca, nunca será envergonhado. "Ah!", diz outro, "mas eu tenho muitas dúvidas". Mesmo assim, querido coração, posto que tu crês, não serás envergonhado; todas as tuas dúvidas e todos os teus medos jamais te condenarão, pois a tua fé há de prevalecer.

"Oh! Mas", diz alguém mais, "a minha corrupção é muito forte; assisti esta manhã lamentando-me devido às minhas imperfeições; elas alcançaram o controle da minha fé, e eu tenho caído durante a semana". Sim, alma, tão completamente caída como estás, se tu crês, nunca serás envergonhada. Olha-te o pecado na cara? Sentes-te muito abatido sob o sentido da tua própria indignidade? Atreve-te a crer em Cristo tal como és, com pecados e tudo: aventura-te a crer nEle sem nenhuma outra confiança. Quando as perspectivas são escuras e as graças mortas, quando as evidências são negras, quando tudo te mostra desagrado e como uma maldição, atreve-te a crer nEle!
Toma-o agora para que seja teu amigo quando não contas com nenhum amigo! Foge agora para este Refúgio quando toda a outra porta está fechada! Agora que o inverno congelou toda corrente, vêem agora e bebe agora desta corrente que flui para sempre; este poço de Belém que está dentro da porta, que não pode falhar-lhe nunca; e não necessitas de pôr a sua vida em perigo para alcançá-lo, é livre para ti, neste instante! Agacha-te e bebe confidencialmente! Agacha-te e bebe e não terás mais sede; pois "todo aquele que crer nEle, não será envergonhado".

4. Para concluir, o texto significa mais do que diz; pois se bem que é certo que diz que não será envergonhado, significa além disso que será glorificado e cheio de honra. Se tu confias em Cristo hoje, isso trazer-te-á a vergonha dos homens, assegurar-te-á tribulações e aflições, mas também te garantirá honra aos olhos dos santos anjos de Deus e Glória, no fim, aos olhos do universo reunido! Onde está o homem que confia em Cristo, hoje? Ali está ele no pelourinho, e os homens dizem: "Ah! Oh! O néscio! O néscio! O néscio! Confia em Deus, a quem não pode ver! Crê num Cristo de quem ouvimos mas que nunca nos falou! Confia no sangue de um galileu crucificado!
O mundano grita: "Nós somos muito sábios para isso; nós vamos crer em teorias geológicas, no espiritualismo ou na metafísica; vamos crer no próprio diabo antes que crer em Cristo!" Assim eles ridicularizam o homem que confia em Cristo. A cena é mudada, a geração dos vivos partiu, e o mundo converteu-se num grande cemitério. Ali jazem.
Inumeráveis montículos indicam onde estão dormindo os corpos dos homens. A trombeta toca, soa claramente através do Céu e da Terra, e das tumbas sobem os corpos que uma vez foram alimento do verme, e as almas retornam a esses esqueletos: e agora, onde está o homem que confiou em Cristo?
A trombeta a todos tem despertado da suas tumbas e juntos despertam: "Onde está o homem que confiou em Cristo?" Quem é o que pergunta por ele? O próprio Rei no trono tem feito a pergunta! O Rei Jesus, sentado no Seu tribunal, busca o Seu amigo: "Onde está o homem que confiou em Mim? Tragam-no aqui". Vejam a mudança, agora não há vaias, nem gritaria, nem risadas, nem calúnia! Um esquadrão triunfante de espíritos resplandecentes transporta o crente à mão direita de Jesus, e ali se senta entronizado como Cristo, sentado com Ele para julgar os homens e os anjos, reinando sobre o Trono de Cristo em todo o esplendor de Cristo!

"Assim se fará ao homem a quem o rei deseja honrar," assim se fará ao varão que põe a sua confiança em Cristo! Vamos, cristão, sem importar qual seja o teu estado hoje, sem importar como ressoe nos teus ouvidos a zombaria do mundo, pensa nessa honra obstinada que a turba de pecadores terá de te render no Último Grande Dia! Pensa em como a tua fama e a tua reputação se levantarão conjuntamente com os teus ossos! E assim como os vermes não podem devorar o teu corpo para impedir a tua ressurreição, tampouco a calúnia nem a censura devorarão o teu caráter para impedir a tua ressurreição, também! A Glória será tua, a Glória eterna, enquanto que os teus inimigos serão revestidos de vergonha e desprezo eternos!

Bem, o que dizeis vós, queridos Ouvintes? De que lado estais esta manhã? É Cristo uma pedra de tropeço para vós? Prosseguireis tropeçando nEle e objetando-Lhe? Dizeis, antes: "Não, queremos ter a Cristo e confiar nEle." Oh, se o Senhor vos tem conduzido até esse ponto, aplaudirei de gozo! E vós, vós anjos, tocai as vossas harpas! Vós serafins! Afinai de novo as vossas liras; pois há gozo no Céu como há gozo na Terra quando uma alma chega a pôr a sua confiança em Cristo. Que o Senhor nos conduza a cada um de nós a fazê-lo, para glória do Seu Nome. Ámem. Ámem.

