Como na parábola que nos contavam quando crianças, os reis continuam nus.
Reis, como os que estão investidos de autoridade, ou da presunção de, com seguidores e subalternos.
É difícil para quem está por cima, ouvir com ouvidos de se ouvir, os que estão em outro patamar, mesmo que seja só no juízo desse superior. Vale a ideia do"quanto mais alto, mais distante para se ouvir".
Há o pressuposto no coração do "superior", a premissa que é inatingível, que é infalível ou, se o é, não é tão fácil assim de isso vir a acontecer, a não ser por uma hipotética e distante possibilidade, imaginam eles.
Eu me tenho cansado de tentar corrigir, ou argumentar ou sequer, chamar a atenção de alguns, mesmo que muito amados. Deve ser isso, precisamente o que se passa no coração de Deus, ao lidar com esses.
Há um tempo atrás, querendo eu escrever a um amado pastor e chamar a sua atenção - com muito cuidado para não me arvorar em alguém maior, mas com a sinceridade de quem ama e vê o amigo naufragar, fui alertado por outro, a quem compartilhei o peso de tão grande tarefa. que não devia fazê-lo. "Nem tente sequer, Rubinho. Ele anda tão alto em si mesmo, que ainda há de zangar-se com você e nem vai chegar ao meio do escrito, quanto mais refletir sobre isso. Simplesmente ore por ele", disse-me.
E assim fiz.
O rei, nú, bebe da verdade que "nada é pior que o sucesso, pra além da aparência dele". Por terem esses, o bilau pequeno, sei lá..., recusam-se a enxergar a verdade (Freud explica...)
Ao portarem assim, crêem cuidar da reputação - o que deles se pode enxergar - descuidando daquilo que os anjos, e os céus dizem a seu respeito.
Achamos que temos, que somos, que estamos (e não nos falta sempre aqueles para nos lembrar disso) e os nossos ouvidos fecham-se em si mesmos. E todos continuam a assistir o, cada dia mais, patético desfile de alguém vestido por uma roupa tecida de vaidade, narcisismo ou de bajulação e endeusamento, feito por costureiros da idolatria.
Se esse lacre está na baixa qualidade (intelectual, cultural, até bíblica) dos subalternos, qualquer argumento, por mais idiota e falso que seja, vale.
Se ele está na qualidade - muito superior - de raciocínio e verborragia - do rei, vende-se até, como dizemos em Minas, "rancho-pegando-fogo". O problema é que, depois de um tempo de discussão - quase sempre acalorada - mesmo que todos acabam por concordar com o rei, nu ainda, o que resta é um amargo gosto de manipulação e de terem sido usados, ainda que todos tenham acabado por concordar pelo esgotar dos argumentos.
Os reis continuam nus. A mídia, o poder público, os políticos, os doutores de toda espécie, os pais, maridos, esposas, filhos rebeldes, os pastores (os apóstolos, ai,... os apóstolos...) e até os amigos, empoleirados no alto dos seus orgulhos-feitos-roupa-sob-medida.
Mas há um preço terrível por andar-se nu, para além da própria vergonha. Há a visão implacável do Justo Juiz, diante da qual, homem algum consegue esconder-se.
Em Romanos no capítulo 1, Paulo discorre com veemência contra os reis. Contra aqueles que teimam em andar desnudos. Deus os entrega às suas insistentes vontades de andarem assim.
E o preço está lá: a própria destruição.
E destes, o Onipresente Deus passa longe.
Peço a Deus que nunca me faltem os amigos. Os sinceros e corajosos. E que ainda nem precisem de tanta força assim para dizer o que tenho de ouvir.
Mas que não me falte também, o mesmo coração de Davi, um rei que, nu, ao ouvir de um subalterno a correção (ainda que à custa de uma parábola sobre um vizinho assassino e ladrão), não hesitou em dizer (e assumir): "este, sou eu".
E foi chamado pelo alto de "Homem segundo o coração de Deus"!
"Perto está o SENHOR dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito." Salmos 34:18
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