A tentativa de tornar o evangelho aceitável aos homens já é em si errada. Diz-nos a Bíblia que o homem está num estado de pecado, que o homem está cego, cegado pelo deus deste mundo, que "a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser" (Romanos 8:7), que "o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1 Coríntios 2:14). Essa tendência moderna esquece tudo isso. A idéia de que você pode tomar o evangelho e, por causa do conhecimento moderno, apresentá-lo de tal modo que vai ser mais fácil ao homem moderno crer nele, é uma negação do evangelho. "O escândalo da cruz" (Gaiatas 5:11) desapareceu, o escândalo do cristianismo evaporou-se, a "loucura" da pregação ou da mensagem pregada não é mais verdadeira. Está completamente errado.
Deixem-me, porém, acrescentar isto: é também tolo demais. Se eu preciso do conhecimento moderno para me ajudar a crer na Bíblia, como é que as pessoas criam nela no passado? Se eu tenho que apoiar-me na microfísica e dar graças a Deus por ela porque agora ela me torna fácil crer no evangelho, que dizer das pessoas que aceitavam as teorias de Isaac Newton? Noutras palavras, se vocês usarem essa atitude moderna como teste da história, verão que imediatamente a coisa toda se torna ridícula.
Eis mais uma razão: não há nada mais perigoso do que ser dirigido pelo conhecimento moderno. Por quê? Porque o que é conhecimento moderno hoje, será obsoleto amanhã, ou pelo menos em dez anos, ou certamente dentro de cinqüenta anos. Onde estão os "resultados seguros" da Alta Crítica contra a qual o Dr. Campbell Morgan teve que lutar quando estava aqui, antes da Primeira Guerra Mundial? Tantos deles esvairam-se no ar. Não se têm "resultados seguros". Nada é tão precário como basear qualquer parte da sua posição no conhecimento moderno ou na ciência moderna. De igual modo, nada é tão perigoso como a tendência moderna de confundir teorias e fatos.
Finalmente, considerem isto: o moderno evangélico conservador que pensa segundo essas linhas, faz isso porque quer conquistar pessoas para o evangelho. Mas, considerem o que diz um escritor americano, chamado Hordern, escrevendo em 1959, na obra, The Case for a New Reformation Theology (Argumentação em prol de uma Teologia da Nova Reforma). Ele não é um evangélico conservador; ele esposa o que denominou teologia da "nova reforma". Diz ele: "A nova teologia conservadora de hoje, em seu desejo de ser atualizada, intelectual e relevante, corre o grave perigo de conformar-se demasiado estreitamente à era moderna para poder levar uma palavra a essa era". O que ele quer dizer é que você pode modificar tanto a sua mensagem, a sua crença ou o seu método, que o homem que você está querendo conquistar para Cristo diz: bem, não vejo muita diferença entre o que você está dizendo e o que eu já cria. Você não será mais capaz de ajudá-lo. Em seu desejo e anseio exagerado de ajudá-lo, você está frustrando o seu próprio esforço e empenho.
Estaria eu querendo dizer com isso que não há nenhum lugar para a apologética? Não, mas é vital que compreendamos exatamente qual é o lugar da apologética. Ei-lo: a principal tarefa da apologética é dar apoio à fé do crente. Ela não o torna crente, porém o ajuda a manter e firmar a sua fé. A função da apologética é mostrar o erro e a completa insuficiência de todos os outros conceitos alheios ao conceito bíblico. A apologética, o uso do conhecimento moderno, é excelente como introdução do sermão, mas não deve ir além disso. É muito boa no trabalho de demolição, contudo não ajuda na construção. Ajuda a derribar o velho edifício, mas não ajuda a erigir o novo. Jamais pode levar alguém à salvação. Seja qual for o uso que se faça do conhecimento moderno, da argumentação moderna, ou de quaisquer outros implementos e armas carnais, jamais levará alguém à fé em Cristo.
Fonte: http://www.martynlloyd-jones.com/
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