Fonte: http://www.charleshaddonspurgeon.com/

O Que Devemos Buscar? - Jonathan Edwards

O fim supremo exigido das criaturas morais é o fim supremo da criação



O que a Palavra de Deus requer que as partes inteligentes e morais do mundo busquem como fim supremo e transcendente pode ser considerado legitimamente o fim último para o qual Deus as criou e, o fim último para o qual ele criou o mundo inteiro.
Uma das principais diferenças entre as partes inteligentes e morais e o restante do mundo se encontra nisto: as primeiras são capazes de conhecer o seu Criador e o fim para o qual ele as criou e são capazes de aquiescer ativamente ao intento divino na sua criação e de levar esse propósito adiante, enquanto as outras criaturas só são capazes de levar adiante o propósito para o qual foram criadas de modo passivo e eventual.
E, tendo em vista que elas são capazes de conhecer o fim para o qual seu autor as criou, certamente é seu dever cumprir esse fim. A vontade delas deve ceder à vontade do Criador, buscando acima de tudo aquilo que é o fim último delas, aquilo que Deus busca acima de tudo como o fim último delas. Essa deve ser a lei da natureza e da razão em relação a elas.


E devemos supor que a lei revelada de Deus e a lei da natureza concordam entre si, e que a sua vontade como legislador deve concordar com a sua vontade como Criador. Logo, podemos deduzir devidamente que o que a lei revelada de Deus requer que as criaturas inteligentes busquem como o seu fim último e máximo é o que Deus, o seu Criador, determinou como fim último dessas criaturas e, portanto, [é] o fim da criação do mundo.

Fonte:http://www.jonathanedwards.com.br/

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Propósito da Igreja, Qual É?




Estima-se que hoje, no Brasil, a maioria das igrejas locais possui menos de 200 membros. Diante disto, perguntamos: seriam essas igrejas fracassadas?


Por: Jorge Henrique Barro


O que caracteriza hoje no Brasil uma igreja bem-sucedida? Quais os critérios para medir o sucesso de uma igreja? Quais os parâmetros para avaliar quão perto está de seus verdadeiros propósitos?


Perguntando a um líder sobre sua igreja, ele respondeu: "nossa igreja está maravilhosa, já temos mais de 1.000 membros, várias congregações, uma boa equipe pastoral e quatro grupos de louvor". Entretanto, estima-se que hoje, no Brasil, a maioria das igrejas locais possui menos de 200 membros. Diante disto, perguntamos: seriam essas igrejas fracassadas?


A resposta acima não trata do que realmente caracteriza a essência do propósito da igreja. Isto nos leva ainda a outra questão: pode uma igreja desenvolver-se com maus propósitos? A resposta é sim! As cartas às sete igrejas do livro do Apocalipse revelam o sonoro sim de comunidades cheias de maus propósitos. Estes maus propósitos foram tão perceptíveis aos olhos de Jesus que Ele não deixou de questioná-los.
Obviamente, se perguntarem aos pastores se suas igrejas possuem maus propósitos, quais de nós teríamos a lucidez e a coragem de dizer sim? A questão é que aos olhos de Jesus, a perspectiva pode ser outra. Não existe justificava que resista ao seu olhar.


Ele conhece e sabe. Mas conhece e sabe exatamente o que sobre a nossa igreja? Eis a questão! Perceba desde o início que o problema de Jesus com elas não está necessariamente naquilo que fazemos (atividades e programas), mas no como fazemos. Esse como tem a ver com motivação. Para frustração de alguns, é especialmente isto que Jesus conhece e sabe! Só Ele tem a capacidade de ver o invisível, perceber aquilo que escondemos, de adentrar o coração humano. Jesus conhece e sabe os verdadeiros motivos que nos levam a fazer o que fazemos e a ser o que somos.


Nem tudo o que a igreja faz tem intenção missionária. É possível realizar a obra de Deus com intenções impuras. É possível realizar a obra de Deus com maus propósitos. Quer seja de forma consciente ou inconsciente, é muito possível.


É crucial para o povo de Deus e sua liderança voltar os olhos para a eclesiologia de Jesus contida nas sete cartas das Igrejas do Apocalipse. As palavras de condenação e encorajamento são indispensáveis para que possamos olhar e ler nossas comunidades hoje. Se algo aborrecia Jesus no passado, isso não continuaria a aborrecê-lo também hoje? Se algumas igrejas do passado receberam advertência explícita por suas práticas, não deveríamos também fixar os olhos nesses exemplos para não cairmos nas mesmas condenações?

Precisamos saber o que deixa Jesus aborrecido em nossas igrejas e descobrir se existe em nós motivos impuros na ação comunitária e na ação pastoral. Nenhum de nós gostaria que o julgamento de Jesus nos visitasse em um domingo à noite, em pleno culto. Se algo desagrada Jesus e provoca sua indignação e náusea, eu, como pastor ou membro da igreja, quero ser o primeiro a dizer: estou fora! É nosso dever compreender esses maus propósitos que provocam a ira de Jesus sobre a igreja. As palavras de Cristo, porém, não se limitam à condenação. O Senhor declara os propósitos essenciais de sua igreja.


E falando em propósito da igreja, qual é o da sua?


Jorge Henrique Barro é diretor da faculdade teológica sul americana (FTSA), em Londrina (PR). É doutor em estudos interculturais pelo Fuller Theological Seminary, Califórnia, EUA.

Fonte: http://www.mundocristao.com.br/

O Cuidaddo com as Ovelhas!


A FUNÇÃO PASTORAL NO CONTEXTO BÍBLICO



A função pastoral, sob o ponto de vista bíblico, é exercida pela característica marcante de Cristo: o Amor. O apóstolo Pedro delineou essa característica em sua epístola ao descrever no termo imperativo a função pastoral: “apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho”


A Escritura Sagrada quando descreve a função pastoral também enfatiza a possibilidade do Ministro desempenhar a função pastoral numa perspectiva oposta a de Cristo.


O texto bíblico, para descrever a oposição a Cristo na função pastoral, cunha um termo carregado de significações em relação a um animal universalmente conhecido no Oriente (rejeição, desprezo, impuro, odiado, etc...): o Cão [sig. gr. kyon]. No sentido metafórico, o termo aparece nos seguintes textos (a conotação é de impureza moral na função pastoral):


Is 56.10-12: “Todos os seus atalaias são cegos, nada sabem; todos são cães mudos, não podem ladrar; andam adormecidos, estão deitados e amam o tosquenejar. E estes cães são gulosos, não se podem fartar; e eles são pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um por sua parte. Vinde, dizem eles, traremos vinho e beberemos bebida forte; e o dia de amanhã será como este e ainda maior e mais famoso”.


Fp 3.2: “Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão!”.


No texto de Apocalipse o Senhor Jesus demonstra a equiparação de feiticeiro, homicida, mentiroso, idólatra e a prostituição à categoria de Cães:


Ap 22.15: “Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira”.


O texto de Isaías enfatiza que a classe que liderava o povo estava vivendo uma profunda crise de moralidade. Em Filipenses os falsos obreiros não se contentavam com o absoluto Evangelho da Graça. E em Apocalipse o Senhor Jesus sentencia os que se encontram nessas características.
Os textos acima denotam o perigo que se encontram os líderes que perdem o foco de seu ministério, ao invés de gastarem suas vidas apascentando as ovelhas, gastam-na enriquecendo-se da “lã”, da “gordura” e de todas as “vantagens” que as ovelhas podem proporcionar ao seu ministério.


Embasado no ensino apostólico de Pedro, John Macarthur, Jr. na obra “Ministério Pastoral, alcançando a excelência no ministério cristão” [Rio de Janeiro, CPAD, 2004, p.47] exorta duas características que o Pastor não deve ter: Má Vontade e Torpe Ganância. O pastor deve evitar o trabalho de má vontade.
O exercício do pastorado deve ser voluntário, espontâneo e consciente. A preguiça está ligada à má vontade, onde o pastor sofre a tentação de deixar-se levar em seu ministério para fazer somente aquilo que se sentir pressionado a fazer. Sobre a outra característica John Macarthur Jr aconselha:


“[...] evitar a obra do ministério por torpe ganância [grifo nosso]: “De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem a veste”, afirmou Paulo aos presbíteros de efésios (At 20.33). “Ninguém pode servir a dois senhores”, declarou Jesus, “porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom” (Mt 6.24). Isso é verdadeiro com relação aos pastores, dos quais Deus exige que não sejam cobiçosos de torpe ganância (1 Tm 3.3). São os falsos profetas que se empenham na busca frenética do lucro monetário ( veja Is 56.11; Jr 6.13; Mq 3.11; 2 Pe 2.3).


[...] O errado é permitir que o lucro financeiro seja a motivação para o ministério.


Isso produz não apenas líderes falsos e ineficientes, como também degrada o ministério aos olhos do mundo [grifo nosso]. [...] O homem humilde, dedicado ao pastoreio das almas que Deus confiou aos seus cuidados, alcançará a incorruptível coroa de glória quando aparecer o Sumo Pastor (1 Pe 5.4)”[2].
O contexto atual que cerca o exercício do ministério pastoral urge que os pastores sejam homens desinteressados do lucro, da fama, do poder, do status quo, do espetáculo, mas estejam devidamente interessados nas pessoas e na proclamação do evangelho no mundo, a fim de que a mensagem seja acompanhada com a devida ação do Espírito e o propósito sincero de representar o interesse de Cristo em todas as esferas do seu ministério.


Reflexão: “e, por avareza, farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita” (2Pe 2.3).

Fonte: http://encontrobiblia.blogspot.com/